Fome e guerra andam lado a lado. Privar pessoas de alimentação tem sido uma das armas nos conflitos bélicos. Por dia, o Programa Mundial de Alimentos (PMA ou WFD, sigla em inglês), órgão da Organização das Nações Unidas (ONU), distribui comida para 100 milhões de cidadãos, em 88 países, com prioridade para os que vivem em regiões conflagradas. O reconhecimento veio na manhã de sexta-feira, com o Prêmio Nobel da Paz 2020.
“Sem paz, não podemos alcançar nosso objetivo global de erradicar a fome; e enquanto a fome persistir, nunca teremos um mundo pacífico”, advertiu o diretor-executivo do programa, David Beasley, ao agradecer a escolha do PMA pelo Comitê Norueguês do Nobel.
No planeta, 696 milhões — mais de três vezes a população brasileira — passaram fome no ano passado. A Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) projeta um aumento de 132 milhões para este ano. Ou seja, o drama da fome alcançará 828 milhões de pessoas no mundo, mais um dos muitos impactos da pandemia do novo coronavírus.
O PMA não tem orçamento definido. Os 17 mil funcionários trabalham com doações espontâneas de governos, instituições privadas e pessoas físicas, explica o economista Daniel Balaban, diretor do programa no Brasil. Ele alerta para os danos das desigualdades socioeconômicas: “A desigualdade leva à desesperança, o que leva as pessoas a tentarem mudar a vida e isso leva aos conflitos”.
Entre 2017 e 2018, 10,3 milhões de brasileiros sofreram com a insegurança alimentar e nutricional grave, segundo estudo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). As projeções, devido ao impacto da crise sanitária de 2020, são preocupantes, sobretudo em razão do aumento do desemprego, que afeta mais 13 milhões de trabalhadores, da redução do auxílio emergencial e da inflação que voltou a crescer — 0,64% em setembro, 0,4 ponto percentual maior do que em agosto —, efeito da alta dos preços dos alimentos e do combustível.
O Brasil, como os demais países sul-americanos, não pode desconsiderar os alertas da FAO e da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal) para a repercussão da pandemia. Na análise conjunta, as duas instituições previram, em meados de junho, que milhões de pessoas podem cair na extrema pobreza e passar fome no continente. Pelos fatores que afetam a economia nacional, principalmente o desemprego, impõe-se ao governo a formulação de políticas públicas que protejam os mais despossuídos e criem barreiras à expansão do flagelo da fome.
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Deixe o sol sair
Venci. E poderia ser esse o maior triunfo de uma pessoa que sobrevive à covid-19. Mas garanto a você que não é. Porque não posso chamar de vitória o que ainda é desconhecido. Porque não posso ignorar as chances de sequelas. Porque não estamos livres do porvir de um vírus com capacidade de mutação e muito letal — a ponto de mutilar famílias inteiras e jogar o mundo num abismo colossal, ainda sem chão, nem teto. Embora com algumas frestas de luz, permanecemos no escuro.
Mas posso dizer que venci o meu próprio medo, venci uma crise de ansiedade ao sair do meu confinamento, venci o primeiro dia ao ar livre, respirando para o universo e agradecendo as chances de aprendizado. Como sou uma pessoa que anda de mãos dadas com o otimismo e a esperança, acredito numa cura próxima, pela ciência, com a vacina. Acredito, também, que podemos ser maiores e melhores do que fomos até aqui e não ignorar os sinais da natureza. São esses sentimentos que me trazem leveza.
Além das orações, o humor permaneceu comigo durante as duas semanas em que convivi mais intimamente com a covid-19. Achei muita graça nos amigos doidinhos — tanto aquele que queria me visitar para pegar logo o vírus e ficar imunizado quanto a amiga que marcou nosso próximo encontro para fevereiro de 2021. Permaneci aberta ao riso, apesar da angústia contida no passar dos dias em regime fechado.
Lembrei da música de Taiguara Que as crianças cantem livres, que tanto ouvi na infância. Tem um trecho que diz assim: “Vê como um fogo brando funde um ferro duro/Vê como o asfalto é teu jardim se você crê/Que há sol nascente avermelhando o céu escuro/Chamando os homens pro seu tempo de viver”. E continua: “E que as crianças cantem livres sobre os muros/E ensinem sonho ao que não pode amar sem dor/E que o passado abra os presentes pro futuro/Que não dormiu e preparou o amanhecer...”
