A pandemia do novo coronavírus deixa não só um rastro de luto, mas de agravamento das desigualdades sociais e econômica do país. Nos últimos nove meses, desde a eclosão da crise sanitária, a vida de crianças e adolescentes piorou ainda mais, principalmente, daqueles de famílias mais pobres (classes C, D e E). As causas foram a redução de renda, o aumento da insegurança alimentar e as escolas fechadas. É o que revela a segunda rodada da Pesquisa Impactos Primários e Secundários da Covid-19 em Crianças e Adolescentes, divulgada ontem, pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef). Entre as 1.516 entrevistas (igual número ao da primeira rodada), realizadas pela equipe do Ibope Inteligência, a proporção de pessoas trabalhando em novembro foi superior à observada em julho último, quando ocorreu a primeira rodada do estudo. Nos últimos nove meses, 55% informaram que o rendimento diminuiu desde o início da pandemia. Para o Unicef, essa mostra deve representar 88 milhões de brasileiros. Nos domicílios com crianças e adolescentes, em 64% a redução da renda foi maior devido à diminuição do salário de alguém da família. O reflexo da situação chegou à mesa. Mais da metade dos consultados (54%) teve menos alimentos para consumir — um aumento de 0,6 ponto percentual em relação à primeira sondagem realizada em julho último. Em torno de 20,7 milhões de brasileiros (13%) deixaram de comer por falta de dinheiro. O impacto foi maior entre as classes D e E, nas quais essa proporção chega a 21%. Entre as famílias que sobrevivem com um salário mínimo, 42% das crianças e adolescentes não tiveram acesso à merenda escolar, indispensável à segurança alimentar dos que vivem em situação de vulnerabilidade socioeconômica.“É extremamente preocupante o cenário de insegurança alimentar que a pandemia traz para crianças e adolescentes. Uma família que não consegue alimentar adequadamente suas crianças está vivendo na mais absoluta privação de direitos. É urgente o desenvolvimento de políticas públicas direcionadas à parcela mais pobre. Elas, muitas vezes, vivem em situações de tamanha exclusão, que não conseguem ter acesso aos programas sociais de distribuição de renda”, afirma Florence Bauer, representante do Unicef no Brasil. O fechamento das escolas, medida imposta pelo isolamento social para conter a proliferação do vírus, afetou a aprendizagem de crianças e adolescentes. Para o Unicef, os estabelecimentos de ensino devem reabrir, com segurança, o quanto antes. Além das perdas do conteúdo escolar, a pandemia afetou, também, a saúde mental dos menores de 18 anos. A sondagem mostrou que 27% dos entrevistados constataram que os adolescentes tiveram insônia ou excesso de sono. Outros 29% apresentaram alteração no apetite e 8%, menos interesse por atividades rotineiras. No total, 54% das famílias identificaram algum sintoma relacionado à saúde mental dos adolescentes. As políticas públicas, até agora desenvolvidas pelos sucessivos governos, não têm sido exitosas. A pandemia do novo coronavírus só agravou a dramática situação enfrentada por 51,7 milhões de pessoas, ou 24,7% da população, que estavam abaixo da linha da pobreza, com renda mensal de R$ 436 por pessoa do domicílio. Nesse grupo, há os extremamente pobres, com renda mensal de até R$ 151, que somam 13,7 milhões, ou 6,5% da sociedade. Impõe-se ao poder público o desenvolvimento de políticas que resgatem esse contingente populacional de miséria, dando-lhe condições dignas de vida e de exercício pleno da cidadania.
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De Demba Ba a Robinho
O posicionamento do franco-senegalês Demba Ba no episódio de racismo do quarto árbitro romeno Sebastian Coltescu contra o camaronês Pierre Webó, no jogo desta semana da fase de grupos da Liga dos Campeões da Europa entre Paris Saint-Germain e Istanbul Basaksehir, merece aplausos de pé, prêmio presidencial da Fifa e até Nobel da Paz, se for possível.
O atacante de 35 anos teve coragem de enfrentar o ato racista literalmente de frente, como a Fifa poucas, ou nenhuma vez, quis. Demba Ba não tinha em mãos aqueles textos prontos da campanha “Say no to Racism” elaborados pela entidade máxima do futebol e lidos no idioma dos capitães das seleções antes dos duelos de mata-mata da Copa. Ele disse na cara de Coltescu o que vinha do fundo do coração. Sem ensaio. Muito menos montagem.
