MEIO AMBIENTE

Parem a boiada!

''Ou o governo brasileiro valoriza esse patrimônio e o preserva ou colocará a própria nação em perigo. Por que não dizer o mundo?''

Rodrigo Craveiro
postado em 02/12/2020 06:00 / atualizado em 02/12/2020 08:37
 (crédito: CARLOS FABAL / AFP)
(crédito: CARLOS FABAL / AFP)

É como se 1,5 milhão de campos de futebol repletos de mata nativa da Amazônia tivessem sumido. Uma área do tamanho da Jamaica. O desaparecimento de parte da maior floresta tropical do mundo ocorre a olhos vistos, enquanto o cidadão brasileiro permanece em silêncio. A boiada passa e o Brasil se cala.

A exportação facilitada da madeira nobre acelera o desmatamento, enquanto o governo utiliza instituições de monitoramento da Amazônia como falácia de que cuida da principal riqueza natural do país. Maçaranduba, castanheira e outras árvores nativas são transformadas em imensas toras e transportadas em balsas sem o menor pudor. Entre agosto de 2019 e julho de 2020 o desmatamento aumentou 9,5%, em comparação com a temporada anterior, e alcançou índices históricos. Nos últimos 12 anos, nunca houve uma alta tão significativa.

Além do desmatamento, a queimada para fazer pasto — e passar a boiada — dizima riquezas infindáveis e torna o solo praticamente estéril. Em nome da ganância inescrupulosa, deixam de existir plantas com imenso potencial terapêutico. Talvez na Amazônia esteja a cura de doenças como a aids ou um elixir capaz de retardar o envelhecimento.

Não bastasse isso, a Amazônia também é uma espécie de controlador natural do clima. Impede o aquecimento global e realiza a distribuição pluviométrica por todo o Brasil. Extinguir a Amazônia significa ter pouco ou nenhum apreço pela vida humana. Além de uma completa ignorância científica e valorização do negacionismo.

É preciso que novas lideranças abracem o legado herdado por Chico Mendes e Dorothy Stang. O brasileiro necessita de um despertar, de perceber que a Amazônia faz parte de nossa história, é um orgulho nacional enquanto ficar de pé. Ou o governo brasileiro valoriza esse patrimônio e o preserva ou colocará a própria nação em perigo. Por que não dizer o mundo?

Em vez de retórica banal sobre pólvora e saliva, o Brasil deveria punir com rigor o desmatamento e sepultar a noção de que a região precisa ser atingida pelo progresso. Levar conforto e modernidade às principais cidades amazônicas nada tem a ver com derrubar a floresta.

Recente estudo da Universidade Estadual de Mato Grosso (Umemat) identificou a presença do lobo-guará em áreas da Amazônia onde nunca tinha sido visto. Um fenômeno preocupante. O canídeo em extinção, mais comum no cerrado, teria sido atraído para o bioma do norte após a transformação da floresta úmida em monocultura de grãos.

Mais um indício que a boiada está passando. Para especialistas, a Amazônia está próxima de atingir um patamar de destruição irreversível. É um dever para com nossos filhos e netos tomarmos uma posição proativa em defesa da Amazônia. A inação custará caro demais.

Notícias pelo celular

Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.


Dê a sua opinião

O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação