Visão do Correio

Recorde de desemprego

Correio Braziliense
postado em 27/11/2020 22:31

A crise que chegou com a pandemia do novo coronavírus não para de provocar estragos no mercado de trabalho. Novo recorde de desemprego foi batido no terceiro trimestre deste ano, alcançando 14,1 milhões de brasileiros que não conseguem uma vaga formal. Pelos dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 1,3 milhão de trabalhadores entraram na fila do desemprego neste período, o que agrava ainda mais a complicada situação econômica do país.

O levantamento divulgado, ontem, também mostra uma taxa recorde de 30,3% de subutilização, o que significa que o Brasil tem um contingente de 33,2 milhões de trabalhadores subutilizados. Outro triste recorde diz respeito aos desalentados, que, agora, somam 5,9 milhões. Os dados da Pnad são uma ducha de água fria no ânimo das autoridades econômicas, que, um dia antes, comemoravam o resultado do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), que revelou a criação surpreendente de 394.989 vagas com carteira assinada.

Economistas ressaltam que a pandemia desencadeou um processo de aniquilamento do mercado de trabalho brasileiro, com o nível de ocupação — índice que calcula a proporção de pessoas ocupadas na faixa populacional apta a trabalhar — chegar a 46,8%, o menor patamar em 28 anos. A taxa é a pior desde 1992, quando teve início a série histórica. De acordo com estudo da Pnad, o país perdeu 12 milhões de postos de trabalho no trimestre encerrado em agosto.

O levantamento é amplo e abrange os mercados formal e informal e considera tanto empregados quanto empregadores, além dos que trabalham por conta própria. Atualmente, num grupo de 100 brasileiros em condições de trabalhar (acima de 14 anos, segundo metodologia do IBGE), somente 47 estão empregados. Em 1992, esse número era de 60 trabalhadores, o que demonstra o esvaziamento do mercado.

Especialistas destacam que a pandemia aportou no Brasil quando a economia ainda não tinha recuperado as perdas causadas pela recessão de 2015 e 2016, desencadeada pela desastrosa política econômica do governo da época. No final de 2014, portanto, antes do período recessivo, o nível de ocupação era de 56,9% e, em março de 2017, chegou a 53,1%. O índice vinha se recuperando e alcançou 55,1% em dezembro de 2019, mas a pandemia jogou a taxa para 46,8%.

Ainda existe muita incerteza quanto à evolução dos efeitos do novo coronavírus no mercado de trabalho. No entanto, esse cenário só pode ser modificado, para melhor, se o governo apostar na aprovação das reformas estruturantes que continuam paradas no Congresso Nacional.

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Clima

Homenagear o tempo nublado é uma forma de se associar a um boa sintonia; é uma espécie de descanso, de abrandamento da temperatura à Terra com seus pares viventes. Observa-se movimentações em divinas artes nas camadas de nuvens leves ou densas... E ora — no banho de sol — sentimos a presença da boa saúde, ora — no tempo nublado — sentimos que é preciso absorver as boas alternâncias da vida, a felicidade convida. São uns balanços necessários contínuos; são magias do cá e do lá divinos... Tempo nublado vai e vem; as angústias vêm e vão... ainda bem! Dia ensolarado é assim: um convite que a vida anuncia, e, em boa profecia, que, ali, poderá vir em parte nublado e tal. Assim é o verão chuvoso úmido do Planalto Central. E, nesse tempo, entre o ensolarado e o nublado, as atividades sociais, culturais e econômicas vão girando — mesmo em dicotomia — demonstrando, sim, a proteção divina contra essa criminosa pandemia.
Antônio Carlos Sampaio Machado, Águas Claras


Racismo

O PM temporário Giovane Gaspar da Silva, um dos agressores que esmurraram o negro João Alberto no supermercado Carrefour de Porto Alegre, disse, em depoimento à polícia, que a sua intenção era imobilizar a vítima. Ora, que ridículo. Ele desferiu inúmero golpes no homem, e isso é técnica de imobilização de alguém? O PM disse, ainda, que não pretendia matar o negro. Não convenceu. Quando a vítima estava no chão, sem forças para reagir, ele ou o seu comparsa comprimiu o pescoço do homem, imitando os policiais americanos que assassinaram George Floyd asfixiado. Mas nada teve a ver com a cor da pele do João Alberto. Outra mentira. O segurança do Carrefour e o PM não agiriam com tanta violência se o cliente fosse um homem branco, ainda que ele fizesse um escândalo dentro do mercado. As alegações do PM podem convencer os racistas, mas não a sociedade inteira.
Jorge de Oliveira, Taquari