A postura firme do PSG e do Istanbul ao tirarem os times de campo em protesto contra a injúria do árbitro foi o auge da resposta imediata ao episódio em uma cidade emblemática, Paris. E com a visibilidade midiática do mais badalado torneio continental de clubes do mundo. Portanto, o movimento de Demba Ba e seus colegas de profissão é inquestionável.
Questionável é um detalhe que passou despercebido e diz respeito ao Istanbul Basaksehir e a um jogador brasileiro. O clube turco, que ganhou repercussão mundial no episódio de terça, empregou Robinho de 5 de janeiro de 2019 a 10 de outubro deste ano. Ele desembarcou no clube condenado em primeira instância por estupro pelo Tribunal de Milão . Perdeu também em segunda instância. O Istanbul é um time sem torcida. Deu de ombros para o estupro coletivo. Sem pressão popular, fez o que o Santos tentou. Contratou. O Peixe foi freado pela opinião pública.
Por que o Istanbul fechou com um jogador acusado de estupro? Explico a pergunta. Fundado em 1990, o clube com sede em Basaksehir, distrito com 207 mil habitantes, é considerado time do governo. Teve ajuda do presidente do país, Recep Tayyip Erdogan, na inédita conquista do Campeonato Turco neste ano. Erdogan é conhecido pelo autoritarismo, fundamentalismo religioso e populismo. Tem discurso ultranacionalista, conservador e preza pela tradição muçulmana. O caso de Robinho contraria tudo isso. Mesmo assim, Erdogan está no segundo mandato.
O Istanbul Basaksehir era um time discreto até 2014, quando Erdogan ocupava o posto de primeiro-ministro. Com a ascensão a presidente, o clube prosperou. Foi comprado pelo Ministério da Juventude e dos Esportes e virou extensão do governo. Recebeu altos investimentos. Entre eles, Robinho. Contratado para ser a estrela, o brasileiro entrou em campo em 15 rodadas na campanha do título e não fez gol. Na temporada, 25 jogos sem bola na rede.
O Istanbul ganhou holofote no episódio de Pierre Webó. Demba Ba fez gol de placa em defesa do profissional camaronês e o time turco foi muito além do esperado ao deixar o campo. Porém, o clube precisa combater suas mazelas. Dar “asilo” a Robinho foi um pecado. Ignorar a denúncia de estupro coletivo e o processo enquanto ele esteve lá é tão grave quanto o racismo.
Charge
Sr. Redator
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Pandemia
“Estamos no finalzinho da pandemia”, afirmou o presidente Bolsonaro, em Porto Alegre. Não há dúvida de que ele não tem a menor noção do que ocorre no país, principalmente, em relação à saúde pública. Isso, sem levar em conta a sua incapacidade de estabelecer políticas públicas coerentes com a realidade nacional, principalmente na área da saúde. Desde o início da pandemia, Bolsonaro faz pouco caso dos danos que o novo coronavírus tem provocado à sociedade. Hoje, com quase 180 mil vítimas e mais de 6 milhões de infectados, o Brasil está atrás só dos Estados Unidos em número de óbitos. Os números de casos e de hospitalização estão crescendo. Em pelo menos 15 estados, o colapso, na rede pública, é quase inevitável. Em vez de investir na obtenção de vacinas, com eficácia comprovada, para imunizar todos os brasileiros, o governo vai gastar R$ 250 milhões para distribuir o ineficaz “kit covid” (cloroquina, hidroxicloroquina e o antibiótico azitromicina) nas farmácias populares. Mas, o Congresso Nacional, que teria poder para conter as sandices do presidente, é passivo, o que o torna conivente, com o (des)governo que só tem promovido retrocessos ao país.
Afonso Guimarães, Noroeste
» Gostaria que alguém me explicasse essa contradição: os pacientes que desejassem ser medicados com hidroxicloroquina, medicamento em uso há mais de 70 anos, superconhecido e estudado, baratíssimo, praticamente sem efeitos indesejáveis, se administrado na dose correta e com o devido acompanhamento médico, teriam que preencher um termo de conhecimento do risco que corriam, o qual, na realidade, em cinco dias, é praticamente zero. Agora, uma vacina desenvolvida em seis meses, caso nunca visto na história da medicina, sem o complemento da fase de experiência em animais, usando nova tecnologia, que ninguém pode prever em que vai dar, sem ter havido tempo para levantar os efeitos colaterais imediatos e muito menos os tardios, que exigem de dois a três anos de observação, pode ser tomada sem nenhum termo de responsabilidade, até passando por cima da Anvisa. E, pior, se a pessoa a recusar, será transformada num pária, sem nenhum direito natural nem constitucional. Mais grave ainda: isso está sendo decidido não por médicos e autoridades sanitárias, mas por políticos e ministros do STF. Se os resultados forem nefastos, qual político ou ministro vai assumir a responsabilidade? Como tudo o que é estranho, seguindo o dinheiro, as coisas se encaixam.
