Pela oitava vez consecutiva, o Brasil fechará o ano com as contas no vermelho. A primeira onda da pandemia do novo coronavírus derrubou todas as previsões para este ano. A equipe econômica prevê que o rombo fiscal de 2020 será de R$ 891,1 bilhões. Desse total, R$ 605 bilhões são atribuídos ao impacto da crise sanitária.
O Produto Interno Bruto (PIB), que teve um crescimento pífio em 2019 — 1,1% —, vai encolher neste ano 4,7%, segundo as previsões mais otimistas. O ano-novo será velho, com dificuldades ainda bem maiores. O esforço para levar o país ao caminho do desenvolvimento exigirá muito do governo. Atrair investidores nacionais e estrangeiros é imperativo para alavancar a economia. Mas isso não será conseguido sem que haja credibilidade e alinhamento do Brasil com a tendência global.
A política ambiental é ponto de tensão entre o governo brasileiro e os países desenvolvidos que aderiram ao Acordo de Paris, que tem entre os seus objetivos orientar a migração para uma economia verde, a preservação da natureza e a redução drástica da emissão de gases de efeito estufa. O propósito é evitar que a elevação da temperatura comprometa a vida humana e de todas as espécies do planeta.
Nos últimos dois anos, o Brasil perdeu a condição de líder mundial de governança ambiental e passou a ser “pária ambiental”, dada a reversão das políticas públicas para o setor. Neste ano, as queimadas no período de estiagem e os desmatamentos bateram recordes de perdas florestais na comparação com a década passada. Superou, inclusive, os governos de Dilma Rousseff e Michel Temer, nos quais a questão ambiental foi relegada a segundo plano.
Nações como França, Alemanha, Noruega e outras têm capacidade e interesse em investir no Brasil, desde que a política ambiental não trafegue na contramão da tendência mundial. Isso implica preservação dos biomas e, principalmente, dos ecossistemas amazônicos, além de políticas públicas voltadas às populações originárias e tradicionais.
O presidente eleito dos Estados Unidos, Joe Biden, pretende reingressar a maior potência do mundo no Acordo de Paris e derrubar as regras editadas por Donald Trump, um negacionista das mudanças climáticas. Em relação ao Brasil, Biden se propõe a arrecadar pelo menos US$ 20 bilhões para garantir a preservação da Amazônia. Mas, até agora, a sua vitória não foi reconhecida pelo presidente Jair Bolsonaro, alinhado com Trump.
Bolsonaro pensa e age diferente. Ele entende que as condicionantes dos países defensores do meio ambiente são intervenções e ameaças à soberania nacional. Ele quer expandir a produção agropecuária, a mineração e outras atividades que implicam derrubada da floresta, com impactos ambientais inimagináveis, além de ameaça à vida das populações indígenas e tradicionais.
Desconsidera que é possível expandir o agronegócio sem invadir a floresta. O país dispõe de 55 milhões de hectares não antropizados disponíveis à produção de alimentos. Entre os setores que podem ser afetados pelos planos do presidente, está o agronegócio, com peso expressivo nas exportações nacionais. Nos primeiros nove meses deste ano, o setor arrecadou US$ 77,9 bilhões, com destaque para as vendas de soja, carne bovina e açúcar ao exterior. Há países que ameaçam boicotar os produtos agropecuários do Brasil, o que vem elevando o grau de preocupação dos empresários do campo.
Para um país com a economia arrasada, com quase 14 milhões de desempregados, a perda de investimentos nacionais e estrangeiros pode aprofundar ainda mais o caos social e econômico que permeia o Brasil. Hoje, o que está ruim poderá ser ainda muito pior, se o governo brasileiro persistir no isolamento em relação ao movimento global pela bioeconomia.
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Tempo de despertar
O assassinato de João Alberto Silveira Freitas, espancado e asfixiado por dois seguranças brancos em uma unidade do Carrefour em Porto Alegre, no Dia da Consciência Negra, não é surpreendente, não é fora do comum, não é o primeiro caso chocante de massacre de um negro e provavelmente não será o último — ainda que seja doloroso demais dizer isso. O Brasil, um país que se tornou especializado em produzir tragédias causadas por desigualdades de todo tipo, extermina a população preta. E não é de hoje.
