O escritor norte-americano Robert Ingersoll (1833-1899) formulou frase que cairia como uma luva em tempos atuais, especialmente para o presidente dos EUA, Donald Trump. “Se você quer descobrir o que é um homem, no fundo, dê-lhe poder”, escreveu. A ilação entre poder e caráter, de Ingersoll, parece se aplicar bem ao magnata republicano. Infectado com o vírus Sars-CoV-2, Trump manteve a postura de tripudiar sobre a doença que matara mais de 200 mil norte-americanos. Chegou a deixar o hospital para agradar a eleitores fanáticos que se reuniram em frente ao prédio. Mas, foi um vídeo divulgado por Trump, no dia seguinte à alta hospitalar, que pareceu avalizar o pensamento de Ingersoll.
Na gravação, do lado de fora da Ala Oeste da Casa Branca, Trump diz que pegar covid-19 foi uma bênção de Deus e dos céus. Uma tentativa de fazer uso eleitoreiro de uma doença imprevisível e, algumas vezes, fatal.
Trump apelou ao negacionismo para tentar reverter provável desastre nas urnas. Reflexo da conjuntura sociopolítica e econômica do último ano. Além do coronavírus e da retração econômica, o republicano alimentou a divisão racial ao mostrar empatia zero por cidadãos negros mortos ou feridos por policiais. A arrogância, a parvoíce e as relações suspeitas com o colega russo, Vladimir Putin, parecem transmitir a mensagem de que Trump é um risco, não a solução.
Em 20 dias, as eleições norte-americanas serão muito mais do que disputa entre vermelhos e azuis, entre republicanos e democratas. Serão um referendo sobre o próprio presidente. Como disse Ingersoll, o poder expôs o caráter de Trump e o levou a uma armadilha política. Ao tripudiar sobre a covid-19 e ao acelerar a retomada da campanha, Trump prova aos EUA que se preocupa muito mais com o poder do que com a própria saúde e com a vida dos cidadãos.
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