A pandemia provocou e aflorou nos homens a polarização das emoções e a necessidade de compartilhá-las universalmente. Possibilitou renovações, valorizações e o despertar a consciência da identidade como seres humanos. Entre as descobertas, a necessidade de união, integração e inclusão arrebatou a pessoa consciente a reelaborar e a reconstruir as relações pessoais, familiares, sociais, ambientais — a tomar atitudes e agir com mais responsabilidade, respeito e solidariedade na criação de formas de convivência. O ser humano se constrói, desenvolve e se organiza como sujeito único nas relações e trocas com o outro. Troca implica dar e receber. Entender e aceitar que somos falhos, que somos desiguais nas características da unidade humana, como seres humanos.
A inclusão escolar de crianças com limites especiais em classes regulares sempre se colocou para nós do Indi como obrigatoriedade humana. Há 42 anos fomos pioneiros nesse atendimento quando ainda não havia normatizações legais a respeito. Definimos uma metodologia que considera o aluno com tudo e do jeito que ele é. Desafia, estimula e promove a investigação, o debate, a experimentação e o desenvolvimento da aprendizagem na convivência com os outros, lidando com as diferenças que os definem.
Independentemente de qualquer decreto existente ou novos que surjam, toda proposta educacional de inclusão precisa, como base vital, aprender a conviver com as diferenças humanas. Aprender a combater, educacionalmente, todo tipo de preconceito e suas manifestações. Eles estão impregnados em nós e, muitas vezes de forma aviltante, escondidos em falsos posicionamentos politicamente corretos ou mesmo em atitudes ameaçadoras, impositivas, encobertas e mediadas pelas leis, pelas diretrizes do direito que acabam se distanciando do próprio sujeito que precisa ser incluído.
A escola precisa construir relacionamentos e parcerias saudáveis. Os sucessos que alcançamos no Indi, com o desenvolvimento dos alunos, são resultantes de parceria respeitosa entre escola e família. É preciso entender que todos nós, família, escola e sociedade, somos detentores da tarefa de educação — para que quem realmente precisa ser visto e atendido não fique à deriva do processo. Essa é a realidade que vivemos na busca da promoção da educação de igualdade para todos numa sociedade profundamente desigual e desumana.
Um dos princípios básicos, primordial da educação inclusiva, é o de qualificar as inter-relações — promover a socialização, a convivência, a identidade grupal e o pertencimento. Essa vivência oferece a igualdade e a equidade do ensino na medida em que as adequações acadêmicas e curriculares podem ser realizadas atendendo às especificidades dos aprendizes. É preciso clareza nas estratégias de abordagens das metas de crescimento para promoção e evolução do desenvolvimento acadêmico sem limitá-lo nas próprias circunstâncias.
Professores precisam ser preparados para ministrar e administrar as propostas pedagógicas com a diversidade de alunos, com consciência de um olhar individualizado, com propostas acadêmicas desafiadoras, estimulantes. Devem avaliar o aluno considerando seus ganhos, os erros como subsídios para os acertos, transformando as frustrações em experiências substanciais para as conquistas futuras.
Nenhum profissional de educação pode atuar sem preparo, apoio e suporte da escola. Dentro dessas perspectivas, o professor, junto com a equipe multidisciplinar, avalia caso a caso e traça propostas educacionais efetivas. Tenho a convicção de que só alcançamos sucesso educacional, de inclusão ou não, se tivermos parceria com as famílias para realizar uma educação de qualidade que, certamente, é o desejo de todo educador.
Temos muito o que fazer na promoção de inclusões possíveis. Defino inclusões possíveis as que garantem a integridade e a dignidade humana para todos os alunos. Não há inclusão saudável se desrespeitar essa máxima. O grande passo para alcançar a dimensão da qualidade educacional que desejamos é o de aprender a conviver respeitosamente com nossos próximos e com nós mesmos. O mundo hoje clama pelo imperativo de vivermos a educação como via de mão dupla.
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