OPINIÃO

Brasil precisa de união

''Ao longo das duas últimas décadas, o Brasil vem assistindo a um insidioso processo de polarização que contrapõe negros x brancos x indígenas, ricos x pobres, direita x esquerda, questões de gênero e religiosas que só fazem minar nossa unidade. O Brasil é de todos''

Luiz Cezar Loureiro de Azeredo
postado em 02/11/2020 06:00 / atualizado em 02/11/2020 10:37
 (crédito: Gomez)
(crédito: Gomez)

O Brasil é grande, diverso em cultura, com fortes destaques regionais e uma fantástica mistura de raças. Temos a dádiva de ter uma população de 215 milhões de habitantes falando a mesma língua e alimentando os mesmos sonhos. Na edição de 25 de outubro do Correio Braziliense, Ana Maria Campos apresentou, em sua coluna Eixo Capital, uma oportuna entrevista com o jornalista e escritor Silvestre Gorgulho, que acaba de lançar seu novo livro intitulado De Casaca e Chuteiras — A Era dos grandes dribles na Política, Cultura e História. O livro aborda a trajetória de vida e de ações de JK e Pelé, dois grandes personagens que, com persistência, dedicação e coragem deram um notável exemplo de vida a todos os brasileiros.

Fruto de um longo e cuidadoso trabalho de pesquisa, De Casaca e Chuteiras descreve a grande evolução econômica, social, cultural e esportiva que o Brasil teve a partir de 1956, início de um período de cinco anos caracterizado como “os anos dourados”. A publicação enfatiza o importante papel de JK e Pelé na construção de um ambiente no qual nosso país foi motivo de orgulho para seus cidadãos e objeto de admiração no mundo inteiro.

Na entrevista sobre o livro, o autor reforça a importância de Pelé e JK na formação de nossa identidade. Pelé, seguramente, é o brasileiro mais conhecido no mundo, além de ter sido reconhecido como o maior atleta do século 20. JK é o grande presidente que redescobriu o Brasil ao inserir o Centro-Oeste no mapa do desenvolvimento nacional. Com a corajosa decisão de construir e transferir a capital para o Planalto Central, JK provocou uma revolução geopolítica de significado ímpar em nossa história.

Tanto Edson Arantes do Nascimento, negro, quanto Juscelino Kubitschek de Oliveira, branco, tiveram uma infância bastante difícil, mas souberam, com muito esforço e coragem, construir e acreditar em seus sonhos. Ambos tiveram uma trajetória de vida singular.

Pelé simbolizava não só a arte esportiva, mas também a objetividade e o grande poder de improvisação. Suas jogadas geniais encantavam as torcidas de um lado e de outro. Em campo, era aplaudido até por adversários. Todos os jogadores que o enfrentaram sempre tiveram uma grande admiração por seu talento inigualável e pela mensagem de paz, cordialidade e harmonia que sempre fez questão de difundir.

JK, hoje justamente considerado como um dos maiores estadistas da história do Brasil, combinava com perfeição a ousadia e a eficiência que norteava sua ação administrativa. Era magnânimo, agia com tolerância e exercia a atividade política com respeito e determinação. As inúmeras manifestações de apoio, carinho e agradecimento que ele recebeu nos mais diversos pontos do mundo eram, antes de mais nada, justa e merecida homenagem por seu extraordinário trabalho.

A dobradinha JK e Pelé fez nosso país ser respeitado no exterior e mais amado pelos brasileiros que passaram a ter uma certeza cada vez maior no imenso potencial do nosso país e na força e na unidade do nosso povo.

Vale lembrar que Gorgulho citou com propriedade outro ícone, Ayrton Senna da Silva. Este proveniente de uma família que não sofria as dificuldades da falta de recursos, mas também se tornou um dos maiores ídolos do automobilismo mundial. Senna também muito contribuiu para projetar o nome de nosso país em âmbito internacional, além de se constituir em um grande exemplo de inspiração para os jovens.

É oportuno ressaltar que, além de ter sido um esportista que teve suas excepcionais qualidades reconhecidas, Ayrton Senna semeou programas educacionais e apoiou crianças mais carentes. Exigia como única contrapartida o sigilo total de suas atividades filantrópicas.

Esses três heróis deram alma e autoestima ao Brasil. Observação verdadeira e interessante, pois mostra a importância de um país abrigar uma sociedade unida onde as diversidades naturalmente existentes são tratadas com tolerância e respeito. Ações que ajudam a solidificar a construção de um país mais solidário e justo. Sem harmonia, ética e cooperação não se faz um ambiente de desenvolvimento e paz.

Esses exemplos, mais do que nunca, têm que permear a consciência nacional. Ao longo das duas últimas décadas, o Brasil vem assistindo a um insidioso processo de polarização que contrapõe negros x brancos x indígenas, ricos x pobres, direita x esquerda, questões de gênero e religiosas que só fazem minar nossa unidade. O Brasil é de todos. E todos devem ser do Brasil. A união do rebanho obriga o leão a dormir com fome.

 

 

* Economista 

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