Eleições da malandragem
“Agora já não é normal
O que dá de malandro regular, profissional
Malandro com aparato de malandro oficial
Malandro candidato a malandro federal
Malandro com retrato na coluna social
Malandro com contrato, com gravata e capital
Que nunca se dá mal”
Chico Buarque in Homenagem ao Malandro
Quando a política vira caso de polícia, como temos presenciado com certa constância nos últimos anos, em todo o país, em todos os escalões, de vereador à presidente da República, não se estranha que os tradicionais e legítimos protagonistas do crime, que são as organizações de traficantes e de milicianos, queiram adentrar também para o ramo da representação popular, através dos pleitos eleitorais.
Financiando candidatos simpáticos à causa, ou mesmo concorrendo diretamente aos diversos cargos políticos, a bandidagem procura, obviamente, um meio de continuar no mundo do crime, em um patamar mais elevado e com uma vantagem básica assegurada pelo estatuto da foro privilegiado. Uma vez diplomado, o representante de certo nicho da população, sintonizado tanto com as quadrilhas de criminosos comuns quanto com as milícias, adentra para o mundo blindado da impunidade ampla, onde o cometimento de crimes de toda a ordem é visto, aos olhos vendados da Justiça, como delitos menores e veniais, sujeitos ao trâmite emaranhado e infinito de filigranas que compõe os códigos legais nas altas cortes.
Graças a essa possibilidade bem concreta, é que vem aumentando em todo o país, não apenas os casos de assassinatos de candidatos, como de repartição de territórios urbanos entre as diversas facções do crime. Miliciano apoia miliciano e traficante apoia traficante, dividindo espaços, mandatos e colocando a população, que a tudo enxerga e nada pode fazer, sob pena de perder a vida, como refém e presa fácil. Com uma fórmula perversa dessa natureza, o Brasil, vai adentrando para o rol exclusivo dos países onde as organizações criminosas estão, passo a passo, adquirindo um novo status, se misturando a multiplicidade de partidos sem alma ou ideologias éticas e sociais.
Com esse movimento rumo ao inferno, chegará um tempo que os velhos corruptos terão que ceder lugar à nova horda de bandidos que assumirão postos de importância dentro da máquina do Estado. É preciso reconhecer que toda essa mudança distópica ocorre por obra e graça da corrupção crônica que, há anos corrói o país. Os números e os relatos que se sucedem não deixam dúvidas de que estamos no limiar do que seria um novo e sombrio tempo.
À semelhança do que vem ocorrendo no Rio de Janeiro, onde os criminosos tradicionais e milícia vêm proibindo campanhas políticas em determinadas áreas sob seus domínios, em São Paulo o fenômeno se repete, com facções impedindo e ameaçando candidatos de fazer campanhas, que contrariam os projetos dessas organizações.
Dinheiro não falta a esses bandidos e muito mais terão quando chegarem ao poder por meio dos fundos eleitorais e dos fundos partidários. O lema “Tá tudo dominado” nunca fez tanto sentido, anunciando a chegada do que seria uma nova elite política, formada não pelos conhecidos corruptos do colarinho branco, que tanta inveja sempre causaram aos bandidos comuns, mas uma nova classe de legítimos representantes do crime, “com gravata e capital e que nunca se dá mal”, como na letra do samba Homenagem ao Malandro, de Chico Buarque.
A frase que não foi pronunciada:
“Eleitor que vota em ladrão tem 8 anos para reclamar da corrupção.”
Dona Dita, fazendo crochê e pensando no Brasil que nunca muda
De olho
Serão 100 drones, usados durante as eleições, longe do alcance visual dos eleitores, com capacidade de captar imagens a grande distância. O objetivo é combater crimes eleitorais. A discussão sobre as urnas eletrônicas inauditáveis não tem data marcada nem interesse político para acontecer.
Imperdível
Em 11 de dezembro deste ano, a Lei nº 8.112/1990, que rege os servidores públicos civis da União, completará 30 anos. No embalo dos atuais debates sobre a reforma administrativa, discute-se: estaria a 8.112 precisando ser atualizada aos novos tempos da administração pública? Palestra com Marizaura Camões, especialista em gestão de pessoas, doutoranda na Universidade de Brasília e coordenadora-geral de Inovação da Enap.
História de Brasília
Os passageiros dos ônibus que se destinam às cidades satélites, e esperam transporte ao longo do Eixo Rodoviário, não dispõem de um único sanitário. Como resultado, aproveitam a existência e a não utilização das passagens de pedestres, onde bem que poderiam ser construídos uns sanitários. (Publicado em 19/01/1962)
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