Roberto Doglia Azambuja, Asa Sul
» A confusão está em voga, relativamente à vacina contra a covid-19. João Doria, governador de São Paulo, está politizando o evento a ponto do governador de Goiás chamá-lo de irresponsável e dizer que faz charlatanismo. Determinar um dia de janeiro para vacinar parte da população de São Paulo é o fim da picada, pois não há nada de concreto com a vacina CoronaVac. A Anvisa não autorizou e, sequer, recebeu pedido para tal. O governo federal estica a corda e não tem, até agora, uma logística para aplicação de qualquer que seja a vacina. O ministro da Saúde está perdido que nem cego em tiroteio. Num dia, diz uma coisa e, no outro, diz outra. Enquanto isto, o povão fica atordoado e preocupado com a leniência governamental.
José Monte Aragão, Sobradinho
Tecnologia
O uso exacerbado de tecnologia está deixando os seres humanos cada vez mais insensíveis, desumanos, dependentes, descontrolados, abióticos, dirigidos por máquinas e idiotizados para questões vitais e essenciais. Caso todos os computadores parem abruptamente, o mundo entra em colapso, da forma que hoje funciona. Cada vez mais, é valorizado o dinheiro e o poder, efêmeros, e a vida perde o sentido, deixando os homens isolados, perdidos, desesperados, órfãos da Mãe Natureza. A tecnologia tornou-se necessária, mas o excesso e a dependência dela, matam.
Humberto Pellizzaro, Asa Norte
Hotel
Ninguém quis comprar o Torre Palace Hotel. O leilão começou no início do mês, mas os participantes não se interessaram muito, ao que parece. Isso porque ninguém deu lance nenhum. Se continuar assim, a população terá mais uma chance de ver preservado um patrimônio histórico, cujo valor para nossa cidade ultrapassa os valores materiais. O Torre fica no Setor Hoteleiro Norte, no Plano Piloto, bem no coração de Brasília. Mas, não foram só os participantes do leilão que deram as costas para aquela obra de passado brilhante. O hotel está abandonado há sete anos. Mesmo assim, está custando a bagatela de R$ 35 milhões. Em pé durante todo esse período, o hotel quase vira uma instituição de Brasília, não fosse o crescimento desenfreado da concorrência em seu entorno. Antes, a região era um deserto, até que o Torre Palace mudou a paisagem desértica, que cobria de barro vermelho toda a área. Então, a edificação luxuosa deu novos ares ao local. Agora, quase sem dono, resta a insistência da Justiça com novos leilões, que servirão, ao menos, para pagamento de passivos trabalhistas.
Arthur de Castro, Asa Sul
Desabafo
Pode até não mudar a situação, mas altera sua disposição
Cuba bloqueia redes sociais e coloca ativistas em prisão domiciliar. Afagos da “democracia” cubana.
José Matias-Pereira — Park Way
A comparação que o Rafael Prudente fez entre usar o ônibus e o avião vai custar caro a ele: a reeleição em 2022. Lastimável!
Sebastião Machado Aragão — Asa Sul
Antes, o brasileiro sonhava com um carro novo, com uma viagem à praia... Hoje, o sonho de consumo de todos é a vacina contra a covid!
Washington Luiz Souza Costa — Samambaia
A internet unifica o mundo. A internet bestifica o mundo.
Eduardo Pereira — Jardim Botânico
Ações afirmativas e o papel da Defensoria Pública
Recentemente, a empresa Magazine Luiza lançou um edital de ações afirmativas para a contratação de trainees exclusivo para negros/as. A iniciativa foi fortemente atacada judicial e socialmente nas redes sociais. Os críticos à iniciativa recusam-se a perceber que o acúmulo de capital proporcionado às famílias escravocratas permitiu a elas uma série de vantagens que impactaram diretamente no desenvolvimento socioeconômico de seus descendentes.
