2020: diante do caos a advocacia se fez maior

DÉLIO LINS E SILVA JR.
postado em 29/11/2020 22:27 / atualizado em 29/11/2020 22:27

 

No início de 2020, em fevereiro e março, falava-se na mídia que poderíamos viver dias de caos completo, de saques, de estado de exceção. Era a chegada da pandemia no país. Realmente, passamos por situações que nem sequer em nossos piores pesadelos imaginaríamos, sendo que o mais dolorido, sem dúvida alguma, foi ver, sem praticamente nada poder fazer para impedir, milhares de vidas perdidas: pais, mães, avós, filhos, primos, familiares e amigos. Na advocacia, demos adeus a inestimáveis talentos, e tivemos de enfrentar um dos mais duros ajustes em nossa profissão.


Não foi aquele descontrole completo noticiado com alarde no início do ano porque, em grande parte, a sociedade brasileira respondeu bem às medidas restritivas anunciadas por governos das três esferas de Poder e fez os seus sacrifícios. Na advocacia — categoria que represento no Distrito Federal, à frente da Seccional da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) —, independentemente do ano, das crises, das tristezas, da economia e de como anda a própria saúde de cada um de nós, como operadores do direito provamos ser a mais fiel representação da liberdade e da democracia.

Advogadas e advogados não se acovardaram frente ao caos. A adaptação foi tensa, mas relativamente rápida e o Direito foi, na maioria das vezes, preservado, conservando consigo a ordem social mínima para chegarmos até aqui. Na nossa colaboração para enfrentar a pandemia, fechamos a sede da OAB/DF e as sedes das subseções. Reorganizamos a dinâmica nas salas de atendimento à advocacia que estão localizadas junto ao Judiciário. Implantamos teleatendimento. Digitalizamos quase 100% dos documentos. Os serviços pela internet foram otimizados.

Brigamos, no bom sentido, com o Judiciário, para fazer valer as prerrogativas da profissão; para magistrados nos atenderem; pela volta de audiências presenciais — um pleito fundamental, sobretudo, no direito trabalhista e no penal. Do realizado, destaco a importância da proposta de criação e implantação dos parlatórios virtuais — surgida na OAB/DF — visando superar as dificuldades advindas de restringir o acesso ao sistema prisional. Foi possível retomar o contato com clientes detidos evitando riscos de transmitir doenças para dentro do sistema carcerário.

Verdade seja dita: o trabalho, com a pandemia, quadruplicou. A “última milha percorrida” da transformação digital fez com que se somassem aos esforços do trabalho do dia a dia os ajustes necessários ao labor não presencial, com toda a sua parafernália tecnológica, seus processos, reuniões virtuais e aplicações de internet. Quem entende bem mais do que eu de tecnologia chegou a falar em paralisação de tudo e em colapso, mas a velocidade da mudança, em muitos casos, tem sido maior. O estímulo foi dado e a sociedade, sem alternativa, abraçou essa chance e decidiu fazer alguma coisa. E quanta coisa foi feita!

Vimos mercados inteiros, empresas, condomínios e pessoas até mesmo, antes reativas, transformando-se em velocidade ímpar. Nesse ritmo, a advocacia passou a lotar congressos e eventos on-line de domingo a domingo, interessada em aprender e em empreender; também, lutando unida nas ruas — levando em conta protocolos de segurança para não agravar a transmissão de coronavírus —, mas agindo contra abusos autoritários e em nome do respeito às suas prerrogativas.

Enquanto a transformação digital da OAB/DF ocorria e essa luta pelas prerrogativas levantava seus brados, a casa abraçou fortemente e é hoje engajada na luta contra o racismo estrutural. As advogadas passaram, também, a ter sua voz ouvida em alto e bom som em um processo crescente. Temos gestão paritária na Casa.

Os jovens apareceram para, mais uma vez, demonstrarem seu imenso valor. Aqui, na OAB/DF, realizaram o seu primeiro congresso on-line, trazendo informações sobre a nova economia e as oportunidades que estão surgindo. Promoveram oficinas práticas para viabilizar a aceleração do conhecimento. Revisitando tudo isso, podemos dizer que a pandemia não trouxe nada de bom, mas nós nos fizemos mais fortes para enfrentá-la.

Fala-se, agora, que estamos na iminência de uma segunda onda tão grave quanto a que está passando. Claro, isso nos assusta muito, mas já estamos mais bem preparados para o combate, seja no trabalho, seja nas relações com a família, seja na tecnologia e seja na colaboração. Por fim, dizem que, futuramente, ninguém vai querer se lembrar de 2020, mas, independentemente de qualquer coisa, quem não buscar entender o que ele representou, terá muitas dificuldades para deixá-lo para trás. Pense nisso!

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