O pragmatismo precisa pautar as relações do Brasil com os Estados Unidos, sobretudo porque se desenha, claramente, a vitória do democrata Joe Biden sobre o presidente republicano Donald Trump, que insiste em ignorar a voz das urnas, que mostra uma diferença de mais de 5 milhões de votos a favor de seu adversário nas eleições presidenciais — Biden também já conseguiu número bem maior do que os 270 delegados necessários para sua indicação à Casa Branca pelo colégio eleitoral. O Palácio do Planalto tem de aceitar o resultado das eleições nos EUA e colocar em prática a máxima que diz que relações diplomáticas e comerciais não são definidas por afinidades pessoais ou ideológicas, mas, sim, pelos interesses nacionais.
Há muito em jogo e não se pode relevar que os Estados Unidos são o segundo parceiro comercial do Brasil — o primeiro é a China. A busca de oportunidades tem de ser constante na acirrada disputa do comércio internacional e crenças ideológicas e laços de amizade não fazem parte do dicionário de exportadores e importadores. A preferência explícita do presidente Jair Bolsonaro pela reeleição de Trump tem de ser deixada para trás para não interferir, ainda mais, nas trocas comerciais com os americanos.
Há de se ressaltar que, entre janeiro e setembro deste ano, o comércio bilateral despencou 25% em relação a igual período do ano passado. Assusta o fato de que a redução das transações comerciais brasileiras com os americanos foi a maior entre todos os parceiros do Brasil, mesmo com o alinhamento total do Ministério das Relações Exteriores com a política segregacionista e unilateralista de Donald Trump.
Certo é que de nada adianta aliar-se cegamente a governantes de outros países quando o assunto é o comércio externo, o que fica demonstrado pela retração, em 2019, de 31% nas exportações para os EUA. Ainda assim, existem muitos interesses comuns a serem explorados. Os dois países são parceiros destacados em diversas áreas, como a indústria energética e aeroespacial, e o Brasil, hoje, ocupa o segundo lugar na América Latina no comércio bilateral com os americanos.
O governo não deve alimentar maiores frustações na relação com os vizinhos do norte, que, frequentemente, nos veem como parceiros naturais em questões regionais e globais. Relatório do Congresso dos EUA aponta, por exemplo, a existência de laços históricos e interesses mútuos para que as duas nações avancem em suas parcerias comerciais e estratégicas. Indica que as relações econômicas e comerciais devem ser aprimoradas e sugere um futuro acordo de livre comércio como o existente com o Canadá e o México. Assim, são muitos os motivos para que o Planalto busque aproximação, o mais rapidamente possível, com a futura administração democrata dos EUA, para o bem do próprio Brasil.
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