Sim, é bonito. Estamos na véspera do Dia das Crianças. Olhando para elas, que trazem a esperança infinita e a possibilidade viva do sonho dentro de si, renovo também meu otimismo no que virá. Se ainda está escuro lá fora, precisamos lembrar que a lanterna que clareia tudo é nossa própria luz. Não se afaste do seu clarão e deixe que ele saia por aí, passeando pelas trevas e iluminando o caminho por onde passa. Seja qual for.
Desabafo
O presidente sugere a abertura das sessões do Supremo com orações. Faltou o início dos cultos religiosos com a leitura da Constituição.
Maurício Abreu — Sudoeste
Libera bares, festas, cinema, enfim aglomerações em geral. Só não libera a volta às aulas! Poderiam liberar pelo menos um plantão de dúvidas para os alunos!
Washington Luiz S Costa — Samambaia
O que devem pensar as crianças inteligentes de hoje, ao ver os adultos e a Justiça, se referirem à explícita interferência do Bolsonaro na Polícia Federal como suposta.
Vital Ramos de Vasconcelos Júnior — Jardim Botânico
A qualidade dos serviços prestados pela PM do DF é inversamente proporcional ao salário que a corporação recebe.
Ivan T. de Pinho e Silva — Águas Claras
>> Sr. Redator
Eunucos funcionais
Nunca tantas apanharam tanto e tão violentamente. Acho que os especialistas deveriam se debruçar urgentemente à procura de soluções. Leiga que sou, venho alinhavando algumas teorias. As mulheres se empoderaram de maneira avassaladora. Entender um verbo, como uma senha, para fazer quase tudo, passaram o rodo na cautela, nos costumes, na sexualidade, nos hábitos. Infelizmente o sistema não se aparelhou para a nova realidade. Suas “medidas protetivas” não conseguem proteger a mulher, como cidadã que é. Meninas saem sozinhas na noite, sem temor. Cada vez mais competem ombro a ombro no mercado de trabalho. São preparadas, batalhadoras e independentes. Pagam escolas dos filhos, viagens, festas temáticas etc. As oriundas de classe social mais baixa sustentam família, andam bem vestidas, cabelo arrumado, unhas feitas e são exemplos de vida. O homem passou a ser um acessório. Se apequenou e a mulher cresceu. Tudo isso tem um preço: virilidade, sem a qual o homem se sente um nada. Quando não funciona, nem provê, desconta sua inferioridade no que tem de superior na mulher: a força. Todo espancador é um eunuco funcional. Talvez o que falta seja uma campanha mostrando que só os covardes, inseguros de sua masculinidade, espancam.
» Alice de Carvalho Martins Alves,
Núcleo Bandeirante
Desigualdade
Desigualdade virou palavrão desde a chegada ao Palácio do Planalto do atual ocupante. Jair Bolsonaro não deve tê-lo pronunciado nenhuma vez na vida e, ao escutá-lo, deve ter considerado desprezível. Entre a prole, o sentimento é igual, ou maior. Fale-se em desigualdade ao Carluxo e ele considerará o interlocutor mais comunista do que a deputada federal Jandira Feghali (PCdoB-RJ). Eduardo postará nas redes que desigualdade é o outro nome do “vírus chinês”. E Flávio, o primogênito? Flávio diria: “Fale-se em desigualdade, e eu chamo o Queiroz”. No entanto, veio a pandemia do coronavírus e... O mercado financeiro gosta da imagem cunhada por Warren Buffett para as horas de imprevisibilidade. “Quando a maré baixa, fica-se sabendo quem está nu”, disse o megainvestidor. Pois, veio a pandemia da covid-19 e o Brasil exibiu-se peladinho, com suas hordas de catadores de lixo, acrobatas de cruzamento, flanelinhas, vendedores de pano de chão e muitos outros.Sem se esquecer das domésticas sem registro, dos garçons sem salários, dos beneficiários do Bolsa Família, das professoras do sertão que ganham meio salário mínimo. Entre a coleção de infâmias ditas antes, uma das mais cruéis foi: “O brasileiro tem de ser estudado, não pega nada, o cara fica pulando no rio ali junto com o esgoto e o cara não pega nada”. O presidente Bolsonaro reconheceu a necessidade de disponibilizar um auxílio emergencial, diante da pandemia, a um contingente de brasileiros que atingiu em torno de 70 milhões de pessoas beneficiadas. É bom que, sob essa pressão das circunstâncias, o governo tenha dado números e peso ao Brasil que tem ares de pedaço piorado da Índia.
