Os Estados Unidos estão divididos. A ferrenha disputa pela Presidência entre o republicano Donald Trump, que deseja um segundo mandato, e o democrata Joe Biden, ex-vice-presidente de Barack Obama, exibiu as fraturas da sociedade da maior potência mundial. Os resultados parciais das eleições indicam que Trump não será mais o inquilino da Casa Branca nos próximos quatro anos. Os norte-americanos dizem “não” ao projeto da ultradireita, representada pelo republicano.
Donald Trump fez uma avaliação equivocada do desempenho do seu governo. Achou-se imbatível. O país mostrou bons índices de crescimento econômico, com queda na taxa de desemprego. Uma política pragmática que tornou os ricos mais ricos. Entretanto, os resultados não foram os melhores de todos os tempos, como ele alardeou. Em 2018, a economia cresceu 2,9%. No ano passado, 2,3%, resultado abaixo dos obtidos por Barack Obama em vários dos anos daquele governo.
Apesar disso, o país mais rico do planeta abriga mais de 40 milhões de cidadãos abaixo da linha da pobreza — a maioria, negros e latinos. As políticas sociais das últimas décadas foram insuficientes. Vale-alimentação e seguro desemprego, instrumentos usados pelo Poder público, contêm a expansão da miséria, mas são limitados e ineficazes para erradicar a tragédia social. Nada mudou na gestão Trump.
A eclosão da pandemia do novo coronavírus foi ironizada e negligenciada pelo magnata. Insurgiu-se contra as orientações da Organização Mundial da Saúde (OMS), o que levou o país a ocupar a primeira posição em número de infectados e óbitos pela covid-19. Tanto a contaminação quanto o número de mortos seguem aumentando. Como no resto do mundo, os mais vulneráveis são os mais atingidos. Diferentemente do Brasil, os Estados Unidos não têm um Sistema Único de Saúde (SUS), que assegura atendimento médico-hospitalar gratuito. Lá, para acessar tratamento de qualidade, é preciso ter dinheiro.
Outra chaga é o racismo institucionalizado. O governo Trump não foi um pacificador. Ao contrário, apostou no conflito étnico-racial e foi explícito na sua rejeição aos afro-americanos. Isso ficou claro diante da sua conduta à frente da execução por asfixia de George Floyd por policiais brancos de Minneapolis, em 25 de maio último. O crime levou milhares de norte-americanos às ruas da maioria dos estados, movidos pelo slogan “Vidas negras importam” — mas não para Trump. Hoje, os brancos representam 60% da população contra 90% na década de 1950.
A sua provável derrota eleitoral está associada também ao descaso com a tendência mundial por uma economia sustentável. Uma das suas primeiras decisões foi retirar os Estados Unidos do Acordo de Paris. Ele não acredita nas mudanças climáticas. Rejeita os organismos multilaterais, como se globalização fosse um corpo celeste que deve gravitar em torno do seu país.
Do alto da sua arrogância e de comportamentos retrógrados, angariou antipatias e semeou conflitos. Apelou para a propagação de mentiras, abusou das fake news e dos blefes. Tratou os americanos como seres incapazes de confrontar o discurso com a realidade. Hoje, é criticado por aqueles que, até então, eram seus aliados. As sociedades mudaram. A maioria delas recusa políticas excludentes e que colocam o capital acima dos direitos humanos. Os valores do século 21 são outros e quem os ignora está fadado à derrota.
Notícias pelo celular
Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.
Dê a sua opinião
O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.