Tão grave quanto o histórico genocida é o negacionismo. Negar o racismo estrutural é matar não apenas corpos, mas a esperança de igualdade, de liberdade, de dias melhores para todos os brasileiros. É uma segunda morte e um segundo ataque às famílias que ficam órfãs de crianças, adolescentes, jovens, pais de família.
Além de um cinismo absurdo, existe uma lógica perversa por trás da parcela da população que insiste em declarar que o racismo não existe, que episódios como o homicídio de João Alberto são pontuais e “lamentáveis”. O discurso é covarde e desrespeitoso. A fala reflete ignorância e gera omissão. Mas não é apenas isso.
Dizer que não existe racismo é dizer com todas as letras que é para deixar tudo como está, assim mesmo. Um Brasil onde uma elite machista, racista e branca tenha todos os privilégios. Um Brasil ainda escravagista, partidário de um fingimento coletivo que nos define como “democracia racial”. Não. Nós somos o que somos: profundamente preconceituosos. Tanto que muitos, talvez, de fato, não percebam. A maioria, no entanto, prefere fingir.
Ainda discutimos políticas de cotas como se não fossem necessárias para promover justiça e inclusão. Ainda ignoramos que mulheres negras são a parcela mais vulnerável da sociedade. Que jovens pretos são os mais assassinados e os mais encarcerados. Que as estatísticas nunca deixaram de exibir todas as desigualdades no mercado de trabalho, nas escolas, no nível de renda.
Quem nega, repito, mata de novo. Mata a memória de quem foi barbaramente assassinado. Mata a confiança de que a justiça será feita. Mata a reflexão que poderia levar à mudança após um caso tão emblemático como este. Mata a esperança de igualdade. E mata a si próprio, negando-se o direito de ser um ser humano melhor, que está aqui para evoluir.
Vejo, contudo, avanço. Vejo manifestações necessárias. Vejo cada vez mais espaço preenchido com o grito das pessoas pretas. Este é o eco que pode reverberar mudança. Ela está acontecendo aos pouquinhos, a despeito do querer branco e privilegiado. Convido você a ampliar esse espaço. Dê a voz, dê a vez. Reconheça, ouça, leia, estude e seja novamente alfabetizado, desta vez pelas vozes pretas.
Desabafo
Racismo no Brasil não existe para quem enxerga um mundo plano, talhado a foice e martelo.
Eriston Cartaxo — Setor Noroeste
Muito bem à coluna Visto, lido e ouvido: péssima a decisão do Banco do Brasil em quebrar o convênio com as lotéricas.
Paulo Molina Prates — Asa Norte
Curtida de perfil do papa em foto de modelo brasileira investigada pelo Vaticano. Curtidor já está perdoado: bella ragazza!
José Matias-Pereira — Park Way
Charge
>> Sr. Redator
Racismo
Quando um organismo, seja de pessoa ou corpo social, não reconhece ter uma doença crônica e fazer o que a ciência orienta (médica ou social) para curar, a tendência é a doença tornar esse corpo podre até a total corrupção biológica ou moral. Até quando o Brasil não vai assumir que é uma país preconceituoso e racista? Para esse mal a vacina já existe: ética e respeito à diversidade.
» Roberto Rodriguez Suarez,
Lago Norte
» O revoltante caso de João Alberto, espancado até a morte em um supermercado, é oportunidade para se levantar outros problemas nesse tipo de estabelecimento. Poucos caixas — que trabalham em más condições —, filas, preços errados e elevados. Quando alguém chama por um gerente para reclamar, ele nunca está presente. Mas, se alguém levanta a voz, logo é mira de vigilante! Ademais, vem à tona a suspeita de que empresas de vigilância abrigam milicianos. Falou bem quem disse que, ao entrarmos em um supermercado, não estamos procurando por serviço de vigilância!
» Marcos Paulino,
Águas Claras
» O crime cometido por seguranças de um supermercado famoso, em Porto Alegre, foi um fato lastimável. E justamente no momento em que se comemora o Dia da Consciência Negra em várias localidades. O negro que foi assassinado motivou muitas manifestações de protesto. Mas, também, lamentável as afirmações de alguns integrantes do governo federal de que não existe racismo no Brasil. Que o fato sirva para uma profunda reflexão e que os segmentos sociais mais diversos se empenhem para buscar formas de acabar com um preconceito inaceitável.