» Um resgate histórico de uma luta que parece não ter fim. Não conseguimos ver no horizonte sinais de que a igualdade entre as pessoas será possível neste país. Todos os dias são de luta incessante contra a discriminação perversa que permeia a sociedade brasileira. Foi assim que compreendi o programa Falas Negras, dirigido pelo ator Lázaro Ramos. Há muito não via algo dão denso e expressivo na televisão. Foi uma viagem no tempo e que mostra o quanto estamos longe de deixar a superficialidade da pele para respeitar as pessoas simplesmente por serem seres humanos. Estamos longe demais de chegar ao ponto final de uma batalha sem lógica, sem sentido e que só espraia dor, medo, angústia e aprofunda desigualdade. As tragédias recentes, como o assassinato do soldador João Alberto, no Rio Grande do Sul, mostram que não evoluímos. Os instintos mais primitivos ainda se expressam em gestos de barbárie.
Walquíria Ramos, Park Way


Atraso

Na contingência de parcelar débitos em nome do espólio de minha mãe, tive de recorrer ao Na Hora, localizado na Rodoviária do Plano Piloto. Na Secretaria de Fazenda fui muito bem atendido, mas veio uma exigência: deveria apresentar o original da Certidão de Óbito, só a sua cópia não bastava. Coisa de Brasil atrasado, pois os dados de certidões emitidas por cartórios bem poderiam ser compartilhados com o fisco. No dia do retorno (24/11), a atendente que liberava senhas me perguntou se eu tinha cópia da minha identidade. Disse que sim e que estava na minha pasta. Dito isso, a atendente pediu para eu mostrar a tal cópia. Protestando, disse a ela que não deveria duvidar da minha palavra de cidadão. Abri a pasta e mostrei a cópia da identidade. Depois, no guichê de atendimento, quando fui votar na qualidade do serviço, o dispositivo para tal parecia não estar em funcionamento. Para completar, ao comprar uma mochila em uma barraca em frente ao Na Hora, a loja não forneceu cupom fiscal, nem ao menos recibo, para fins de eventual troca de mercadoria. Ei, GDF! Que tal melhorar isso tudo e ainda chegar ao século 21?
Marcos Paulino, Águas Claras


Mudanças

Não importa o nome que se queira dar: repique, segunda ou terceira onda. A realidade mostra que há um recrudescimento da pandemia do novo coronavírus. Em vários estados, a oferta de leitos em unidades de terapia intensiva está próxima ao limite. O número de mortos passa de 500 por dia. Há um agravamento da crise, quando imaginávamos que haveria um declínio. Esperávamos um Natal mais tranquilo e tínhamos esperança de festejar a chegada do ano novo com mais tranquilidade e menos receios. Mas o quadro que os números mostram nos deixam temerosos. Aquele Natal de mesa farta, comemorado com familiares e amigos, é receita não recomendável. Réveillon no clube, regado com champanhe e modinhas carnavalescas, nem pensar. O vírus insiste em forçar reflexões sobre as datas comemorativas e sobre o significado de valores até então desprezados. Inflexão é palavra de ordem. Reflexão é exercício diário. Quando a vacina chegar e a praga for eliminada, hábitos e costumes de antes da pandemia serão outros. Quem sabe se a vida, hoje tão banalizada pela violência, terá mais valor para todos?
Lívia de Paula Martins, Asa Norte

Charge

 (crédito: Editoria de arte)
crédito: Editoria de arte

Desabafo

Pode até não mudar a situação, mas altera sua disposição

Reformas administrativa e tributária e manutenção do teto de gastos são essenciais para apoiar a retomada do Brasil pós-pandemia.
José Matias-Pereira — Park Way


O latim é a língua mater. O esperanto é a língua artificial. O inglês é a língua universal contemporânea. O que se escreve nas redes sociais é a língua esticada de Einstein.
Eduardo Pereira — Jardim Botânico


O general Mourão virou amortecedor. Passa os dias tentando amenizar as declarações estúpidas do clã bolsonarista.
Euzébio Queiroz — Octogonal

A gente "combinamos" de não morrer

 (crédito: Editoria de arte)
crédito: Editoria de arte


Em tempos de muitos termos, muitas vezes aplicados a tudo, apagando o seu sentido inicial, como é o caso de necropolítica, muita gente reproduz o combinado das personagens do conto A gente combinamos de não morrer, da escritora brasileira Conceição Evaristo, um dos que compõem a obra Olhos D’Água. O problema é que o combinado é quebrado, mesmo por nós, quando dizemos nós combinamos de não morrer.