» Renato Mendes Prestes,
Águas Claras
Bombeiro
Se é para dizer basteiras, transformando o boi em bombeiro do Pantanal, vai mais uma: é bom alertar a ministra Tereza Cristina que o macho é mais fogoso e esquenta mais depressa, alastrando fogo, aumentando os incêndios. É o caso recomendar aos fazendeiros, em vez de criar bois, criar vacas, restituindo o significado do termo vaquejada a quem de direito.
» Elizio Nilo Caliman,
Lago Norte
Futebol
A luta pelo hexa exige entrega, dedicação, trabalho, profissionalismo e pés no chão. Repele triunfalismo, amadorismo, comodismo e desrespeito ao adversário. A caminhada é longa e espinhosa. A CBF permanece comandando a retaguarda, como parceira de êxitos. A vitória contra a fraca Bolivia serve pelos três pontos. Embala o ânimo. Significará muito, com adversários realmente fortes. Com a seleção mantendo firme postura dentro de campo. Mostrando objetividade, condicionamento físico, empenho, personalidade, passes precisos, forte marcação, e boa técnica. Creio que é a primeira vez que o futebol pentacampeão disputa uma eliminatória de Copa do Mundo. O que evidencia que o futebol brasileiro não é mais o mesmo. Caiu muito, tecnicamente.Não temos mais atletas vencedores, que em campo intimidavam adversários, como Gerson, Pelé, Rivelino, Garrincha e Nilton Santos. Hoje, a seleção brasileira não é mais temida pelos adversários. O Brasil foi medíocre na copa da Rússia. Naquela época, seleções importantes já estavam evoluindo. O técnico Tite começou a mesclar a seleção.Precisa convocar bem e escalar melhor ainda. Antes tarde do que nunca. É essencial remoçar o plantel. Em 2022 sabe que não poderá contar com jogadores que hoje brilham na Seleção.
» Vicente Limongi Netto,
Lago Norte
Charge
Bolsonaro e a verdade
Churchill, diante da enorme máquina de guerra de Hitler, disse aos seus compatriotas: “Somente lhes posso prometer “sangue, suor e lágrimas”. “Mas não nos renderemos. Lutaremos no mar, no ar e em terra, até vencer”. O nosso presidente deveria, como ele, primeiro desfechar nossas dificuldades e depois nos conclamar para a superação. Não tem sido assim.
Bolsonaro no ato de abertura anual da Organização das Nações Unidas (ONU), criada após a horrível matança humana da 2ª Guerra Mundial iniciada pelos alemães, não seguiu nem Churchill nem Disraeli, para quem, enquanto premier da Grã-Bretanha, os discursos devem ser feitos para convencer e não para se defender ou reclamar, coisas a serem feitas privadamente.
No conceito das nações, os diálogos de questões delicadas são conduzidos por políticas bem planejadas pela diplomacia, cujo trabalho implica conhecimento, informações e conversações.
É regra desde Graça Aranha, e também privilégio de ordem internacional, que o presidente do Brasil faça o discurso anual de abertura dos trabalhos da ONU. Em segundo lugar fala o presidente dos Estados Unido (EUA), pois anfitrião, pois a sede da ONU fica em Nova York.
Essa é uma oportunidade ímpar de o Brasil, pelo seu presidente, falar às mais de 200 nações que formam a ONU e seu Conselho de Segurança (EUA, França, Reino Unido, Rússia e China têm poder de veto sobre as resoluções do colegiado).
Este ano, o presidente Bolsonaro, com o devido respeito, ao abrir os trabalhos da Assembleia Geral das Nações Unidas, superou-se em proclamar meias verdades e algumas evidentes inverdades, diminuindo-se e prejudicando a imagem internacional do nosso país (a fala de um presidente pressupõe que a nação o autorizou).
Ele inventou — esse é o termo adequado — que há uma “descomunal” campanha internacional de desinformação contra o seu governo, o que põe contra a parede os embaixadores de todas as nações acreditadas pelo governo brasileiro e os correspondentes estrangeiros em conluio com as autoridades dessas nações, embora nenhuma tenha sido citada nominalmente. Isso foi de uma infantilidade atroz.
