PETRONIO FILHO
Doutor em economia pela Unicamp
O fracasso das reformas econômicas de Chicago no Chile foi gigantesco. Ele esteve refletido nas principais estatísticas econômicas - PIB per capita, inflação, distribuição de renda e estabilidade financeira. O ultraliberalismo de Pinochet foi um arrasa-quarteirão. O Chile, que antes do golpe tinha mais do dobro (212%) da renda per capita do Brasil, foi devolvido aos civis com 79% da nossa renda per capita. E com apenas 59% da renda per capita média do mundo (dados do WDI, banco de dados do Banco Mundial).
O Chile foi, em uma palavra, saqueado. O número de bilionários se multiplicou enquanto o país regredia em todos os indicadores econômicos, sociais e políticos. A inflação média dos 16 anos de Pinochet foi 107,3%. O Chile só alcançou a estabilização dos preços, que seria a inflação de um dígito, seis anos após o fim da ditadura militar. O percentual de famílias chilenas vivendo na pobreza, segundo o censo, saltou de 17% em 1970 para 35% em 1990.
Os Chicago Boys promoveram liberalização radical do mercado financeiro e cambial. Tal liberalização produziu a segunda maior crise financeira da história da América Latina. O PIB afundou 11% em 1982 e 5% em 1983. O custo fiscal do ''experimento de Chicago'' chegou a 41,2% do PIB.
O único erro que os Chicago Boys não cometeram foi entregar a riqueza nacional ''as minas de cobre'' para as multinacionais. Pinochet manteve o monopólio estatal do cobre, cuja exploração havia sido estatizada por Salvador Allende.
Os números do desastre econômico do governo Pinochet são de fácil consulta. Isto não impediu o Ministro Paulo Guedes de dizer várias vezes que os Chicago Boys transformaram o Chile em uma Suíça.
A comparação entre o Chile e a Suíça é fiel? A Suíça tinha, em 1990, metade da renda per capita mundial? A Suíça tinha inflação de três dígitos? A Suíça tinha 35% das famílias vivendo na pobreza? A Suíça de 1990 tinha um regime ditatorial que torturava e matava os cidadãos?
Será que o Guedes não confundiu a Suíça com o Haiti? Ou com a Uganda? A aplicação do modelo chileno ao Brasil, por meio do ''teto'' dos gastos, exigirá na prática a destruição da educação pública, do SUS e da Previdência Social - como aconteceu no Chile. Querem forçar a população mais pobre a pagar do próprio bolso por escolas, universidades e atendimento médico.
Curiosamente a esquerda chilena, a exemplo de suas congêneres latino-americanas, não teve a coragem política de desfazer as reformas neoliberais. A Constituição de Pinochet foi mantida. Só em 2020, 30 anos após o fim da ditadura, a pressão popular exigiu que fosse feita uma consulta à população. E o resultado foi que a Constituição de Pinochet perdeu de lavada: 20% a 80%.
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