Que nossa educação vai mal é uma evidência, mas abrir escolas em meio à pandemia que tem ceifado tantas vidas é temerário. O Programa Internacional de Avaliação de Alunos — Pisa, que avalia estudantes de 15 anos, revela que, entre 79 países investigados, o Brasil está no final do ranking. Nossa média é 413 enquanto a da China é 555. Estamos em 58º lugar em leitura, em 66º lugar em ciências e em 72º lugar em matemática.
Consideradas apenas as escolas particulares, poderíamos estar entre os 10 primeiros. Mas não precisávamos dessa informação, pois o Inep tem feito ao longo dos anos avaliações em larga escala: Avaliação Nacional da Alfabetização (ANA); Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb); Exame Nacional de Certificação de Competências de Jovens e Adultos (Enceja); Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes dos Cursos de Graduação (Enade); além do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).
No Enem, houve queda em todas as notas. De 3.935.237 participantes, apenas 57 tiraram 1.000 na redação e 143.736 tiraram zero. No ensino médio, sete entre 10 alunos não apresentam desenvolvimento suficiente em português e matemática. O índice de desenvolvimento da educação básica (Ideb), que analisa diversas fontes de dados, indica que a média brasileira (que vai de 0 a 10) está em 4,6.
Uma parcela de 34% dos alunos da educação básica chega ao 5º ano sem o domínio da leitura, e 20% chegam ao 9º sem saber ler e escrever de forma satisfatória. Das 100 crianças que entram na escola, 40 chegam ao 9º ano, 14 terminam o ensino médio e 11 chegam ao curso superior.
Além dos dados quantitativos, o Inep dispõe de questionários de alunos, professores, diretores e secretários de Educação. Uma das tarefas mais urgentes é inserir no sistema escolar 3,8 milhões de um segmento da população de 4 a 17 anos que está fora da escola. Essa população jovem que nem estuda nem trabalha flutua na marginalidade sem perspectiva de futuro.
Mas, para isso, é necessário oferecer uma escola melhor, o que depende de fortalecer a infraestrutura dos estabelecimentos, tornar a docência mais atrativa para os bons alunos que atingem as licenciaturas, evitar o absenteísmo dos professores, desenvolver estratégias de formação continuada e consistente dos docentes que estão em atividade (pode ser on-line), tornar os cursos de pedagogia e as licenciaturas mais práticas. Essas providências contribuem para evitar a evasão escolar e melhorar os resultados.
Execrar Paulo Freire é equívoco porque a influência dele no processo prático de alfabetização das nossas escolas é mínimo. Sua filosofia educacional é que atrai as atenções nacionais e internacionais, pois propõe uma escola mais humanizada. Quem pontifica desde os anos 80 é a argentina Emilia Ferreiro (aluna de Jean Piaget) e de forma equivocada, porque ela apenas investigou os processos cognitivos subjacentes à aquisição da língua escrita e não criou um método prático de alfabetizar.
Por suas teorias, o professor alfabetizador pode observar e acompanhar as fases pelas quais a criança está passando individualmente para chegar a compreender a organização e a natureza da escrita. O foco mudou de como ensinar por meio de cartilhas para como se aprende a ler e a escrever.
A preocupação com a ideologia de gênero é outro equívoco, um desperdício de discurso porque ninguém influencia ninguém a fazer uma opção sexual. A sexualidade impõe-se internamente no indivíduo de forma definitiva muito precocemente. O objetivo do Ministério da Educação está muito além dessas preocupações ideológicas: é garantir o domínio da língua portuguesa e da matemática, além de outros conhecimentos para assegurar aos estudantes a participação cidadã na sociedade.
Como 25% da população brasileira não têm acesso à internet, e muitos professores não tinham familiaridade com a informática e improvisaram, este ano está profundamente prejudicado. Quantas crianças não puderam acompanhar as aulas on-line? Diante dessas considerações, seria importante manter as escolas fechadas até que a pandemia esteja superada e fazer um pacto educacional claro: aprovação automática de todos os alunos brasileiros.
Como já sabemos que o tempo de trabalho objetivo na aula ocupa apenas 60% do horário, seria o caso de recuperar no primeiro semestre do próximo ano o conteúdo perdido este ano, e no segundo semestre, apresentar o conteúdo do ano em curso. Para isso poder-se -ia ampliar os dias letivos e estimular os professores e os alunos a serem mais eficientes.
Nesse sentido, o Conselho Nacional de Educação (CNE) aprovou por unanimidade, esta semana, resolução propondo que as escolas adotem currículo contínuo, integrando os anos de 2020 e 2021 e evitando o excesso de reprovações. Sugere, também, que os alunos do 3º ano do ensino médio possam optar por fazer um 4º ano. E amplia a possibilidade do ensino híbrido (presencial e on-line) até o fim de 2021. Assim , o CNE Educação cumpre seu papel de orientar os sistemas educacionais, principalmente neste ano em que a pandemia impediu o funcionamento regular das escolas.
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