TRAGÉDIA

Sentenças ilusórias

''Crimes hediondos contra meninos e meninas deveriam ser punidos com prisão perpétua, mas nossa Constituição proíbe. Por que, então, não mudá-la?''

Cida Barbosa
postado em 03/12/2020 06:00

Uma vida marcada pelo martírio. A tortura psicológica, por ser uma criança odiada, desprezada, desamparada. A dor física, de anos de abusos diários, que chegaram ao inimaginável: pênis e testículos cortados, numa “cirurgia” caseira. Suplícios infligidos a Rhuan Maycon pela própria mãe. E a mesma mulher que o trouxe ao mundo, o tirou dele, de uma forma covarde, brutal. O menino, de apenas 9 anos, foi assassinado a facadas. O primeiro golpe, desferido enquanto ele dormia. A criatura maligna o degolou ainda vivo, esquartejou o corpo e tentou queimá-lo. Disse, em depoimento à polícia, que o cheiro da carne queimada “era bom”.

A barbárie — que nos faz questionar que espécie somos nós — aconteceu há um ano e meio, em Samambaia. Na semana passada, a miserável foi condenada a 65 anos de prisão. A companheira e cúmplice dela na atrocidade, sentenciada a 64. Quando eu soube do resultado do julgamento, senti alento, mas durou somente alguns instantes. Lembrei-me de que, neste país, a legislação favorece criminosos, até mesmo os mais sórdidos. Não tardará para que as duas abomináveis ganhem as ruas novamente e desfrutem da vida — vida que foi negada a Rhuan Maycon.

No Brasil, o máximo que um condenado pode ficar trancafiado são 40 anos. Mesmo esse prazo, porém, é enganador. A legislação “penal” é tão generosa com bandidos que ninguém cumpre a totalidade da pena. Se justas fossem, nossas leis olhariam para a vítima e não para a proteção de condenados. Haveria justiça, de fato, se monstros como esses que trucidaram Rhuan apodrecessem na cadeia. Só saíssem de lá num caixão.

Crimes hediondos contra meninos e meninas deveriam ser punidos com prisão perpétua, mas nossa Constituição proíbe. Por que, então, não mudá-la? Nossos vizinhos colombianos tomaram essa atitude. Em junho, o Congresso do país aprovou alteração na Carta Magna para permitir prisão perpétua a estupradores e assassinos de crianças e de adolescentes até 14 anos.

É uma decisão louvável. Por que devolver à sociedade seres abjetos, capazes de tamanhas perversidades? Por que tentar ressocializá-los? O custo pode ser a vida de mais inocentes. Infelizmente, o Brasil está longe de uma iniciativa como a dos colombianos. Por aqui, continuaremos a ver privilégios em série para a escória humana. As penas contra as assassinadas de Rhuan seriam exemplares, se não fossem ilusórias.

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