COMÉRCIO INTERNACIONAL

Cenário externo em 2021

''Eu espero ver uma forte aceleração da atividade econômica na Europa e nos EUA no segundo e no terceiro trimestres de 2021, conforme, com o controle da pandemia, as pessoas deem vazão ao consumo reprimido de serviços como turismo e diversão, por exemplo''

Correio Braziliense
postado em 26/11/2020 06:00 / atualizado em 26/11/2020 08:43

» ARMANDO CASTELAR
Economista, coordenador da área de economia aplicada do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV)

A melhor forma para pensar o que vem à frente na economia é focando nas duas forças que têm moldado seu rumo desde início do ano. Uma é a dinâmica da pandemia e, igualmente importante, as medidas de restrição à atividade econômica a que os governos e as pessoas, voluntariamente, têm recorrido para controlá-la. A outra, os programas de estímulo fiscal e monetário, que os governos têm adotado para compensar os efeitos contracionistas da pandemia e das medidas de combate sanitário.

Qual a situação atual dessas duas forças e o que delas esperar no próximo ano? Depois de melhorar bastante no terceiro trimestre, a pandemia recrudesceu com força desde o mês passado. Em certo grau, é um processo endógeno, em que a melhoria dos indicadores sanitários leva a um relaxamento das restrições de distanciamento social, aquecendo a atividade econômica — no terceiro trimestre, o PIB da Área do Euro cresceu 12,6% —, mas, na sequência, também espalhando a pandemia.

Nos Estados Unidos e, principalmente, na Europa, o número de casos supera por larga margem o observado na primavera de lá — em grande medida devido à maior testagem —, e os de hospitalizações e mortes estão em níveis semelhantes ao do auge da pandemia. Nessas regiões, também o clima frio ajuda, pois leva as pessoas a ficarem mais tempo em ambientes fechados, facilitando a propagação do vírus.

Isso tem motivado esses países a voltarem com muitas das regras de quarentena adotadas seis meses antes, como o fechamento de bares e restaurantes e a proibição de shows e outras aglomerações. Em alguns casos, também escolas voltaram a ser fechadas. Em outros países do Hemisfério Norte, como Coreia, Japão e Hong Kong, também se vê o aumento de casos levando à volta desse tipo de restrição à atividade econômica.

Os indicadores econômicos já mostram que, como ocorreu antes, essas medidas irão provocar uma desaceleração do crescimento. O freio desta vez será, porém, menos intenso do que foi então. Os governos estão, agora, mais sensíveis aos impactos econômicos das restrições sendo impostas e recorrendo mais à testagem para permitir que, por exemplo, fábricas e obras de construção continuem operando “normalmente”. E várias medidas de distanciamento focam em horários como a madrugada e o fim de semana. Assim, o setor de serviços às famílias será, outra vez, o mais afetado, mas mesmo neste caso menos do que há seis meses.

Esse padrão deverá se estender pelo primeiro trimestre de 2021, mas gradualmente mudar quando a primavera chegar acima do Equador. Isso porque, nessa época, a vacinação ganhará escala, em especial nos países ricos. Junto com a disponibilidade de testes mais rápidos e baratos, isso levará ao gradativo abandono das medidas de distanciamento e a uma normalização da atividade econômica.

Eu espero ver uma forte aceleração da atividade econômica na Europa e nos EUA no segundo e no terceiro trimestres de 2021, conforme, com o controle da pandemia, as pessoas deem vazão ao consumo reprimido de serviços como turismo e diversão, por exemplo. Isso coincidirá com a alta do preço de ativos financeiros, o que fará as pessoas se sentirem mais ricas e menos preocupadas em poupar para se prevenir contra riscos, como o de uma outra pandemia.

Essa valorização dos ativos financeiros virá em parte da manutenção, ainda por um bom tempo, de uma política monetária expansionista. Isso porque o desemprego ainda estará alto e a inflação, baixa, e os banqueiros centrais vão querer ter certeza de que a retomada se consolidará. Mas, e os estímulos fiscais, cujo tamanho foi a grande surpresa de 2020?

Acredito que os governos em quase toda parte já estão trabalhando em como reverter esses estímulos e, de fato, como pagar por todo aumento da dívida que ficará de herança de 2020. Não acho que isso virará um debate público nesta virada do ano, por conta de a pandemia continuar a travar a atividade econômica — em que pese o governo britânico já estar falando de subir impostos. Também não descarto a renovação de alguns programas localizados de manutenção de emprego. Porém, acho que esses estímulos, se houver, serão modestos e breves, pois os governos sabem que a vacina vai aquecer suas economias em 2021.

Assim, logo que passada esta última fase da pandemia, nos próximos seis meses, a economia mundial deve entrar em um ciclo de forte expansão. O PIB mundial, depois de cair 3,5% este ano, deve subir uns 6,0% ano que vem e outros 4,5% em 2022. Para o Brasil, é um bom cenário.

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