Cegueira ambiental

Somos predadores de nós mesmos. Colocamos a ganância e a ambição a frente de nosso instinto de sobrevivência. Escravos do capital e cegos pelo vislumbre do lucro, ignoramos a catástrofe que se molda a olhos vistos. A Amazônia, maior celeiro de biodiversidade do planeta e imensa fonte de carbono, está perto do ponto de ruptura. Pelo menos 17% deste bioma virou pasto, e o risco de savanização impõe-se sobre nós como faca no pescoço. Se a Amazônia virar cerrado, mas um cerrado de solo pobre e degradado, os chamados “rios aéreos”, que garantem as chuvas em todo o Brasil, deixarão de existir. Mas, também, estarão extintas árvores seculares, como a gigante samaúma e a imponente castanheira. Além disso, potenciais ferramentas de cura para graves doenças tendem a desaparecer por todo o sempre. Sem contar a inestimável riqueza de fauna e flora, fadada a ficar restrita a capítulos de livros científicos. Testamento de nossa sandice burra e inconsequente.

Impossível também ficar impassivo ante as labaredas que têm consumido o Pantanal, potencializadas pela estiagem que secou banhados e criou armadilha para os animais. Na região de Porto Jofre (MT), o símbolo de nossa fauna está condenado. Um parque com a maior concentração de onças-pintadas do Brasil foi devastado. Uma tragédia que se abate sobre o grande felino, em extinção. As imagens de carcaças de animais carbonizados e de outros espécimes feridos são de cortar o coração e um convite à reflexão. Que legado ambiental deixaremos aos nossos filhos e netos? Seguiremos surdos para a ciência e seus alertas sobre efeitos catastróficos do negacionismo? Qual futuro climático forjamos em troca de dinheiro? Será tão difícil perceber que o desenvolvimento pode ser aliado da sustentabilidade, sem ação predatória? Em vez de alegarmos que queimadas existem em todos os países e que outras nações condenam o Brasil porque já ceifaram suas florestas, não seria mais prudente adotarmos políticas ambientais corajosas?

Temos desprezado a chance de sermos modelo em preservação e de resguardarmos às próximas gerações uma riqueza ambiental acima de qualquer dinheiro no mundo. Temos caminhado ao precipício sem venda nos olhos, ignorando dados científicos em detrimento de crenças ultrapassadas.

Encerro este artigo com um texto que circula na internet e que teria sido retirado de uma carta do cacique Seattle (1786-1866) ao então presidente dos EUA, Franklin Pierce. Há controvérsias até mesmo sobre a existência da carta. De qualquer forma, a peça é convite para reflexão. “Quando a última árvore tiver caído, quando o último rio tiver secado, quando o último peixe for pescado, vocês vão entender que dinheiro não se come.”

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