Opinião

Artigo: Trocando figurinhas

''Como se não bastassem os vários grupos da escola das crianças, do trabalho, da família, dos amigos, dos colegas de colégio e de faculdade, agora tenho que administrar o meu tempo com o de colecionadores de figurinhas''

Sibele Negromonte
postado em 26/10/2020 07:10
 (crédito: Maurenilson Freire/CB/D.A Press)
(crédito: Maurenilson Freire/CB/D.A Press)

Figurinha repetida não preenche álbum. Literalmente. E, em tempos de pandemia, quando os pais passaram a se preocupar ainda mais com o bem-estar dos filhos, ajudá-los a colecionar cards dos seus super-heróis preferidos tornou-se a nova febre. Vale tudo nessa tarefa, inclusive, participar de mais um grupo de WhatsApp.

Até eu entrei nessa onda. Como se não bastassem os vários grupos da escola das crianças, do trabalho, da família, dos amigos, dos colegas de colégio e de faculdade, agora tenho que administrar o meu tempo com o de colecionadores de figurinhas, criado pela banca de revista próxima da minha casa -- certamente, há vários outros espalhados por aí. Neste momento em que escrevo, eram 99 participantes, mas, com certeza, enquanto você lê, já passou, e muito, dos 100. Ele cresce exponencialmente. E a troca de mensagens, também.

Depois de ter tentado de tudo para reduzir o tempo de tela da minha filha, eu me rendi, também, ao álbum de figurinhas, antes restrito apenas ao período de Copa do Mundo. Fã dos Detetives do Prédio Azul (DPA), ela começou a colecionar cards de Sol, Pipo, Bento, Berenice, Severino, dona Leocádia e companhia. Além de ser um poço sem fundo de gastos %u2014 cada pacotinho custa R$ 2,50 %u2014, há a ansiedade de trocar as repetidas, que, cá entre nós, é a parte mais divertida.

A sacada das bancas de revista é genial. Em tempos em que não dá para aglomerar, as negociações são feitas via internet, mas o ponto de encontro continua a ser o estabelecimento, onde os pais deixam as figurinhas repetidas, pegam as trocas e, claro, compram mais uns pacotinhos. No meu grupo, além de DPA, hoje o álbum mais popular, tem do Brasileirão, da Frozen, da Patrulha Canina, da Lol, do Chaves, enfim, uma mina de dinheiro para os criadores.

Confesso que tenho me divertido também. Sou fã de álbuns desde a época do Amar é... -- só quem era criança ou adolescente na década de 1980 lembrará das tirinhas fofas, retratadas por um casal de meninos apaixonados e criadas pela neozelandesa Kim Grove, em 1967. Cheguei até a colecioná-las quando relançaram em 2005.

Mas saudade mesmo eu tenho é de aglomerar, em clima de Copa do Mundo, para trocar figurinhas. Em 2014, lembro da festa que as dezenas de pessoas reunidas na banca da 106 Norte fizeram quando o meu filho conseguiu preencher o álbum. Houve aplausos, gritos e até abraços de desconhecidos. Que em 2022 o mundo volte a ser o que era e a gente possa voltar a se abraçar sem medo!

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