As aleivosias perpetradas ao nosso país, por outro lado, decorriam de o Supremo Tribunal Federal (STF ) o ter impedido de combater com rigor a pandemia da coronavírus; que as queimadas e incêndios eram apenas focos, uma vez que as florestas amazônica, do Pantanal e a Mata Atlântica são úmidas, avessas a incêndios, estes ateados por “índios e caboclos”, que a mancha de petróleo que invadiu nossos mares no Norte e Nordeste fora intencional, omitindo a autoria, mas induzindo ter sido obra venezuelana; que dá incessante combate aos desmates e incêndios (com 30 fiscais do Ibama...acrescento); que seu governo fez de um tudo no combate ao coronavírus, incluindo, é claro, os auxílios financeiros emergenciais (que reconheço muito importantes).
Na verdade, não fez nada do que disse, exceto o auxílio emergencial e, certamente, vai piorar a situação do Brasil, haja vista para as brigas de foice dentro do governo, entre ministros, e as deferências ao Centrão. Só para exemplificar, Ciro Nogueira, prócer de um estado do Nordeste, o novo xodó do presidente, responde a vários processos, sendo um corrupto reconhecido pela nação. Mas vem de indicar para o STF o ministro que ocupará a vaga do culto Celso de Mello. A sorte é que o jovem indicado é uma pessoa séria e estudiosa. O resto vai ter que aprender, fazendo e julgando. Desde que encasquetou com a ideia fixa de um segundo mandato (aliás, jurou na campanha não o desejar). O presidente que a princípio desdenhava do Congresso, para gáudio dos direitistas imbecis de sua guarda pretoriano, agora faz questão de agradar o “Centrão).
No que interessa mesmo nada fez. O desemprego chegou a 14% da população economicamente ativa (PEA). A dívida pública aumentou e raspa nos 100% do PIB. Há empenho num programa populista e eleitoreiro — para quem combatia o Bolsa Família — de dar R$ 300, quando nada R$ 250, todo mês, a cerca de 56 milhões de brasileiros. “É dando dinheiro público que se recebe votos.” A inflação ameaça subir com a distribuição dessa benesse monetária e as tais “reformas” nem sequer estão formuladas. O que dizer? O Brasil, como sempre, é uma pandega! Apesar de toda a inútil agitação não há nada de novo. Está tudo como dantes no quartel de Abrantes.
Ciência pública como locomotiva limpa-trilhos
Praticamente todas as nações desenvolvidas são capazes de utilizar a ciência pública à semelhança de uma locomotiva limpa-trilhos, que vai à frente removendo barreiras e abrindo caminhos, com projetos de maior risco e prazos de maturação longos, que não atraem o setor privado.
A pesquisa apoiada pelo Estado é essencial na remoção de obstáculos para que empresas e indústrias encontrem caminho livre e possam gerar empregos, riqueza e progresso. São inúmeros os avanços experimentados pela sociedade moderna na medicina, na produção de alimentos, na revolução da informação e da comunicação, no desenvolvimento de alternativas energéticas limpas etc., que só se tornaram possíveis graças aos investimentos do Estado em pesquisa científica.
Exemplo emblemático é o smartphone, que resultou de sete tecnologias-chave, desenvolvidas principalmente por institutos públicos e universidades, e habilmente reunidas no setor privado para criar inovação que ganhou todos os cantos do planeta. O GPS, a internet e o algoritmo que levou ao sucesso do Google foram todos desenvolvidos a partir de financiamento público à ciência básica nos EUA. Os princípios ativos de novos medicamentos são, na sua maioria, desenvolvidos por universidades e institutos públicos de pesquisa e transformados em produtos por empresas farmacêuticas.
Momentos de grave crise como o que vivemos demonstram quão essencial é o Estado no papel de garantir a infraestrutura e a capacidade científica necessárias para compreender e superar infortúnios.
Estudo recente estimou que em apenas seis meses — entre 1º de janeiro e 30 de junho de 2020 — cerca de 24 mil artigos científicos relacionados à covid-19 foram produzidos, a maioria resultante de pesquisas na área biomédica financiadas com recursos públicos. O esforço sem precedentes acelerou a geração de conhecimentos e a busca por tratamentos e vacinas para conter a transmissão do novo coronavírus, com vários candidatos promissores produzidos em tempo recorde.