Ora, a coisa mais linda desse combinado enunciado por Bica, personagem que narra o conto, é a capacidade de divagar e transitar pelos mais diversos usos linguísticos da língua sem arredar do seu combinado inicial, a gente combinamos de não morrer, que, aliás, representa, ali, é um combinado de todos os pretos e pretas que estão na linha da morte.

Pensar em línguas e linguagens nos faz justamente entender o que é quebrar um combinado. A cada 23 minutos, um jovem negro tomba no Brasil. O seu sangue é representado nos combinados que só a língua é capaz de registrar, tal como cada jovem fala. O combinado nem sempre é cumprido, mas sempre seu cumprimento não se dá pelas forças de morte do racismo, que fazem com que o Brasil seja, ao mesmo tempo, um dos países de maior concentração negra no mundo e aquele que mais ceifa a possibilidade de existência de negros/as no futuro, ao ceifar — de forma mais aguda — os homens pretos.

Quando ouço por aí o “nós” substituindo o “a gente” só me lembro de minha irmã Ana Aloisia. Dona de uma sofisticação linguística única, Ana Aloisia é uma mulher preta que conjuga perfeitamente o a gente com a desinência do verbo ir na primeira pessoa do plural. Ana, como qualquer falante preto deste país, sabe bem por sua própria consciência que não é apenas nós que é pronome que combina com aquela forma, mas, até mais sofisticadamente, a gente.

Chama-me muito a atenção de que esse combinado entre gente preta, curiosamente escrito por uma das mais importantes autoras literárias, uma das grandes intelectuais negras da nossa história, passe pela revisão quando pronunciado nos ambientes intelectuais, inclusive por gente negra.

Por outro lado, quando as pessoas normalmente repetem aquele famoso verso do Ultraje a Rigor, banda de brancos roqueiros, que é a gente somos inútil, elas respeitam a chamada licença poética.

Essa situação expõe nada mais nada menos aquilo a que venho chamando de racismo linguístico. Trata-se de uma dada formação psicossocial que tem como prescrição o racismo como sua formação histórica. É a língua o agente balizador de uma existência em forma de humanidade que nega ao corpo negro a possibilidade de ser representado por uma das formas de representação dos chamados homens, aqueles que significam “verdadeiramente” o humano.

Em todos os casos, esse monitoramento linguístico mostra como a branquitude é poderosa na língua. É como se houvesse um branco monitorando cada ato linguístico em cada um de nós. Mesmo que o a gente não tenha uma origem essencialmente africana (e não estou aqui afirmando sobre isso), precisamos levar em conta aqueles que produzem os atos de discurso e de fala.

Bica e Ana Aloisia são mulheres pretas que, embora o falar sofisticado, que pareça condescendente com a ideologia da gramática normativa, não abrem mão de suas felizes escolhas sintáticas. Mas, e se não fossem escolhas justificáveis num dado enredo de habilidade e sofisticação? Ainda assim, estamos falando de comunidades negras heterogêneas, que vão desde o “a gente vamos” até o “nós vai” do meu velho distrito do campo onde eu nasci.

Ou seja, as origens africanas foram também suplementadas por populações em diáspora que vêm escolhendo quais usos de português (ou melhor, pretuguês — termo cunhado pela gigante Lélia Gonzalez) preferem, e o a gente combinamos de não morrer é aquele combinado de respeito que tem que ser pronunciado corretamente.

De línguas e seus usos também se constrói autonomia, identidade, combate-se preconceito e reafirma-se que diferenças são potências que precisamos observar e contemplar na seara da luta por justiça. Nomear é poder.

Os símbolos de lá e os de cá

Berlim, 29 de agosto de 2020. Era uma passeata autorizada. Milhares de manifestantes desfilaram pela cidade para exigir a suspensão da obrigação de usar máscara de proteção contra a covid-19. A manifestação decorreu pacífica, mesmo porque, fora a reivindicação dos participantes, não havia choque de ideias. Não se tratava de embate entre facções; os que se dispunham a acatar a ordem de usar máscara ficaram em casa.

