Sabe de nada, inocente!
Anedota que corre pelas terras do Sul do país diz que os eleitores gaúchos, por sua teimosia histórica, votam na esquerda, depois saem em massa em direção aos estados de Santa Catarina e do Paraná em busca de empregos e melhores condições de vida. Pelo sim, pelo não, o fato é que muitos analistas acreditam, de olho nas pesquisas, que a vitória da candidata do PCdoB, Manuela D’Ávila, para prefeitura de Porto de Alegre é quase certa. Com a ausência de boa parte do eleitorado gaúcho nas urnas, a esquerda, mais disciplinada, tem aproveitado a oportunidade e está quase chegando ao comando da capital, correndo paralelo aos acontecimentos que se desenrolam do outro lado da fronteira, na Argentina, onde a esquerda avança sobre um país em ruínas.
Em São Paulo, o mesmo fenômeno ocorre com a disputa entre os candidatos Boulos e Covas. A questão é saber que importância esses fatos, que vêm ocorrendo a quilômetros de Brasília, tem para o futuro político da capital. Isso, depois que forçaram a cidade a entrar nesse jogo de disputas, no qual quem mais perde é o cidadão, que é chamado a pagar as contas dos gastos astronômicos deixados pelos políticos.
Dois fenômenos trazidos pelas eleições em segundo turno, que hora se processam tanto no Rio Grande do Sul, quanto em São Paulo, podem esclarecer melhor o que, hipoteticamente, está por vir em direção também a Brasília. Primeiro, é possível detectar que a posição, um tanto inusitada, que coloca Manuela e Boulos com possibilidades de chegar ao comando das prefeituras dessas duas importantes cidades pode ser explicada pela situação de vantagem que os dois postulantes aparecem nas mídias sociais, talvez por conta de maior cumplicidade e intimidade que eles têm com essas mídias.
Em segundo lugar, a posição que, para alguns, pode prenunciar um retorno e um avanço das forças de esquerda ao controle do país, deve-se a um maior envolvimento dos eleitores jovens nessas campanhas, talvez, até uma espécie de revanche contra as posições extremadas do bolsonarismo em relação às mulheres, às causas gays e a outras bandeiras que a juventude enxerga e assimila constantemente nas universidades e nos movimentos culturais.
Também, o apoio dado por uma coleção de artistas a esses candidatos de esquerda empresta certo peso às candidaturas deles e ajudam na identificação com a população mais jovem. Contudo, não bastam o fenômeno das mídias sociais e a adesão da classe artística para alavancar e tornar viável essas candidaturas, ainda mais no meio do mandato do atual presidente, com o cacife que ainda lhe resta.
De toda forma, um fato muito maior e de alcance planetário vem chamando a atenção de boa parte da classe política no Ocidente: cada vez mais, a população jovem, em todo o mundo, principalmente em países de grande prosperidade econômica, está declarando sentimentos de afinidade com as ideias de socialismo, comunismo e outras de vertentes esquerdistas. Tanto na Europa Ocidental quanto nos Estados Unidos, mais e mais, os jovens se declaram simpáticos às esquerdas. Nos Estados Unidos, esse sentimento é mais observável, inclusive, com parcela significativa dos militantes do tradicional Partido Democrático local, declarando-se abertamente adepta da cartilha socialista.
O mais curioso é notar que esses jovens, vivendo na maior abundância material que o capitalismo pode proporcionar e, mesmo desconhecendo a verdadeira face do comunismo e o que esse regime provocou no mundo entre ruínas e mortes, ainda assim, empenham-se em reviver a esquerda em seus países. Para essa população que clama por menos liberdade de mercado e mais poder de intervenção do Estado, o futuro parece se desenhar com tintas escurecidas.
Para a geração de professores universitários que, durante a guerra fria, conseguiram emigrar para os países capitalistas, principalmente economistas, sociólogos, estatísticos e outros letrados em ciências humanas e que viveram sob esses regimes, anos e anos de agruras e falta de alimentos e oportunidades, ouvir seus jovens alunos pregarem a favor do comunismo soa como um retorno ao inferno. Para outros, como o professor de economia, o romeno Rosíu Ovidiu Petre Octavian, as pregações de seus pupilos eram acolhidas com um sorriso no canto dos lábios e um silêncio de quem diz para si próprio: “Não sabem de nada, inocentes”.
A frase que foi pronunciada
“Quanto mais o tempo passa, menos eu significo para as pessoas e menos elas significam pra mim.”
Charles Bukowski, romancista estadunidense nascido na Alemanha
História de Brasília
Hoje, é o aniversário de um homem tímido, inteligente, capaz, seguro, às vezes ingênuo, que confia nos homens, acredita nas palavras alheias. Hoje, é o aniversário de um homem simples, que tem tudo para ser orgulhoso. Hoje, é o aniversário de um gênio. Bom dia, doutor Oscar Niemeyer. (Publicado em 15/12/1961)
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