CORONAVÍRUS

A cura está no respeito

''Com todos os cuidados, distanciamento e uso de máscara, peguei o vírus. E estar à prova dele, com o corpo em combate, só me torna ainda mais firme na única posição possível neste momento''

Testei positivo. Entrei para uma lista que soma mais de 32 milhões de pessoas com covid-19 no planeta. Ou seja, sozinha não me sinto. Estou bem. Também estou serena. E, acima de tudo, consciente de minhas responsabilidades, do meu compromisso com o próximo e da minha solidariedade, do meu respeito com todos os que, há sete meses, estão na linha de frente do combate à doença. E aos que, como eu, saíram e saem todos os dias para trabalhar, mesmo quando as medidas de isolamento eram mais severas.

Com todos os cuidados, distanciamento e uso de máscara, peguei o vírus. E estar à prova dele, com o corpo em combate, só me torna ainda mais firme na única posição possível neste momento. Estou num lugar de empatia com o mundo; com o outro. Não há casa mais confortável do que a partilhada. Sou parte de um todo, de um conjunto que alguns preferem chamar de infectados, de rebanho, de imunizados — ainda que sejam nomes figurativos para classificar quem tem ou teve covid.

Sou um número, sou uma palavra, mas sou, também, acima de tudo, uma pessoa que respeita. Desde o início, o compromisso com a informação não me permite ignorar a ciência. Respeito as medidas de proteção e prevenção. Respeito médicos, enfermeiros, auxiliares, policiais, bombeiros, motoristas... Tantos são essenciais... Respeito os doentes e os enlutados. Desde sempre, comungo de uma genuína irmandade, manifestada em prece e sentimento, com todos aqueles que perderam parentes próximos e lutaram contra a doença. Respeito o poder do vírus, que já marcou o ano de 2020 e todos os outros anos que virão daqui para frente. Ao menos, para mim, que nunca ignorei os riscos.

Hoje, tenho muitas reservas, em especial aos governantes e aos falsos cidadãos. As meias-verdades, as frases de efeito, a manipulação dos números, a submissão ao sistema que oprime, o roubo descarado do dinheiro público, a falta de direção do governo federal, a mesquinhez do mercado, o negacionismo, as fake news, o crime de omissão eterna contra o meio ambiente... São tantas as coisas que me causam hoje asco e repugnância.

O coronavírus não foi, não é e nunca terá sido uma “gripezinha”. A pandemia não passou, não é passado. É presente e será futuro. Podemos conseguir uma imunidade maior, podemos liberar leitos nos hospitais, podemos ver caindo as mortes, podemos voltar a ter carnaval e fogos no réveillon.

Mas, ainda assim, as consequências da pandemia já são um legado para o mundo. Saudades, falências, crises pessoais e profissionais, desemprego, depressão e tantas outras experiências difíceis. Uma nova ordem mundial se avizinha. A cura que eu espero e que eu avisto, para mim e para o mundo, passa por respeito. Conto, também, com suas preces.