Ainda assim, há governos que insistem em ignorar a importância da ciência, muitos considerando os investimentos em infraestrutura de pesquisa e inovação um luxo de alto custo e não um investimento estratégico, promotor de progresso e de resiliência na sociedade.
Até uma das maiores potências tecnológicas, os EUA, tende a perder a hegemonia em financiamento à pesquisa básica, que alavancou a vantagem competitiva da indústria e o crescimento do PIB americano desde a Segunda Guerra Mundial. O contrário ocorre em países como a Coreia do Sul, Emirados Árabes, Índia e China, este último com investimentos massivos em ciência — US$ 280 bilhões em 2017, o que equivaleu a 2,12% do gigantesco PIB do país e a 20% do total das despesas mundiais com pesquisa e desenvolvimento.
O fortalecimento da ciência no ambiente público e a promoção de parcerias público-privadas para recuperação do setor industrial são desafios críticos para o Brasil, que precisa mais do que nunca ampliar a criatividade econômica e a complexidade industrial, transformando seu enorme sucesso na produção de commodities — minério, petróleo e produtos agropecuários — em plataformas de conexão com cadeias produtivas mais nobres, de alto valor agregado.
Por exemplo, diversificar, especializar e agregar valor à produção agropecuária nacional é, mais do que uma necessidade, um imperativo para o futuro, e missão possível de alcançar, considerando que países de alta complexidade industrial, como Canadá, Alemanha, França, China e EUA, conseguem fazê-lo, valorizando e protegendo, com todos os instrumentos possíveis, os setores agrícolas.
O Brasil pode ir além, levando em conta as vantagens extraordinárias que possui para inserção na emergente bioeconomia, a economia de base biológica, renovável e sustentável. O país já é líder global na produção de energia de biomassa e dá passos robustos na produção de bioinsumos e químicos renováveis.
Recentemente os jornais noticiaram que a empresa brasileira Marfrig — uma das maiores processadoras de carnes do mundo — lançou inovadora linha de “carnes carbono neutro” a partir de sistemas de produção que integram lavoura, pecuária e floresta e neutralizam as emissões de gases de efeito estufa, de acordo com protocolo desenvolvido pela Embrapa. O projeto, considerado de alto risco no nascedouro, foi bancado com recursos públicos e agora dá à indústria brasileira a inédita capacidade de responder a mercados ávidos por produção pecuária de baixo impacto ambiental, em perfeita sintonia com a economia renovável de baixo carbono.
Esses são apenas exemplos na longa lista de avanços possíveis para inserção do Brasil na economia de base biológica, capaz de alavancar segmentos vitais como a produção de alimentos, a saúde, e as indústrias química, de materiais e de energia. A bioeconomia poderá ainda projetar o nosso patrimônio mais conhecido, a Amazônia, como grande produtora de riqueza, progresso e bem-estar.
No entanto, para que isso aconteça, o Estado precisa empreender e operar na qualidade de tomador de riscos, mobilizando bancos de desenvolvimento, universidades e institutos de pesquisa como locomotivas limpa-trilhos habilitadas a lidar com a incerteza subjacente aos processos de inovação e com a crescente complexidade que marca o nosso tempo e aplaca a ousadia do setor privado.
Ontem, um sonho; hoje, pesadelo
Entre 1955 e 1960, durante a construção da capital, as visitas periódicas do então presidente Juscelino Kubitschek ao imenso canteiro de obras em que se transformara Brasília, viraram não apenas uma rotina, mas, sobretudo, um deleite que fazia o então chefe da nação esquecer por uns momentos as agruras daqueles tempos politicamente conturbados. O zelo com que JK cuidava do megaprojeto de transferência da capital para o interior do Brasil representou, para aqueles que participaram dessa dificílima epopeia moderna, um incentivo de tamanhas proporções, que abrandava misteriosamente os tormentos e as dificuldades envolvidas nessa empreitada.
Entusiasmo e otimismo irradiavam daquela figura esguia que várias vezes na semana, ao fim do expediente, deixava o Palácio do Catete, no Rio de Janeiro, e rumava, por quase quatro horas, a bordo de um avião turbo hélice Viscount para Brasília. Durante a madrugada, inspecionava as principais obras, cercadas de seus principais auxiliares, regressando ao Rio, muitas vezes no alvorecer.