» Uriel Villas Boas,
Santos (SP)
» João Alberto Silveira Freitas entrou com a esposa no supermercado e não voltou para casa. João foi espancado pelos seguranças do estabelecimento. Os profissionais, que deveriam defender clientes e funcionários, liquidaram João. Esse ato de selvageria nunca poderia ter acontecido e deverá ser punido com todo o rigor da lei. Não sabemos, ainda, os verdadeiros motivos para tamanha bestialidade, mas o desequilíbrio dos assassinos está evidente. A causa da morte de João não foi um acidente de carro, nem uma bala perdida, mas um comportamento despropositado de seguranças incapazes de exercerem tal função. A sepultura é o próximo destino de João.
» José Carlos Saraiva da Costa,
Belo Horizonte (MG)
» Ontem, foi dia da Consciência Negra. Aqui, eu quero contar um fato que aconteceu com minha mãe. Ela era filha de escravo, nascida na localidade de Queimadas, hoje pertencente ao município de Horizonte, no Ceará. O nome Queimadas era assim denominado porque foi formado por uma colônia de negros, uma espécie de quilombo. Em 1917 (minha mãe nasceu em 1900), portanto, com 17 anos, já morando em Chorozinho, pertencente ao município de Pacajus (CE) passou a namorar com o filho de um português. Este, que na época tinha poder sobre os filhos, ao saber dessa notícia, proibiu o filho de continuar com aquele evento. Assim, o namoro terminou. Do outro lado, o meu avô, ao saber dessa atitude do português, ficou muito contrariado, mas, para não se dar por vencido, pois aceitava de bom grado o casamento, desterrou a filha para estudar em Quixadá (CE), a fim de concluir o curso de normalista, que assim era denominado o de professora. A viagem era feita de trem Maria Fumaça e, para pegar este transporte, teria que vencer mais de 60km até a cidade de Baturité (CE) cujo percurso a partir de Chorozinho era feito em lombo de burros e jumentos. Quatro anos depois, formada, minha mãe retornou. E não teve jeito, o antigo namorado, já mais velho e ainda solteiro, procurou a antiga namorada e com ela casou-se. Mas os pais dos noivos, sempre renitentes e teimosos, nunca foram bons amigos.
» José Lineu de Freitas,
Asa Sul
» A estatística é uma ciência “quase exata”! Isto porque pode ser interpretada pelo leitor ao gosto de quem elabora determinada mensagem. A Visão do Correio (21/11) sobre o assunto Até quando a barbárie persistirá contra a populaçãobrasileira? indica que — num determinado período — o aumento de assassinatos de mulheres negras foi de 12,4%, enquanto que no caso das não negras houve um decréscimode 11,7%. Ouso afirmar, com “quase” certeza, que todas as mulheres negras foram assassinadas por negros, também! Onde está o racismo?
» José de Mattos Souza,
Lago Sul
Análise das eleições
Se há análise mais perfeita das eleições municipais, desconheço. Fico com Malu Delgado e Ricardo Mendonça, a quem peço licença para replicar em suas melhores partes. Primus: a pulverização partidária, a ascensão do DEM como grande força de direita, a ressurreição da esquerda sem a hegemonia petista e a derrota do bolsonarismo foram as principais marcas das eleições municipais.
Foi um pleito com características bastante distintas do anterior, em 2018, quando postulantes que negavam a política se elegeram nos estados e despontaram como novas lideranças no Congresso, puxados pelo radicalismo de extrema-direita de Jair Bolsonaro. Desta vez, os eleitores privilegiaram nomes já conhecidos e com experiência pública. Para o cientista político Leonardo Avritzer, esses movimentos políticos apontam para um “pós-bolsonarismo” em 2022.
Secundus: o DEM é um dos partidos que mais saem fortalecidos: venceu no primeiro turno em três capitais — Florianópolis, Curitiba e Salvador — e disputa o segundo turno no Rio, com Eduardo Paes. Em São Paulo, Bruno Covas (PSDB) e Guilherme Boulos (PSol) disputarão o segundo turno.
O vencedor com maior votação proporcional nas capitais foi Alexandre Kalil (PSD), em Belo Horizonte. Com 63,5% dos votos válidos, informação compatível com a pesquisa de boca de urna. Quem venceu foi Kalil. Ninguém perguntou pelo seu partido. A maioria nem sabe.