Lá pelas tantas, um grupo de 200 a 300 simpatizantes de extrema direita, mais exaltados do que os demais, conseguiu saltar as grades de proteção que rodeiam o Reichstag, a sede do Parlamento Nacional. Alguns chegaram até a subir os degraus da escadaria antes de serem dispersados por policiais munidos de bombas de gás lacrimogêneo. Numerosos invasores, saudosistas, agitavam a bandeira do Império Alemão (1871 a 1918) assim como a do início do III° Reich (1933 a 1935). É atitude temerária num país em que cicatrizes de um passado trágico ainda não se fecharam de todo. Ninguém ousou erguer a bandeira nazista, aquela com a suástica, que isso é pecado mortal na Alemanha, passível de encrenca pesada com a Justiça. Após o malogro, os invasores revelaram ter tido intenção de ‘ocupar’ o Parlamento.

Brasília, 13 de junho de 2020. Fazia tempo que apoiadores de Jair Bolsonaro tinham montado acampamento na Esplanada dos Ministérios. Era uma forma peculiar de protestar contra determinadas instituições da República cujo funcionamento não era do gosto deles. O assentamento era selvagem. A lógica elementar ensina que é vedado a um particular assenhorear-se do espaço público, mormente instalando lá sua residência, ainda que temporária. O Governo do Distrito Federal ordenou a remoção das tendas. Naquele dia, a ordem foi cumprida. Os apoiadores do presidente, simpatizantes de extrema-direita como os berlinenses, não apreciaram o despejo.

Lá pelas tantas, um grupo mais exaltado de recém-expulsos teve a bizarra ideia de munir-se de fogos de artifício e utilizá-los como mísseis terra-terra. Atiraram os artefatos em direção à sede do STF, como se de bombardeio se tratasse. Jornalistas presentes à ocorrência gravaram ameaças acompanhadas de um caudal de impropérios, todos endereçados a ministros do Supremo.

Conclusão: ambos os episódios têm pontos em comum. Por exemplo, as duas manifestações começaram dentro de relativa calma para, no final, desandarem por obra e graça de grupos radicais. Por seu lado, seguindo um figurino de romantismo adolescente, alemães e brasileiros se rebelavam contra a ordem estabelecida, fosse ela encarnada por instituições do Estado, fosse pela obrigatoriedade de portar a detestada máscara anticovid. Mais um ponto em comum: os manifestantes, tanto os de lá quanto os de cá, estavam cientes de não ter a menor chance de atingir o objetivo esboçado. Nem o Reichstag seria tomado, nem o Supremo Tribunal Federal (STF), incendiado. Os atos eram claramente simbólicos.

Ao observador atento, porém, não há de escapar a discrepância maior entre os manifestantes de Berlim e os de Brasília: a simbologia contida na violência de cada episódio. Os exaltados de Berlim mimaram uma tomada de assalto do Parlamento alemão. Por trás de toda purpurina, estava o desejo de tomar a si as rédeas de uma instituição do Estado. Foi como se dissessem: “Arredem daí! Nós, o povo, vamos cuidar do Parlamento melhor do que vocês. Fora!”. Nada, na movimentação dos manifestantes alemães, deixou transparecer desejo de eliminar o Parlamento; só de corrigi-lo e de pô-lo no “bom caminho”.

Já em Brasília, foi diferente. Nossos exaltados não mostraram intenção de “corrigir” nem de redirecionar a atuação do STF para o “bom caminho”. A simbologia contida na simulação de ataque balístico era de destruição pura, de eliminação da Justiça republicana, como quem dissesse: “Não queremos uma Justiça independente. Essa instituição podre tem de ser eliminada. Exigimos que esse Poder seja entregue a nosso líder”. A conclusão que se pode tirar é tenebrosa: nossos exaltados tupiniquins são mais perigosos do que os herdeiros do III° Reich.

Visto, lido e ouvido

Desde 1960

Revitalização urbana é assunto sério demais para ficar nas mãos de políticos

Com relação ao que seria o estabelecimento de um amplo plano de revitalização do Setor Comercial Sul (SCS), a prudência manda que, antes de tudo, seja necessário a convocação de uma junta de arquitetos e urbanistas e outros técnicos gabaritados na delicada questão de soerguimento de áreas decadentes para, numa primeira etapa, elaborar o que seria apenas um pré-projeto para esse endereço.

