O Brasil enfrenta a segunda onda da covid-19, afirma o pesquisador Domingos Alves, responsável pelo Laboratório de Inteligência em Saúde (LIS) da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), que, há oito meses, acompanha o comportamento da epidemia. Mas há os que garantem que o país sequer chegou a superar a primeira onda. Divergências à parte, o número de infectados e de mortes está crescendo. Entre a 45ª e 46ª semana, houve alta de 65% nas infecções, com os novos casos passando de 117.956 para 195.398. Nesse período, o número de óbitos teve incremento de 42%, de 2.385 para 3.389. Hoje, são mais de 166 mil mortos e quase 6 milhões de brasileiros infectados pelo novo coronavírus.
Nos Estados Unidos e na Europa, a situação também é crítica. Nas últimas 24 horas, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), foi registrado novo recorde de mortes no planeta: 11.115. O pico anterior havia sido computado em 17 de abril, de 8.635. O número de novos casos diários de infecção passa dos 600 mil no mundo. E não há perspectiva de redução nesses registros a curto prazo. O alarme foi ligado.
A flexibilização do isolamento social, a reabertura e a retomada das atividades na maioria dos setores da economia, além do relaxamento de proteção individual, somados aos comportamentos inadequados e aos negacionistas da ciência e da medicina, contribuíram para fortalecer o vírus. Entre o caos econômico e a saúde da população, os governantes se viram diante de um dilema singular. Ao menor sinal de queda na taxa de reprodução do vírus, as autoridades começaram, ainda que lentamente, a reabertura de vários segmentos do setor produtivo.
Os cientistas preveem que a vacina estará disponível à população no início do próximo ano. Não há consenso sobre a data. Mas todos estão empenhados em ter o remédio contra o vírus o mais rapidamente possível. Desdobram-se em defesa da vida, não só dentro dos laboratórios, mas, também, no combate às fake news, que sabotam o esforço da ciência nos quatro cantos do planeta e contaminam a população, despertando dúvidas que fortalecem as mais estapafúrdias teorias. Trata-se de risco tão nocivo quanto o próprio vírus.
Diante das orientações do Poder público, muitas na contramão do recomendado pelos especialistas, parte da população rompeu com a quarentena e se expôs de peito aberto ao ataque do inimigo invisível. Além disso, o número de testes ficou aquém do necessário prescrito pela ciência. Foram realizados 15,5 milhões de exames para detectar a covid-19, sendo que só 7,5 milhões eram de PCR, que identificam o vírus ativo, ou seja, com capacidade de transmissão entre indivíduos. A corrupção também deu sua contribuição contra o efetivo combate à doença. Investigações da Polícia Federal revelaram o comportamento hediondo de secretários de Saúde e governadores envolvidos nos desvios do dinheiro destinado à saúde.
Diferentemente das nações desenvolvidas, o Brasil está com as finanças públicas arrasadas. Falta dinheiro para estender o auxílio emergencial, cuja última parcela, de R$ 300, será paga no próximo mês. Eis mais um desafio para as autoridades sanitárias e para a equipe econômica do governo. Qual será a orientação do Poder público para conter a expansão da covid-19 daqui por diante? A resposta é urgente.
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