No grupo dos candidatos eleitos em primeiro turno apoiados por prefeitos em fim de mandato, o maior destaque foi Bruno Reis (DEM), em Salvador, apadrinhado pelo prefeito ACM Neto. O presidente Jair Bolsonaro é o maior derrotado do primeiro turno das eleições nas capitais. Não apenas pela baixa votação dos candidatos mais alinhados a ele, como pelo perfil dos partidos e dos candidatos com melhor desempenho.
À direita, o DEM é o partido mais desalinhado do presidente. Seu desempenho contrasta com o do PP, maior aliado do bolsonarismo, que passou ao segundo turno à frente apenas em Rio Branco e João Pessoa, capitais pequenas.
A redução do auxílio emergencial de R$ 600 para R$ 300, em outubro, acelerou a desidratação de Bolsonaro. Sua popularidade caiu 10 pontos percentuais em capitais como o Rio.
O Valor, também, analisa com propriedade as eleições municipais. Apesar de ter perdido 270 prefeituras em todo o país na comparação com a eleição passada — de 1.044 prefeitos eleitos em 2016 para 774 até agora —, o MDB continua sendo o partido com o maior número de prefeitos em todo o Brasil. O domínio é garantido graças à sua liderança isolada no numeroso grupo dos micromunicípios, 3.028 localidades com menos de 10 mil eleitores, áreas muitas vezes tratadas depreciativamente no meio político como grotões.
Dados levantados pelo Valor Data mostram que o MDB também recebeu o maior número de votos para prefeito em todo o país, 10,9 milhões. Esse número, porém, indica uma queda de 30% em relação à votação de quatro anos atrás. Em número de votos, o MDB praticamente empatou com o PSDB na eleição de domingo. O PSDB também teve queda significativa, de 41% em votos. Os partidos que mais avançaram foram PSD, DEM e PP. O PT ficou estável, com 7 milhões de votos.
No conjunto dos municípios muito pequenos e majoritariamente interioranos, o MDB colheu 450 vitórias no último domingo, 56 a mais do que o segundo colocado, o PP. Na sequência aparecem o PSD, com 336 microvitórias; o DEM, com 268 prefeitos eleitos nesse universo; o PSDB, com 282; e o PL, com 185. Todos os outros partidos juntos elegeram 1.112 prefeitos nos micromunicípios.
Embora os municípios pequenos exerçam pouca ou nenhuma influência na cúpula dos Poderes e nos debates mais relevantes no Congresso, o exército de prefeitos dessas cidades é a base que garante capilaridade nacional a um partido e um grande número de cabos eleitorais nas eleições.
O PT, que chegou a ser forte nos grotões, com 630 prefeituras em 2012, caiu para 254 em 2016 e 179 agora. O PSDB, que havia crescido de 695 para 803 prefeituras em 2016, agora fez 512. Mas estará na disputa pelo segundo turno em 14 cidades. O PP teve crescimento de 35%, de 495 prefeitos em 2016 para 682 agora.
O radicalismo de Bolsonaro está isolado nos grupos neonazistas e nas mentes retrógradas da classe média. Era ideia sua que, sem partido, iria pairar acima da vida partidária, se alguém que lhe pedisse apoio para qualquer cargo teria pleito garantido. Deu-se o contrário, onde indicou candidatos, colheu perdedores. Suas maiores derrotas foram no Rio (Crivella) e em São Paulo (Russomano).
Doravante, ninguém quer mais seu apoio. Está no pariato político. O fortalecimento partidário joga contra o triunfalismo egoico do presidente, ainda abalado com a derrota de Donald Trump, nos Estados Unidos, a quem idolatrava e imitava.
Reforma tributária: novos caminhos
Após o ministro da Economia, Paulo Guedes, falar que a nova CPMF seria a melhor solução apresentada até o momento como um dos eixos da tão sonhada reforma tributária brasileira, ouso trazer uma reflexão e uma sugestão para início de uma boa e justa mudança no arcabouço tributário.
Diante das últimas especulações criadas pelo atual governo e tantos outros anteriores, que, de alguma forma, já tentaram, por meio de diversos meios, estratégias tributárias para sentir a reação do mercado, sempre negativa diante de mudanças tributarias, pois alteram o bom sistema que, hoje, servem a essas empresas especulativas. E, como sempre, acompanhada de entraves políticos e empresariais.
