Falta menos de uma semana para as eleições municipais. Em breve poderemos escolher as lideranças dos poderes Executivo e Legislativo das 5.570 cidades do país, aqueles e aquelas que serão responsáveis por criar políticas públicas para os próximos quatro anos.
Esta sempre foi uma grande responsabilidade, mas ela certamente se tornou ainda maior no contexto atual: prefeitos, prefeitas, vereadores e vereadoras eleitos terão diante do si o desafio de mitigar os efeitos que a pandemia do coronavírus trouxe para as distintas áreas da sociedade, ao mesmo tempo em que conectam seus municípios às tendências e oportunidades que devem surgir nos próximos anos.
O momento é estratégico e as decisões tomadas agora não devem influenciar somente os próximos 4 anos dos mandatos, mas, sim, definir as bases sobre as quais construiremos — ou não — as cidades do futuro. Sendo assim, te convido a uma reflexão: que tipo de cidade queremos construir para superar os problemas urbanos, como educação, saneamento, infraestrutura e transporte?
A minha resposta para essa pergunta é direta: para enfrentar os problemas graves que afetam a realidade dos mais de 85% de brasileiros e brasileiras que vivem no meio urbano, precisamos construir Cidades Inteligentes.
As Cidades Inteligentes ou Smart Cities utilizam tecnologia para gerar eficiência nas operações urbanas, de tal forma que mantêm seu desenvolvimento econômico ao mesmo tempo em que melhoram a qualidade de vida da população. A regra, portanto, é o uso otimizado e interdependente dos recursos, ao mesmo tempo em que se prioriza o bem-estar dos cidadãos em todas as decisões tomadas.
O ranking Connect Smart Cities 2020 traz um panorama sobre o tema no Brasil. Analisando indicadores de todos os 673 municípios com mais de 50 mil habitantes, a pesquisa aponta São Paulo (SP) como a líder do ranking, seguida por Florianópolis (SC), Curitiba (PR) e Campinas (SP), ocupando os segundo, terceiro e quarto lugares, respectivamente. Engana-se quem acredita que somente cidades de grande porte podem ser “inteligentes”: municípios como São Caetano do Sul (SP, 6ºlugar), Santos (SP, 7º lugar) e Niterói (RJ, 11º lugar), também ocupam as primeiras posições do levantamento.
Pelo mundo, vemos exemplos concretos de Cidades Inteligentes, como na Coreia do Sul. A cidade de Songdo é referência mundial por conta do planejamento urbano. Construída ao redor de um aeroporto, sua população é estimada em 250 mil habitantes em 2020. Entre as tecnologias implantadas estão a reprogramação de semáforos de forma automática caso haja intensidade de tráfego em certas vias. A densidade do trânsito é controlada por sensores subterrâneos e há, também, um sistema inovador para recolher lixo, o pneumático, que praticamente elimina a necessidade de coleta.
Na Espanha, Barcelona também é exemplo quando falamos de coleta de resíduos. Lá, existem escotilhas por toda parte que recolhem os sacos de hora em hora, durante os sete dias da semana. Todas as bocas dos latões são conectadas a um gigantesco sistema de tubulação enterrado a pelo menos cinco metros da superfície. Trata-se de um grande sugador que aspira o lixo. Os sacos chegam a viajar a 70 km/h pela tubulação, chegando ao destino final, em um centro de coleta.
Em Copenhague, capital da Dinamarca, a tecnologia é utilizada, especialmente, para diminuir emissões de carbono, reduzindo, consequentemente, a utilização de combustíveis fósseis. Há investimento pesado em ciclovias para incentivar a população a utilizar bicicletas em vez de carros. Para que isso acontecesse de maneira eficiente, foi preciso criar estacionamentos próprios para esta modalidade de transporte, locais de aluguel e devolução, além de dispositivos para transporte do equipamento no modais públicos, como trens, ônibus e metrôs. O resultado é que 55% da população utiliza bicicleta para ir ao trabalho diariamente, reduzindo 21% das emissões de carbono nos últimos 12 anos.
Embora não haja uma única definição do conceito, cada vez é mais evidente a relação entre as Cidades Inteligentes e o uso de tecnologias. Em estudo global publicado pela Aruba, empresa da Hewlett Packard Enterprise, chamado “A Internet das Coisas: Hoje e Amanhã”, depoimentos apontam que 71% das cidades que investiram em IoT (Internet of Things) na gestão dos serviços urbanos conseguiram reduzir custos. Entre as cidades observadas, 70% afirmam que a tecnologia oferece melhor visibilidade para os processos de gestão, facilitando para que novos investimentos sejam realizados até se alcançar o patamar de cidades inteligentes.
A tendência é de que a vida nas zonas urbanas se torne cada vez mais complexa e excludente, caso não sejam realizadas mudanças na forma como se faz a gestão dos recursos e das demandas das metrópoles.
Por esse motivo, as cidades inteligentes não podem mais estar fora da agenda política. Este assunto não faz mais parte de um futuro distante. Pelo contrário, está acontecendo com total rapidez pelo mundo afora. Nas eleições deste ano, precisamos de líderes dispostos a transformar os municípios em um modelo mais participativo e inteligente.
A boa notícia é que, para essa árdua tarefa, as tecnologias digitais e a inovação aplicadas ao governo são poderosas aliadas. Elas ampliam a disponibilidade de dados, permitem o monitoramento contínuo dos serviços, além de fortalecer a capacidade de atendimento, a simplificação dos processos e o aprimoramento da qualidade e da agilidade dos serviços públicos. Com as tecnologias, poderemos construir cidades inteligentes que sejam, acima de tudo, justas, humanas e efetivas.
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