Nesse caso, não basta atacar, especificamente, o problema da decadência do setor, com uma visão parcial da questão, uma vez que até um aluno do primeiro ano de urbanismo sabe muito bem que, dentro da macroestrutura que compõe a cidade, esse setor representa apenas uma ponta, não isolada, no intricado e orgânico projeto elaborado por Lucio Costa para a capital.

Cuidar do que seria a revitalização do SCS, desconsiderando as artérias que ligam esse ponto às extremidades do Plano Piloto, tanto Sul quanto Norte, será um desperdício enorme de tempo e de dinheiro. E o que é pior: poderá acarretar ainda mais problemas para a cidade, com reflexos, inclusive, no tombamento da capital, reconhecido pela Unesco em dezembro de 1987.

Tanto o Setor Comercial Sul, seu espelho, quanto o Setor Comercial Norte, do outro lado do Eixo Monumental, e área central do Plano Piloto entraram num processo paulatino de decadência a partir do fim do século passado, em decorrência e por contágio do que acontecia com suas artérias comerciais de ligação, representadas aqui pelas avenidas W3 Sul e Norte. Foi justamente o abandono, por décadas, dessas vias de comércio que acabou por contaminar as áreas centrais da capital.

Para quem percebe a questão crucial dos eixos que perpassam todo o desenho do Plano Piloto, fica claro que o que acontece numa parte acaba irradiando para outra ponta e vice-versa. Dessa forma, de nada adiantam esforços isolados para um rezoneamento do SCS, visando a sua revitalização urbana, sem atentar para a questão maior que é o soerguimento de todo eixo que compõe as avenidas W3 Sul e Norte.

Somente após a realização de obras de modernização e limpezas dessas avenidas é que se pode partir para a revitalização de outras áreas centrais ligadas a esses eixos. Sem isso, qualquer projeto é falho e vai representar apenas mais um puxadinho do tipo político empresarial, com objetivos distantes dos necessários.

Trata-se, aqui, de questão fundamental que precisa ser resolvida o mais rapidamente possível, porém , sem açodamentos e medidas paliativas, sob pena de irradiação dessa decadência urbana para outras partes, contaminando igualmente todo o conjunto urbanístico de Brasília, tornando esse problema de resolução cada vez mais difícil e com prejuízos para todos igualmente.

A frase que foi pronunciada

“A violência contra pessoas negras e a repetição de casos brutais, como o de João Alberto, não podem passar despercebidos pela sociedade, pelas autoridades e pelos políticos brasileiros.”

Damião Feliciano, deputado federal pela Paraíba

No caminho
Criada uma comissão externa na Câmara dos Deputados para acompanhar a investigação sobre João Alberto Silveira Freitas, espancado até a morte por seguranças em uma loja do supermercado Carrefour, em Porto Alegre. O deputado Damião Feliciano coordena o grupo.

A se pensar
Leitor nos envia uma questão sobre imóveis e Imposto de Renda. O valor do imóvel é corrigido anualmente pelo boleto do IPTU emitido pelo governo local. A Receita Federal não permite, no Imposto de Renda, que o valor do imóvel seja atualizado. Resultado: na venda do imóvel, o ganho de capital é calculado pelo valor de compra do imóvel, o mesmo declarado no imposto, o que é um absurdo. Outra observação feita é que a cobrança do ganho de capital é implacável, mas do mesmo caixa não sai verba para a perda de capital do imóvel do contribuinte.

Para sempre
Fabrício, assessor de imprensa do senador Petecão, explicou a razão desse nome peculiar adotado pelo parlamentar. Na verdade, foram os colegas de infância que o chamavam assim. Tudo começou, como se diz, no Ceará, rebolando a capsulinha na coxia. No Acre, a capsulinha ou bolinha de gude é chamada de peteca. O senador jogava com a criançada de Inãpari, cidade peruana onde eram conhecidas como bolitas. De peteleco em peteleco o campeão virou Petecão.

História de Brasília
A Novacap está levando avante uma política extremamente danosa para os trabalhadores. Isto de dar comida de graça é acintoso, e foco de agitação. É que em muitos casos há, realmente, necessidade, mas a maioria se encosta para receber alimentação, e não quer mais trabalhar. Há o caso de vários operários de uma obra, que pediram as contas e foram para a fila da Novacap. (Publicado em 16/12/1961)

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