A semana vai chegando ao fim, mas os efeitos do primeiro turno das eleições municipais ainda agitam as rodas de conversa dos políticos e grupos de WhatsApp com assessores. Naufrágio de candidaturas ligadas ao presidente Jair Bolsonaro, crescimento de nomes vinculados à esquerda na reta final e odomínio dos partidos de centro nos grotões sinalizam as escolhas do eleitorado durante a pandemia.
O pouco tempo de campanha dificulta viradas no segundo turno, com a confirmação, por exemplo, das vitórias de Eduardo Paes, no Rio, e de Bruno Covas, em São Paulo, daqui a dois domingos, mas a votação recebida será fundamental para saber como está a consolidação do apoio popular nas duas maiores capitais do Brasil.
E a classe política faz todas as avaliações de olho em 2022, quando estará em disputa a renovação de mandatos legislativos, palácios estaduais e o Planalto, a joia da coroa. Tanto que as medidas econômicas que devem ser adotadas pelo governo nos próximos meses para tentar colocar o país no rumo do crescimento, em que algumas devem ser bastante impopulares, terão peso fundamental na formação de alianças eleitorais.
A situação financeira do país ditará a escolha do eleitor. Ainda mais com o aumento recente de casos e mortes provocadas pelo novo coronavírus, o que dificulta as análises sobre o que será 2021.E sobre 2022, vejo com certo receio a informação dada pelo ministro Luís Roberto Barroso, presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), de que está em estudo a adoção de um novo sistema de votação. A ideia é que seja on-line ou por aplicativo.
Segundo Barroso, tudo depende do avanço das propostas feitas por empresas privadas ao projeto Eleições do Futuro, que tem o objetivo de iniciar avaliações para eventuais mudanças no sistema eleitoral. Sou um defensor do uso da tecnologia. O grande problema é que a votação on-line ou por aplicativo significa abrir a porta para a volta do voto de cabresto, prática comum no Brasil na primeira metade dos anos 1900.
Não vejo como risco a transmissão com segurança do voto para as centrais apuradoras, mas, sim, acabar com o sigilo da escolha eleitoral de determinada parcela da população. Temos no país regiões dominadas por milícias ou pelo tráfico. Não é difícil imaginar que haverá um controle no celular ou no computador para que o morador vote no candidato do “chefão” da área. O mesmo poderá ocorrer em empresas, em que o emprego poderá ser condicionado ao voto. A inviolabilidade da cabine de votação das seções eleitorais é a manutenção da democracia. Podem ter certeza.
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