O ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, anunciou ontem que a vacinação contra a covid-19 poderá começar entre este mês e janeiro. O início da imunização depende de o governo fechar contrato com a Pfizer, ainda em negociação, e de a farmacêutica norte-americana conseguir registro para uso emergencial junto à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Segundo o ministro, a empresa deverá entregar ao Brasil 500 mil doses no próximo mês — menos de 10% do total de infectados no país.
As declarações de Pazuello lançam luz no tenebroso cenário da crise sanitária. Nos últimos sete dias, a média diária de óbitos ficou em 617, 31% superior em comparação com a média de 14 dias atrás. Por dia, mais de 41 mil diagnósticos dão positivos para a covid-19. Até ontem, havia 6,67 milhões de infectados e mais de 178 mil mortes. Pelo menos seis estados estão à beira de um colapso na rede pública de saúde, por falta de leitos nas Unidades de Terapia Intensiva — Santa Catarina (88,3%), Paraná (87%), Pernambuco (87%), Espírito Santo (83,6%), Mato Grosso do Sul (82%) e Rio Grande do Sul (81,9%).
Na reunião com governadores, o ministro foi pressionado para apresentar um plano nacional de vacinação. A estratégia da campanha não está definida. A proposta ainda está sob avaliação de técnicos. Definido está o público que terá prioridade na primeira fase da imunização — idosos e profissionais de saúde. Entretanto, a segmentação, visando organizar a vacinação, não basta. A dimensão continental do país exige logística e insumos ainda deficitários, como seringas em quantidade suficiente para a aplicação das doses.
Em pronunciamento ao país, na última terça-feira, o ministro Pazuello fez um apelo pela união de todos no enfrentamento da crise sanitária. Mas não fez nenhuma referência ao trabalho do Instituto Butantan, que, em parceria com cientistas chineses, desenvolveu a vacina Coronavac, sob patrocínio do governo de São Paulo. O ministro destacou só o acordo da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) com o laboratório anglo-sueco AstraZeneca em parceria com a Universidade de Oxford. Ontem, o The New York Times noticiou que a vacina da AstraZeneca foi contestada nos Estados Unidos devido aos testes clínicos e à eficácia do imunizante, principalmente em idosos.
Apesar de o vírus ser inimigo comum, com danos até então inimagináveis no planeta, governantes e autoridades de saúde brasileiros estão divididos. A epidemia não tem matiz ideológica nem partido político. Mas o enfrentamento da covid-19 subiu ao palanque eleitoral de 2022 antes mesmo das convenções partidárias. Não bastassem as dúvidas quanto à eficácia dessa ou daquela, entre as muitas vacinas em desenvolvimento, as fraturas políticas podem aprofundar e tornar pior a crise social e econômica do país.
A maioria da sociedade brasileira está ansiosa pela vacina. Quer, o quanto antes, voltar a ter vida normal, trabalhar e retomar o convívio com familiares e amigos. Para isso, é preciso que a defesa da vida seja ponto de convergência de todas as forças da sociedade, sobretudo, daqueles que têm o poder de decidir. O país precisa e merece essa inflexão. A centelha de esperança que chegou ao Reino Unido tem de se tornar luz para um novo tempo no Brasil.
Notícias pelo celular
Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.
Dê a sua opinião
O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.