Rumo ao precipício
Com o deferimento do habeas corpus, concedido agora pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Marco Aurélio a André do Rap, um dos chefões do PCC, contrariando as mais simplórias regras do bom senso jurídico, um fenômeno inquietante de nossa formação cultural e histórica mais uma vez salta aos olhos, ao reafirmar nossa ojeriza natural não só à desobediência às leis e às ordens institucionais, mas a tudo o que diz respeito às fontes científicas, as artes e mesmo o que insiste em alertar parte da imprensa livre e séria.
Fica patente, como dizia Nelson Rodrigues que a “consciência social do brasileiro decorre do medo da polícia”. Quando o atual presidente afirmou que ele era a Constituição, numa variante tupiniquim do “l’etat c’est moi” de Luís XIV (1638-1715), nada muito diferente do que já havia feito o ex-presidente Lula, quando comprou de baciada todo o Congresso de seu tempo, mais uma vez se confirmou nosso trágico destino histórico de apostar sempre no jeitinho malandro e inzoneiro para burlar regras, mesmo que essas venham a nos prejudicar lá na frente.
Os apelos velados ao fechamento do Congresso e do próprio Supremo, como feito inclusive em reunião de ministros dentro do Palácio do Planalto, em abril, ainda não mereceram, por parte da sociedade racional, a devida reflexão sobre a gravidade desses desabafos, mas inserem-se dentro do que tem sido erradamente considerado normal dentro da nossa tosca formação. O pior é que os freios e contrapesos que poderiam vir dos outros Poderes da República não são sentidos, quando se observa o cenário atual de penúria ética que recheia todas essas instâncias igualmente.
Dessa forma, não seria surpresa se constatássemos que vivemos um tempo em que o achincalhe dos Poderes é amplamente permitido já que estão todos situados no mesmo patamar raso da ética, onde tudo é possível, inclusive a opção de autofagia. O mais danoso quando se constata a pauperização da ética do Estado, vindo de cima para baixo, catalisa, ainda mais, o sentido desse mensagem quando se espraia pela sociedade, como um exemplo a ser seguido.
Por onde quer que se observe o Estado, os exemplos de desrespeito aos acordos do bom convívio social são deixados à margem. À falta de autoridade do Estado se seguem às desordens sociais, numa constatação de que as engrenagens que nos levam ao caos estão funcionando como nunca.
Há muito se sabe que a Justiça é como as serpentes: só mordem aqueles que estão descalços. Em nosso caso o que a população aprende com esses mestres às avessas é que apenas os crimes de menores potenciais ofensivos não compensam. Todo o restante, incluindo aí corrupção e desvios de milhões ou a chefia de grandes organizações criminosas são vistas por boa parte de nossos magistrados como deslizes ou pecados veniais, passíveis de perdão e indulgência. A falta de autoridade aos altos Poderes do Estado, para coibir crimes de toda a ordem é visto, pela planície, onde todos estamos, como um apoio para que prossigamos firmes, mesmo sabendo que estamos indo por caminhos errados, rumo ao precipício.
A frase que foi pronunciada
“O olho dourado da justiça vê e retribui o homem injusto.”
Sófocles, dramaturgo grego
Cães&gatos
» Até 26 de outubro, donos de cães e gatos podem vacinar seus animais gratuitamente nos pontos da Campanha de Vacinação Antirrábica. Uma pena que o governo não acrescente a vacina contra a leishmaniose visceral transmitida pelo mosquito palha, doença com incidência altíssima na capital.
BRB
» Paulo Henrique Costa, do BRB, vem sendo reconhecido como um gestor de ampla visão para negócios, inclusive para melhorar a imagem do próprio banco não só com publicidade, mas com práticas internas de desburocratização, o que é bom para os clientes.
Ponto de vista
» Leia no Blog do Ari Cunha o artigo do professor Aylê-Salassié F. Quintão sobre Eleições municipais: águas pra lá de pantanosas.
Park “away”
» Região nobre da cidade, o Parkway sofre com a sanha dos grileiros. Veja no blog do Ari Cunha matéria do Chico Sant’Anna sobre o assunto.
Hoje e amanhã
» Aprovado na CDF um projeto do deputado distrital Agaciel Maia que obriga administração do Aeroporto Internacional de Brasília a contratar um funcionário que auxilie idosos a retirar bagagens das esteiras. A deputada Júlia Lucy (Novo) foi contra porque acredita que basta a boa vontade dos mais novos. Hora de obrigar as escolas de ensino fundamental a visitar asilos. As crianças de hoje podem carregar malas de idosos se forem educadas em casa e ensinadas na escola.
História de Brasília
Uma resposta aos inimigos de Brasília, que alegam não funcionar a cidade, são os resultados obtidos pelo Tribunal de Recursos durante o ano findo.(Publicado em 18/01/1962)
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