2020

Ano para lembrar. E esquecer

''Talvez, em 2021, possamos repetir essa experiência de forma extenuante. A duras penas, percebemos que a maior dimensão está nos pequenos, e aparentemente insignificantes, gestos''

Rodrigo Craveiro
postado em 18/11/2020 06:00 / atualizado em 18/11/2020 08:50

O ano de 2020 tem nos ensinado muitas coisas. Uma delas: a ciência salva, o negacionismo mata. Uma nação que não valoriza suas mentes mais brilhantes está fadada a cair na armadilha do obscurantismo, na falácia da demagogia e da hipocrisia. Quando a ideologia se impõe à razão, o risco de desastre é ainda maior. Outra lição que temos aprendido é a de que precisamos uns dos outros. Como nunca. E, também como nunca, temos que nos manter afastados, uma necessária e urgente expressão de respeito pelo próximo. Aprendemos, em 2020, o real valor do amor, a importância de um abraço demorado.

Talvez, em 2021, possamos repetir essa experiência de forma extenuante. A duras penas, percebemos que a maior dimensão está nos pequenos, e aparentemente insignificantes, gestos. Experimente caminhar ou correr em um parque, sentir o cheiro da mata, a brisa tocando o seu rosto ou o sol acariciando sua pele. Admire o crepúsculo, as cores tingindo o céu de Brasília, uma obra de arte por si só.

O ano que está prestes a terminar também nos deu uma bela lição: a democracia pode calar o radicalismo e o extremismo. O populismo barato, construído com a argamassa podre da mentira e das fake news, um dia acaba por desmoronar. O que ocorreu nos Estados Unidos, com a eleição de Joe Biden, foi sintomático: a consciência política de que nenhum extremo leva à salvação. No Brasil, a mesma mensagem foi passada pelas urnas no último domingo. Um pouco de bom senso e de sobriedade em um país punido por seus erros e por seus falsos profetas. 2020 nos ensina que a vida vale a pena, mas é muito curta e precisa ser aproveitada com responsabilidade e intensidade.

Nos últimos anos, tenho procurado experimentar essa intensidade. Algumas sensações foram absolutamente marcantes: acompanhar o nascimento de meu filho na sala de parto; contemplar o Rio Urubamba e as montanhas, a partir das ruínas de Machu Picchu; ajoelhar-me diante da Pedra da Unção, onde o corpo de Cristo foi preparado para o enterro, no Santo Sepulcro; as pescarias com o meu pai; as conversas sobre ufologia e astronomia com meu saudoso e querido avô. Em tempos de pandemia, são experiências que deram muito sentido à minha vida. Eu espero que o amigo leitor também busque essa ressignificação. Muitos de nós tornamo-nos prisioneiros do ego, escravos do tempo e do dinheiro. Não pensamos sobre o caráter efêmero da vida, até que nos confrontamos com a realidade inexorável da morte.

2020 tem nos ensinado pela dor. Espero, de coração, que todos saibamos fazer boas escolhas, ouçamos a ciência, adotemos o bom senso e aprendamos que somos responsáveis uns pelos outros. Mas, também, reverenciemos os mais de 166 mil brasileiros levados pelo coronavírus. A pandemia vai passar. Depende de nossas ações e de nosso compromisso com a saúde. Depois da covid-19, será a vez de aproveitarmos a vida, de abraçarmos quem amamos e de nos abrirmos à plenitude da vida uma vez mais. 

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