No país em que boi virou bombeiro, a esperança por dias melhores parece esvanecer nas cinzas dos biomas sacrificados em nome de um lucro mesquinho e sem escrúpulos. O aparato técnico e científico de que dispomos bem poderia orientar a sociedade brasileira ao esplendor que merece, mas a fumaça que sucede os frutos da floresta cegou boa parte da nação e intoxicou o rei, que empreende uma saga messiânica às avessas.
As crianças ainda teimam em brincar sorridentes debaixo do sol escaldante, pois a inocência não lhes permite antever o colapsado destino que as espera. Um dia, talvez, pais e mães lamentem uma romântica história de amor, mas terá sido tarde demais – praticamente cúmplices de uma economia baseada no consumo exacerbado, que entope o planeta de lixo.
Enquanto cresce a produção dos campos de monocultura, no DF e em boa parte do país, batem recorde, também, os sufocantes registros de calor. Ansiosos, os turistas buscam refúgios ecológicos cada vez mais distantes dos grandes centros, mas parece questão de tempo até a aridez invadir os remanescentes paraísos naturais, restritos a uma parcela ínfima e potentada da população.
As alternativas existem, mas são ainda empreendidas de forma voluntária por grupos limitados, que se dedicam a práticas sustentáveis, como a agricultura sintrópica de Ernst Götsch, na Bahia, ou as ecovilas permaculturais em diversos rincões do país. São experiências muito bem-sucedidas e produtivas, mas, distantes das políticas públicas, incapazes de transformar positivamente o contexto global. É um esforço válido, viável, porém, ignorado pelos governantes, que poderiam — e deveriam — fomentar esses conceitos em larga escala.
Enquanto insistimos na trajetória do esgotamento dos recursos, em vez de esperança, faz mais sentido os versos da recém-laureada Nobel de Literatura, a norte-americana Louise Glück: “É terrível sobreviver como consciência, enterrada na terra escura.”
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