Distopia à vista
Não é de agora que escritores, visionários, filósofos e outros pensadores da questão humana imaginam e preveem um mundo e uma sociedade distópica, em que os valores morais e éticos e todas as relações sociais saudáveis desabaram para um patamar no subsolo, em que a opressão, o autoritarismo, a anarquia e a desagregação do indivíduo e das famílias passam a dominar o ambiente de todas as nações, fazendo do exercício da vida um tormento sem fim.
Obras literárias de grande valor como 1984, de George Orwell; Admirável Mundo Novo, de Aldous Huxley, Fahrenheit 451, de Ray Bradbury, Guerra dos Mundos, de H.G Wells, e uma centena de outras buscaram descrever esse mundo futuro de pesadelo, em que a tecnologia, anteriormente pensada para libertar o homem dos trabalhos enfadonhos e infindáveis, agora passa a ser usada como ferramenta para controlar e oprimir as massas, criando um ambiente no qual todos são absolutamente vigiados e escravizados do nascimento até a morte.
Mesmo as grandes metrópoles, outrora majestosas e desejadas, vão se transformando, dentro desse novo ambiente de miséria humana, em lugares decadentes e extremamente hostis. Ocorre que, se, no passado, essas imagens e predições ficcionais foram utilizadas por seus autores, dentro de um contexto que visava alertar e satirizar para a possibilidade das sociedades modernas transformarem o planeta num lugar de absoluto sofrimento, hoje, mais e mais parece que estamos nos dirigindo ao encontro daquilo que mais temíamos: construindo com nossas próprias mãos, a Torre de Babel distópica que poderá erguer o inferno sobre a Terra, antes mesmo do advento do apocalipse.
Alguém afirmou que o único cenário que a mente humana não pode trazer para a realidade é aquele que não consegue elaborar mentalmente. Em outras palavras, e dentro das possibilidades infinitas de nossa espécie e que nos torna diferente de outros seres vivos, temos uma capacidade de projetarmos o futuro e nos encaixarmos nele, mesmo que esse futuro não seja do nosso agrado e nos coloque em rota de colisão contra a nossa continuação própria da espécie.
É essa dualidade humana, ao mesmo tempo a unir o Eros e o Tânatos, que temos que arrastar para frente, num combate eterno contra nós mesmos tão bem representado pela alegoria de Sísifo, condenado a empurrar para sempre, morro acima, uma gigantesca pedra que, ao atingir o topo, volta a rolar morro abaixo.
Essas reflexões vêm a propósito do fenômeno experimentado em boa parte do mundo e que parece decretar o que seriam os primeiros sinais da morte da cultura, em todos os seus aspectos. De certa forma, esse seria, para muitos, o prenúncio a indicar que estamos no limiar de um mundo distópico. O fechamento de teatros, museus, bibliotecas, livrarias, galerias de arte, cinemas e mesmo o que parece ser a falência da música, dos coros, das orquestras, da moda e de tantos outras invenções do gênero humano, tão necessários para a evolução de nossa espécie e que nos tornam aquilo que buscamos ser: seres humanos.
Trata-se de um fenômeno que vai acontecendo não apenas por indução da pandemia, mas da própria condição atual de todos nós terráqueos, preocupados e envoltos em nossas revoluções internas, enquanto destruímos o planeta e todo o seu bioma. Escondidos em nossas cavernas modernas, fugimos do vírus externo, enquanto, por toda a parte, as lideranças políticas vão assenhorando a máquina do Estado, transformando nossas instituições e criando outras à imagem e segundo semelhança de seus propósitos.
Rompida a barreira da cultura, estarão abertas as brechas para o alagamento total de nossa civilização, abalada pelos esforços contínuos de destruição das famílias e o que resta de ensino público. Enquanto permanecemos mergulhados em hibernação, um mundo distópico vai sendo erguido bem defronte de nossas casas.
A frase que foi pronunciada:
“Os romances distópicos ajudam as pessoas a processar seus medos sobre como será o futuro; além disso, eles geralmente mostram que sempre há esperança, mesmo no futuro mais sombrio.”
Lauren Oliver, escritora norte-americana
Gestão
» Depois do elogio feito à farmácia de alto custo, o que acontece hoje é que não previram o fim do contrato com a empresa que entregava os medicamentos por motoqueiros. Quem recebe os remédios são pessoas de saúde vulnerável, daí a necessidade da entrega em domicílio. Resultado: na Estação de Metrô 102 Sul, a fila é grande, com pessoas que não precisariam estar ali se houvesse uma administração competente.
Que presente
» Acompanhar cada passo do PSol é uma tarefa difícil para quem ainda preza a instituição familiar. Desconstruir a biologia forçando meninos e meninas, crianças ainda, serem sugestionados a trocar de sexo é um escândalo plantado, em que a tempestade não vai ser colhida por essa geração inconsequente. Um partido que desconstrói trabalha com escombros.
História de Brasília
O doutor Tancredo Neves mandou dizer que a reunião do Conselho de Ministros foi adiada, porque ele precisava receber o chanceler do México. Se não passar ninguém pelo Rio, na terça-feira próxima, haverá reunião em Brasília. (Publicado em 1901/1962)
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