Legado feminino

Sibele Negromonte
postado em 29/11/2020 22:21

Na quarta temporada de The Crown, série da Netflix que conta a história do longevo reinado de Elizabeth II, do Reino Unido, a rainha divide o protagonismo com outras duas mulheres: Margareth Thatcher e Lady Diana. Em tempos em que a luta feminina precisa ser ressaltada, mostrar o papel dessas figuras públicas é necessário. Mesmo que nunca tenham vestido a camisa do feminismo, elas marcaram as relações de gênero que vivemos agora.

Ao contrário de Kamala Harris, a vice-presidente norte-americana que, no discurso da vitória, fez questão de incentivar outras meninas negras a seguirem os seus sonhos, Thatcher estava longe de ter ideias feministas. Na verdade, a dose de machismo em suas falas chega a chocar.

A Dama de ferro foi forte e controversa. Não nomeou uma única mulher para compor o seu ministério durante os 11 anos em que foi primeira-ministra do Reino Unido. Em conversa com a rainha, na série, diz que elas não teriam capacidade para exercer tal função. Vale ressaltar que não dá para confirmar que esse diálogo aconteceu, já que não se trata de um documentário. Fazia questão de estar rodeada por homens, conservadores que nem ela. Os mesmos que a traíram e a tiraram do poder, em 1990, de forma melancólica.

Para muitos, Thatcher foi causadora da inflação, do desemprego e da escassez geral que assombraram os britânicos na década de 1980. Para outros, foi responsável por salvar a antiga potência imperial do declínio econômico e político. Porém, é certo que, sem jamais ser feminista, ela abriu espaço para o feminino no poder.

É impossível justificar seu posicionamento machista, mas até dá para entender. Nascida em 1925, mesmo ano da rainha Elizabeth, ela viveu a juventude nas décadas de 1940 e 1950, em sociedade onde manter relações homossexuais, por exemplo, era crime. Sim, a homossexualidade só foi descriminalizada em 1967, na Inglaterra e no País de Gales; em 1980, na Escócia; e em 1982, na Irlanda do Norte.

Já Lady Diana, que teve uma vida conturbada e uma morte trágica, é um nome feminino que também precisa ser lembrado. Em uma época em que não havia internet nem redes sociais, talvez ela tenha sido a primeira grande celebridade midiática dos tempos modernos. O amadurecimento da menina assustada de 19 anos que se tornou princesa foi assistido de camarote por todo o planeta.

Muito mais do que ser capa de revistas e jornais sensacionalistas, Diana, com seus gestos e as causas que abraçou, ajudou no processo de transformação pelo qual a sociedade britânica – e mundial – precisava passar. Abraçar um paciente soropositivo em um hospital de Nova York, quando o preconceito e a desinformação em torno da Aids eram dominantes, foi um importante e louvável ato simbólico.

Diana autointitulava humanitária. E, de fato, era. Trabalhou como voluntária para a Cruz Vermelha e levou visibilidade para causas como a eliminação de minas terrestres em Angola, país que visitou, em 1997, e onde teve contato com vítimas dos artefatos.

Hoje, pode parecer pouco, mas não é. Cada uma dessas mulheres, em seu tempo e com suas personalidades, deixou um legado que não pode ser menosprezado. E, mesmo que não tenha sido intencional, que elas sirvam de exemplo para as gerações futuras.

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