COMÉRCIO

Pacto com o povo

''Ao Estado cabe o protocolo; ao empresário a vigilância; ao cidadão, o bom senso e cidadania''

FRANCISCO MAIA
postado em 03/12/2020 06:00
 (crédito: Caio Gomez/CB/D.A Press)
(crédito: Caio Gomez/CB/D.A Press)

A história é sempre prudente conselheira. Os empreendedores e cidadãos de Brasília estão vivendo momentos incomuns nessa ressaca e ainda embriaguez de pandemia. É necessário que a memória de nossas experiências possa nos socorrer e dispor os fatos, cada um no seu quadrado.

Na última segunda-feira, dia 30 do mês passado, o secretário de saúde do GDF disse à imprensa que a volta do lockdown era um fantasma distante. Garantiu que iria procurar representantes do comércio para aumentar e melhorar a fiscalização, assim como o cumprimento das medidas de combate a covid-19, para aliviar os prejuízos de uma possível segunda onda da pandemia. Assim o fez.

O secretário Osnei Okumoto procurou o comércio em uma conversa digital para proclamar que “a alta taxa de transmissão nos preocupa muito. Por isso, vamos conversar com a Fecomércio (Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Distrito Federal) e sindicatos para que possamos fazer uma grande mobilização de ações de prevenção e assim, poderemos ter um Natal e um ano novo tranquilos no DF”.

A afirmação de Okumoto reforça a declaração do governador Ibaneis Rocha. Há menos de um mês, em 18 de novembro passado, afirmou que, caso a segunda onda de covid-19 ocorra, medidas como o fechamento do comércio não serão adotadas.

Os empresários responderam com um vigoroso pacto de cidadania. É fundamental criar um compromisso entre os deveres do Estado, o comportamento dos empreendedores e uma efetiva colaboração dos habitantes da cidade. Precisa ficar claro que o risco da segunda onda da covid-19 não surge pelo uso, mas pelo abuso. Todos sempre quisemos reabrir a cidade para o clima de liberdade que inspira Brasília. Muitas vítimas ficaram pela estrada: falência, desemprego e muitas mortes.

Agora chega! Nada vale o esforço de todos, se a população mantém hábitos promíscuos no convívio com a pandemia. Okumoto reconheceu que o número de casos do coronavírus aumentou devido a um descuido da população. Enfático, disse que “foi um relaxamento por parte da população. Percebemos uma grande quantidade de jovens em bares e estabelecimentos compartilhando itens de uso pessoal, como copos, e sem máscaras. Por isso, solicito que a população tome cuidado e não relaxe”.

O grande pacto de convivência, saúde e solidariedade oferecido pela Fecomércio e seus associados é passo marcante para a restauração da verdadeira cidadania. Não somos cúmplices na irresponsabilidade, mas fiscais da liberdade cidadã. Cidadania é uma ideia bem antiga. Surgiu há 700 anos, antes de Cristo, na Grécia, em uma sociedade que os homens eram considerados livres e iguais. O poder não mais se concentrava na mão de apenas um indivíduo, mas todas as decisões que afetariam a comunidade eram discutidas, deliberadas e votadas.

Aristóteles, o grande formulador dos conceitos da ética, qualificou o cidadão como todo aquele que tem o direito e consequentemente o dever de formar um governo. Ser cidadão é ter direitos, deveres e ser reconhecido como um membro pleno e igual da sociedade. Enquanto isso, cidadania é a conquista desses direitos e o cumprimento dos deveres.

Nós, cidadãos íntegros, que servimos, vendemos e promovemos a liberdade comercial, exigimos um convite para a festa da liberdade. Durante nosso encontro virtual com o secretário Osnei Okumoto, fomos surpreendidos pelo decreto do governador que limita o funcionamento dos bares e restaurantes até as 23h.

Isso evidencia um imenso equívoco. Não é o protocolo de funcionamento que provoca a aglomeração nos bares e restaurantes. Tirando exceções na periferia de Brasília, os empresários dos prazeres da mesa, do copo e das virtudes da noite não são os vilões da pandemia. Pecado mortal, comete o usuário que só pensa em si. Conclamo a população a entender e defender a cidadania. O direito do coletivo é sempre muito mais forte que de nossos próprios desejos. Entendam que a iniciativa privada já pagou alto a conta da pandemia: desemprego, falências e pobreza são uma moeda que não mais queremos utilizar.

O governo que administra, aqueles que vendem e as multidões que consomem não poderão viver desassociadas. Se não nos ajudarmos, juntos morreremos. Nosso apelo é urgente: cuidar da sua própria saúde e da comunidade é tarefa de cada um.

Ao Estado cabe o protocolo; ao empresário a vigilância; ao cidadão, o bom senso e cidadania. A Fecomércio e o governo de Brasília fizeram um pacto democrata, mas democracia não é a ditadura da maioria, mas o harmônico convívio das diferenças.


* Presidente do Sistema Fecomércio-DF 

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