Os estrategistas da reforma tributária sempre querem sentir um pouco o que funcionaria ou não em eventuais alterações nos impostos e, consequentemente, no bolso das pessoas físicas e jurídicas. Mas não levam em consideração o desequilibrado e o obsoleto sistema que temos. Especulação é o que não falta na atual equipe econômica.
Importante lembrar que a nossa base do sistema tributário é a mesma desde a década de 1960, época do Código Tributário Nacional. Ou seja, defasado, distorcido e antiquado. Enquanto criamos obstáculos, grande parte dos países desenvolvidos modernizaram não só a forma de tributação, mas a maneira como lidam com as matrizes tributárias e com o avanço da capacidade tecnológica de se cobrar e fiscalizar os tributos.
É cristalino que precisamos de uma ampla reforma tributária, ambientada e correspondente ao mundo atual. Uma reforma segura e eficiente, com poucas exceções e benefícios, que acompanhe a modernidade tecnológica e que não atrapalhe o ambiente de negócios.
Não existe sistema tributário no mundo que seja perfeito, mas o nosso está muito longe de ser, no mínimo, bom. Temos opiniões distintas dos especialistas em relação à qual melhor maneira de se arrecadar e em tributar o consumo, a renda, o patrimônio.
Cada qual com suas razões e análises críticas, mas em uma coisa todos concordam: é necessário readequar e, por assim dizer, adaptar o sistema à realidade econômica e social. Não é fazer justiça social com os tributos, mas, sim, conciliar a carga tributária a ser mais condizente com quem ganha e consome mais. Equilíbrio é difícil, mas dá para fazer e melhorar muito.
Vamos ser realistas e objetivos, pensar que não agradaremos a todos e, ao longo do caminho, aparar as dificuldades, os erros, que, com certeza, serão cometidos e achar de uma vez, saídas para destravar essa longa tortura.
Importante ressaltar, agora falo como contador, que devemos nos preocupar muito mais em detalhar as despesas do que dificultar o faturamento. Verifique qualquer balanço de empresa. A demonstração de resultado tem uma riqueza em detalhes nas despesas. As notas explicativas, dos gastos, como a empresa utilizou seus recursos, onde aplicou, suas práticas de custos, etc. Olhe para a mesma demonstração em relação às receitas. Simples e objetiva.
Agora, traga isso ao mundo tributário. Arrecadação clara e unificada. O problema do nosso país não está na receita, mas, sim, na máquina administrativa e de gastos públicos. Os detalhes, as exceções, os benefícios e os controles estão na despesa.
A reforma, portanto, deve começar pela junção e simplificação dos impostos, com uma arrecadação mais coerente, eficiente e literal. Tributar uma parcela maior da renda de acordo com a capacidade de cada contribuinte. Esse seja talvez o início de tudo. Redistribuição da carga tributária, uma redemocratização de nosso sistema, mas a princípio tentando manter o nível de arrecadação atual. A reforma não deve começar com a preocupação de aumentar ou diminuir a carga.
Atualmente, ela representa 1/3 do Produto Interno Bruto (PIB), mas está dentro da média mundial segundo avaliação da OCDE. É pesado, sem dúvida. E um Estado que gasta como o nosso, mais à frente, com uma ampla reforma administrativa, mais enxuto e eficiente, é possível pensar no compasso da redução de impostos que todos gostaríamos de ter.
O desafio que gostaria de lançar aos políticos, que querem realmente que a reforma aconteça, para acabar com os privilégios dos mais ricos e, de uma vez por todas, equilibrar e redemocratizar a cobrança de imposto nesse país. Com certeza, bem pensada, estudada e aprimorada, será melhor que a da equipe de governo. Guedes, me prove o contrário.
Qualificar o voto e o eleitor
No Festival de Besteira que Assola o país na área política, ou mais resumidamente (Febeapá), o que parte da população é obrigada a presenciar, desde o retorno do regime democrático nos anos 1980, não deixa margem para dúvidas de que estamos sendo representados, desde então, pelo que somos, em síntese, como povo e cultura. Ou, pelo menos, do que deixamos de ser, por uma negligência histórica.
