Foi uma eleição atípica. Todas as fichas apontavam para uma vitória da democrata Hillary Clinton contra o republicano e quase azarão Donald Trump. Também foi uma noite longa e memorável. Lembro-me de que o Correio Braziliense fechou a edição por volta das 6h da manhã do dia seguinte, algo talvez sem precedentes na história do jornal. Daqui a exatamente seis dias, os norte-americanos definirão, nas urnas, o futuro da nação ainda mais poderosa do mundo. Todas as pesquisas indicam vitória do democrata Joe Biden, vice de Barack Obama por dois mandatos. No entanto, não há garantia alguma de que o candidato da oposição confirme o favoritismo. No sistema democrático norte-americano, o fator decisório está no número de delegados arregimentados pelos partidos. Hillary venceu no voto popular, mas foi derrotada no Colégio Eleitoral.
A eleição dos Estados Unidos talvez seja a escolha entre a permanência do obscurantismo e uma guinada democrática rumo à razão. A opção entre o negacionismo, que custou mais de 225 mil vidas e semeou desinformação país afora, e o respeito pela ciência. Nos dias que antecedem a votação, Trump tem abusado de fake news e intensificado a virulência de seu discurso. O magnata republicano deu o azar de ver a popularidade colocada à prova em 2020, um ano de péssimas notícias para a Casa Branca. Além de minimizar a pandemia da covid-19, Trump escolheu o lado da polícia durante o levante antirracismo e emitiu mensagens controversas a milícias de direita. Também teve a vida devassada em livros bombásticos, como o escrito pela sobrinha Mary Trump.
Revelações recentes apontam que Trump é um magnata que acumula dívidas milionárias e sonega impostos. Nos últimos quatro anos, mostrou uma tendência compulsiva de reverter políticas implementadas por Obama. Abandonou o Acordo de Paris, desvinculando-se de compromissos ambientais inadiáveis. Transferiu a embaixada para Jerusalém, ignorando por completo o drama e os direitos dos palestinos. Iniciou uma espécie de “Guerra Fria” com a China e a Rússia. Cortejou o ditador norte-coreano, Kim Jong-un, sem obter nada em troca. Também enfureceu aliados importantes, como a Alemanha e outros parceiros da Otan, a aliança militar ocidental. Depois de uma recuperação das finanças na era Obama, a economia norte-americana tornou a apresentar piora.
Na próxima terça-feira, o mundo voltará os olhos para os Estados Unidos. O resultado das urnas também ditará o futuro das relações entre Brasília e Washington. A eventual derrota de Trump terá o peso de um revés para Jair Bolsonaro, que trata o ocupante da Casa Branca quase que como um ídolo. As fichas estão lançadas. As chances de os democratas retornarem ao poder são reais e amplas. Seria um golpe não apenas contra o projeto político republicano, como também contra o egocentrismo marcado de Trump.
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