Opinião

O valor do voto

Ana Dubeux
postado em 15/11/2020 09:17
 (crédito:  Cícero Lopes/CB/D.A Press)
(crédito: Cícero Lopes/CB/D.A Press)

Hoje, Iara não vem ao Plano Piloto. Pediu licença ao patrão para comparecer a um compromisso inadiável. Iara mora no Entorno. Vai votar. Como muitos, trabalha por aqui, mas vive por lá o tempo que sobra. Ali, tem seus vizinhos, cultiva suas flores no quintal, dá banho de mangueira no cachorro, leva os filhos à escola e frequenta o terreiro de candomblé. Iara é negra, mãe solteira e vive de luta e esperança. Iara é uma de nós, brasileiros de todas as raças, credos e intenções. Um dos 150 milhões de brasileiros que vão às urnas escolher prefeitos e vereadores.

Brasilienses e eleitores que residem por aqui não votam. Mas, também, têm tudo a ver com a escolha de Iara. O voto dela é decisivo para o resultado de uma eleição que afeta diretamente 1,6 milhão de moradores do Entorno e, em consequência, a nossa vidinha aqui, tão influenciada pelas escolhas Brasil afora.

Iara está cansada. Dos políticos que só aparecem na época de eleição. Daqueles representantes que só reproduzem a imensa desigualdade social, a cruel concentração de renda, a omissão diante de uma educação e saúde pífias, do transporte precário e das condições desumanas para enfrentar uma pandemia como a que estamos vivendo. Iara já decretou que vai votar diferente. Estudou as candidaturas, pesquisou os feitos e os desfeitos dos candidatos, lembrou-se de sua própria condição: sim, ela está na base de uma pirâmide e, sob sua cabeça e corpo cansados, pesam machismo e preconceito, além de todas as outras injustiças que nos assolam.

A gente acende nossas velas para que a escolha de Iara faça a diferença, para que cada brasileiro olhe para seu bairro, sua cidade, seu estado e seu país. É preciso olhar para as eleições municipais com um binóculo potente que permite ver lá na frente. Daqui a pouco, tem eleições para governadores, congressistas e presidente. A escolha de agora reflete-se no amanhã.

Estamos todos cansados, não? Errar no voto é humano. Mas é preciso corrigir rumos. Hoje, começa uma nova jornada rumo à proteção da democracia e à correção de distorções que aprofundam o abismo entre seres humanos com direitos que deveriam ser iguais. Hoje, começamos a desenhar mais uma vez o futuro. Vamos torcer juntos para uma nova era, sem desgoverno, sem instituições fracas que não nos protegem do atraso, sem políticos de aluguel. É difícil, eu sei, mas só o voto tem essa força. Oremos. Por Iara, por nós, por nossos filhos e netos.

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