Sem essa rotina, imposta pela seriedade com que encarava essa construção, dizem alguns dos seus auxiliares que testemunharam esse esforço, não seria possível a construção de uma nova capital, no interior ermo do Brasil num prazo de apenas mil dias. Esse amor pela nova capital chegou a inspirar alguns administradores que depois vieram a cuidar da capital. O amor por uma obra única no mundo, por seu modernismo revolucionário e que denotava para todos a capacidade empreendedora dos brasileiros, viria a perder muito de seu vigor com o passar dos anos.
A chamada Revolução, ou Golpe de 1964, quebrara não apenas a oportunidade de regresso de JK ao poder, em que poderia dar prosseguimento ao ousado projeto de governo “50 anos em 5”, mas serviu para esfriar muito do ânimo necessário para movimentar o restante das obras necessárias para a conclusão da nova capital. A essa interrupção brusca, e que viria a transformar os planos e muito do urbanismo da nova capital, conforme idealizada por Lúcio Costa e Oscar Niemeyer, outro acidente de percurso viria a modificar os planos iniciais pensados para Brasília: a chamada maioridade política, proposta por uma união suspeita de políticos e empresários locais no início dos anos 1980, faria a capital mudar de rumos, atraindo para a cidade o que havia de mais nefasto em termos de ocupação de solo e de administração e conservação da cidade.
Seguidas eleições de governadores, muitos deles totalmente alheios à cidade, sua origem e necessidade, cuidou para uma desfiguração paulatina do desenho urbano da cidade, transformando Brasília em apenas mais um modelo caótico de cidade brasileira. Esse verdadeiro processo de desurbanização, com cada novo governador, juntamente com cada nova composição de deputados distritais, cuidou para que Brasília chegasse hoje ao ponto em que está. Não fossem alguns impedimentos trazidos pelo tombamento da Unesco, que fez de Brasília patrimônio cultural da humanidade em 1987, o desenho inovador da capital estaria completamente desfigurado.
A transformação de terras públicas, inclusive aquelas inscritas como área de preservação ambiental, em moeda de trocas políticas, dentro do princípio maroto “um lote, um voto” e outras maracutaias feitas para beneficiar grandes grupos empresariais, completaria o quadro de agressões que levaria a capital a experimentar precocemente a decadência de muitas áreas, inclusive aquelas que anteriormente eram tidas como as mais valorizadas e promissoras.
A frase que foi pronunciada
“Queremos, em uma palavra, a paz da justiça, a paz da liberdade, a paz do desenvolvimento.”
Juscelino Kubitschek, ex-presidente da República
Armadilha
» Margem consignada, coeficiente bancário, parcelas. Qualquer telefonema com essas palavras ou onde o interlocutor for um estranho, não assine, não responda, não aceite nada antes de ligar ou se encontrar com o seu gerente bancário. Por ser uma cidade administrativa, com o maior número de funcionários públicos do Brasil, Brasília é o alvo preferido de empresas aparentemente legais que sabem como atravessar algumas regras, e ganhar muito dinheiro com fraudes e promessas que nunca cumprem.
“SOS: maus-tratos contra idosos”
» De olho nas estatísticas, a senadora Rose de Freitas lembra que o poder público enfrenta o desafio de criar meios para o amparo de idosos que devem superar o número de crianças em menos de 20 anos e, em 40 anos, serão 25% da população brasileira, conforme projeções feitas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Por isso, avalia ter vindo em boa hora o projeto de lei do senador Izalci Lucas que dispõe sobre a criação de um serviço para receber denúncias ou mesmo suspeitas de maus-tratos a idosos.
Edital é edital!
» Agindo com justiça aos concursados da Secretaria de Desenvolvimento Social, o deputado distrital Fábio Félix é voz ativa em favor dos aprovados pelas regras estabelecidas previamente no edital. Cobra a imediata nomeação dos novos servidores da secretaria em tempos de pandemia, quando, claramente, há a necessidade do “fortalecimento dos quadros da assistência social no Distrito Federal”. Nada de mudar as regras no meio do jogo.
História de Brasília
Desde julho diversos rapazes estão aguardando a nomeação para inspetores sanitários. Muitos dos candidatos ao concurso deixaram empregos para acompanhar o curso e, agora, estão em desespero por não ter sido publicada nenhuma nomeação. Enquanto isto, a cidade apresenta condições de saber que merece maior rigor na fiscalização. Os bares, por exemplo, são um atestado negativo, em sua maioria do código de higiene. (Publicado em 18/1/1962)