Dessa constatação, que, para alguns, pode ser até chocante, podemos presumir que aquela parcela da sociedade que ainda insiste em ter os olhos postos sobre a realidade do país, essa é, talvez, uma situação que vai perdurar enquanto não for solucionado na base, ou seja, no próprio seio do eleitorado, o problema da carência crônica do ensino público.
Enquanto perdurar a insuficiência na educação e na formação dos brasileiros, não há como aperfeiçoar o modelo de representação política e, principalmente, o perfil dos representantes. Em outras palavras, o que se pode deduzir dessa premissa é que um país carente de educação não pode, em hipótese alguma, possuir um modelo bem desenhado de democracia.
Essa relação estreita entre democracia e educação é facilmente observável na maioria dos países desenvolvidos que investiram pesado no ensino público, tanto no aspecto material quanto no aperfeiçoamento e na valorização plena dos profissionais desta importante área.
E esse foi um projeto de prazo bem longo. Com isso, fica patente que ainda teremos muito caminho a percorrer até atingirmos um modelo próximo do ideal de democracia moderna, funcional e, o que é mais importante, calcada em princípios éticos sólidos e amplamente aceitos por todos. É preciso que fique claro, também, que não basta somente um conjunto de leis, elaborado por uma minoria douta e imposto de cima para baixo aos indivíduos pouco esclarecidos, ainda mais quando se sabe que a maioria dos brasileiros não consegue compreender, uma linha sequer, do que está escrito em nossos alfarrábios de leis.
É graças à carência na educação pública de muitos e dos eleitores, em particular, que se assiste à perpetuação de uma classe política que está na raiz de nosso subdesenvolvimento crônico. Talvez, por isso mesmo, qualquer projeto de educação sério e de longo prazo jamais tenha vingado em nosso país. Há séculos, percorremos o que parece ser um caminho circular que nos remete sempre ao mesmo ponto de partida.
Na verdade, há um projeto implícito de manutenção de uma multidão de iletrados como forma de assegurar a longevidade desses grupos políticos dominantes. Não é por outro motivo que os clãs familiares se repetem no poder, numa transição monótona e lesiva aos brasileiros.
Não surpreende, pois, que nas universidades e em outros centros de cultura medram as raízes da insurgência contra o status quo. O pior é saber que esses problemas de características políticas não podem ser resolvidos no próprio âmbito político contaminado que temos, onde as resistências em aceitar as propostas que vão de encontro aos anseios da população são imensas e intransponíveis.
Os fundos partidário e eleitoral, as dezenas de legendas, a impunidade dessa elite, para quem o próprio Supremo parece trabalhar, os seguidos escândalos de corrupção que se repetem sem interrupção e outras centenas de mazelas a envolver esses grupos constituem-se apenas como pano de fundo para um cenário onde são exibidos falsos duelos ideológicos a animar e iludir a plateia atônita.
Essas últimas eleições deram uma mostra dessa pantomima, ao reeleger os mesmos núcleos de poder político que há décadas são destaques nas páginas policiais. Como consequência, não há que alimentar esperança alguma de que o atual quadro venha a mudar, uma vez que persiste o dilema da pouca qualificação do próprio eleitor.
A frase que foi pronunciada
“As empresas querem apenas aumentar seus lucros; cabe ao governo garantir que distribuirá o suficiente desses lucros para que os trabalhadores tenham dinheiro para comprar os bens que produzem. Não é nenhum mistério — quanto menos pobreza, mais comércio. O investimento mais importante que podemos fazer é em recursos humanos.”
José Mujica, ex-presidente e senador uruguaio
Caso de polícia
Pergunta da vizinha. O caso de um cachorro latindo o dia inteiro pode ser considerado pela lei como maus-tratos contra o animal. Falta de cuidado, atenção, alimentação. E para o humano obrigado a ouvi-lo?
Mãos à obra
Hoje, às 9h30, no Grupo de Escoteiro Lis do Lago, QL 6, a comunidade vai se reunir, com os devidos cuidados de saúde, para organizar a agenda de plantio de árvores no Lago Norte Ciclo 2020/21. O grupo Adrena Huntes, voluntariamente, vai cavar os berços nos locais de plantio com máquinas furadeiras.
História de Brasília
Pessoas que participaram da concorrência para gramar a cidade, informam que a firma vencedora não está cumprindo com as determinações do contrato, e apontam como infração o fato de o terreno não ter sido arado, gradeado nem nivelado. (Publicado em 15/12/1961)