Inspiração no Sol

Rodrigo Craveiro
postado em 06/10/2020 21:48

O som do saxofone, ao fundo, confere uma atmosfera idílica, enquanto o céu, aos poucos, torna-se alaranjado, ao cair da tarde. Pai, mãe e filhos contemplam, embevecidos, o espetáculo gratuito que se descortina adiante. Famílias reunidas e sentadas sobre lençóis, no chão, trocam gargalhadas, fazem selfies ao pôr do sol e festejam o bem querer, distribuídas pela amplidão do gramado, algo tão comum em nossa Brasília. Todos os dias, por volta das 18h, a cena tem se repetido ao lado da Praça do Cruzeiro, no Eixo Monumental. Um dos lugares mais incríveis da capital, junto à Ponte JK e à Ermida Dom Bosco, para se curtir o crepúsculo.

Com todos os cuidados, é possível celebrar a vida e a esperança de dias melhores, sem perder a capacidade de guardar e expressar empatia por quem precisou enterrar às pressas um ente querido ou por quem se vê obrigado a lidar com uma doença nova e imprevisível. A pandemia continua aí e não distingue ricos de pobres. Nos últimos dias, a covid-19 tem tentado ensinar ao presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que o negacionismo e a manipulação política têm seu preço. Atos de irresponsabilidade, como o demonstrado pelo próprio Trump, ao deixar o hospital por alguns minutos para fazer proselitismo eleitoral, colocam em risco a vida de outras pessoas.

Em meio a tanta angústia e incerteza, buscar a leveza no pôr do sol e apreciar o céu de Brasília, o nosso mar (com orgulho), funciona quase que como uma higiene mental. O ano 2020 entra para a história como ano de provações (e privações), de dor, de solidão, de medo e de sofrimento. Mas, também, de aprendizado, de reencontro com o nosso lado mais humano. Cabe a cada um de nós ressignificar a vida, como escrevi no artigo da semana passada. Cabe a cada um de nós buscar aconchego no valor às pequenas coisas. Cabe a cada um procurar a força do sol, que se recolhe ao fim do dia, tinge o céu de esperança e beleza, para voltar, brilhante e intenso, no dia seguinte. Que nesta pandemia possamos apreciar o milagre da vida e buscar inspiração no astro-rei, o qual nos oferece lição de persistência e de fé a cada dia.

A cantora e compositora paraibana Flavia Wenceslau escreveu: “Silêncio, hoje eu preciso tanto ouvir o céu. Já não é mais urgente assim falar. Meu coração precisa repousar”. A música, de beleza ímpar, foi interpretada por Maria Bethânia. Que possamos todos nos inspirar nessa canção, silenciar as dores da alma, rumar os olhos para o céu e apreciar o pôr-do-sol de nossa Brasília.

 

 

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