TAGUATINGA

Túnel que pode virar buracão

''Para resolver, praticamente de graça, o problema, bastaria seguir o exemplo dos pontuais 30 km/h e 40 km/h nas avenidas principais de Samambaia e do Paranoá''

WÍLON WANDER LOPES
postado em 19/10/2020 06:00 / atualizado em 19/10/2020 09:05

O GDF resolveu construir um túnel no centro de Taguatinga, dizendo atender a pedidos da comunidade — que, de fato, não pediu um túnel, mas solução efetiva para o velho problema do excesso de carros de fora que tomaram a cidade. O problema foi causado por medidas tomadas por antigos dirigentes do GDF, trazendo transtornos, barulho, perigo e baita poluição. Hoje, o taguatinguense não pode atravessar o centro sem correr sérios riscos.

Tudo começou quando o GDF decidiu colocar as invasões de Brasília nas costas da incipiente Taguatinga, que, sem poder reclamar, teve de dividir o pouco que conseguiu construir a duras penas com o excesso de gente carente de tudo que chegou. À falta do direito de voto à época, as autoridades impunham o que queriam às cidades-satélites, já que não tinham de dar satisfação a representantes políticos da cidadania.

Logo depois, reconhecendo o problema que causaram — o excesso de carros que vinham da recém-instalada Ceilândia para o Plano Piloto e vice-versa, passando pelo centro de Taguatinga —, os tecnocratas decidiram demolir o primeiro símbolo da cidade: a histórica caixa d’água, que ficava bem na entrada, vista como empecilho à indesejada passagem dos carros de fora. Houve resistência da comunidade, mas era tempo do regime militar. E a caixa foi ao chão.

Depois, dizendo, outra vez, que resolveriam o velho problema, mesmo tendo a comunidade votado, em audiência pública, contra a implantação de mão única nas avenidas Comercial e Samdu, os tais tecnocratas resolveram implantar, na marra, a mão única nas avenidas, usando a estrutura de Taguatinga em benefício de um tal Corredor Eixo Oeste. Com isso, acabaram com o maior shopping horizontal da região: a famosa Avenida Comercial.

E agora, o GDF resolveu fazer o polêmico túnel, que, é preciso repetir, não beneficia Taguatinga, mas só os veículos que a invadem. Para viabilizar a obra, os tecnocratas diminuíram o tamanho do projeto original, feito em governo anterior, o qual começava na EPTG, antes do viaduto da entrada da cidade, terminando na Via Elmo Serejo, depois do viaduto da Samdu. Assim, a obra vai começar e terminar só sob a Avenida Central — mas vai transtornar toda a cidade.

O que diz a boa técnica rodoviária? Que carros de fora devem passar sempre por fora, no tão conhecido rodoanel. Mas a decisão do GDF de Ibaneis, que pegou o bonde andando, é gastar R$ 250 milhões para construir o túnel, opção que os tecnocratas preferiram. Taguatinga precisa muito desse dinheiro, mas nas carentes áreas de saúde, educação, asfalto, segurança.

Para resolver, praticamente de graça, o problema, bastaria seguir o exemplo dos pontuais 30 km/h e 40 km/h nas avenidas principais de Samambaia e do Paranoá, respectivamente: a Avenida Central de Taguatinga precisa é de limite baixo de velocidade pontual. Os carros de fora passariam por Taguatinga de forma respeitosa, não danosa como agora. Para os mais apressados, a Via Estrutural.

O maior motivo deste artigo é pedir atenção ao GDF para cumprir a promessa com relação ao tempo que vai durar a construção do túnel: dois anos. É que o taguatinguense ficou cabreiro a partir da pequena obra de ampliação do viaduto da entrada, que o GDF disse que duraria três meses, mas levou mais de dois anos. Quanto tempo durará, de fato, a complicada e enorme obra de construção do túnel, prejudicando a vida da dinâmica Taguatinga? A responsabilidade é do GDF.

Tomara que dê certo, especialmente para o governo Ibaneis. Mas a preocupação relatada tem sentido. Como o GDF vive falando em falta de dinheiro, com a queda enorme na arrecadação de impostos por causa da pandemia, pode acontecer que os buracos da obra sejam abertos e não haja dinheiro para tapá-los. Ou a obra pare em função de problemas entre as construtoras e o governo, como é o caso do abandonado Centro Administrativo — o popular Buritinga. E aí restará um buracão. Será que o pessoal que planeja a reeleição do Ibaneis pensou nisso?

 

 

* Advogado, jornalista e escritor 

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