Eles não admitem que o sofrimento, a violência, o extermínio e a exclusão da população negra em razão do regime escravocrata e do racismo impactaram no desenvolvimento dessas famílias e impuseram-lhes desvantagens socioeconômicas fortemente presentes até hoje.
Entre os algozes da iniciativa, destacam-se a ação judicial de um defensor público federal contra o edital. Na ação, o defensor alegou independência funcional, ofensa aos direitos dos não negros, prática de racismo reverso (sic) e negou a dívida histórica da sociedade brasileira com a população negra.
Num malabarismo jurídico absolutamente desleal e intelectualmente desonesto, lançou mão das referências teóricas que são antirracistas, utilizou os avanços alcançados na legislação e jurisprudência dos tribunais no combate ao racismo para atacar a política afirmativa anunciada pelo Magazine Luiza.
Independência funcional exige limites, responsabilidade e coerência com a missão institucional do órgão. Racismo reverso não existe, ou melhor, o racismo de negro contra branco não existe porque o racismo é única e exclusivamente direcionado a minorias. Leituras básicas podem distinguir as diferenças conceituais entre racismo, preconceito e discriminação, que evitaria muitos desgastes e críticas injustas.
A peça jurídica desse defensor ilustra o preconceito, confusão de conceitos básicos sobre ações afirmativas, desconhecimento da história daqueles que negam o racismo institucionalizado na sociedade e agarram-se na bandeira da meritocracia para proteger seus privilégios, muitos deles construídos no contexto de uma sociedade forjada à base do racismo, desumanização, violência e escravização da população negra.
A Defensoria Pública possui um papel central na defesa dos interesses da população mais vulnerável e diante do cenário de exclusão social e econômica da população negra existente em nosso país, é inadmissível ver um defensor público atuar de forma contrária aos interesses da população negra, pois isso equivale a atuar contra interesses que a Constituição manda a própria instituição defender.
Quando analisamos diversos indicadores com recorte racial: violência, letalidade, educação, emprego, destacando os dados sobre emprego e renda, mais uma vez a desvantagem socioeconômica fica evidente. Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, Pnad Contínua, do IBGE, mostram que, em 2017, a renda dos brancos era 77% maior do que a renda dos negros. A desigualdade também aparece na ocupação de cargos gerenciais. Aproximadamente 70% deles são ocupados por brancos e menos de 30%, por negros.
No desemprego, a diferença também é gritante. Apesar de os negros representarem mais da metade da força de trabalho (55%), eles são praticamente dois terços (66%) dos desocupados e dos subutilizados e a maioria dos que sobrevivem no mercado informal de trabalho. A situação da renda reflete diretamente na distribuição da riqueza em nosso país. Entre os 10% mais ricos, 72% são brancos e 25%, negros. Já entre os 10% mais pobres, a proporção se inverte: 75% são negros e 23%, brancos.
Diante do enorme abismo racial no país, é mais do que evidente que o defensor público que ingressou com ação contra o edital da empresa Magazine Luiza agiu do lado errado e extrapolou os limites de sua independência funcional, o que torna inevitável que responda por seus atos administrativamente.
A Defensoria Pública tem papel central enquanto parceira nesta luta. Diversas entidades ligadas ao movimento negro e outras personalidades apresentaram uma representação à Corregedoria da Defensoria Pública da União (DPU) contra o defensor. Não permitiremos que manifestações preconceituosas de membros da instituição manchem o belo trabalho que a maioria dos defensores e defensoras desenvolve em todos o país em defesa de políticas para a inclusão e defesa da população negra.
Pandemia e a educação infantil
O que era essencial virou secundário. O palco dos estudos foi desmontado, dando espaço para um show armado sem público, sem artista e sem espetáculo. São 253 dias corridos sem a presença da maioria de alunos em suas escolas. E são mais de três mil horas de crianças estudando na frente das telas de computador ou iPad, consumindo um novo vício: o excesso de telas. Sem as horas do videogame.
Foi desmontado o formato regular do curso de aulas presenciais. Assim, o show armado como nova plataforma híbrida de aprendizado, que é o on-line misturado com o remoto, ficou num cansativo vai e volta, abre e fecha. Sem público interessado, sem artistas motivados e sem o espetáculo participativo provocado pelo distanciamento, vive-se, na educação, um clima de frieza, descaso e omissão. Um caminho perfeito para a ineficiência.
O pior dessa história são as perguntas sem respostas definitivas:
— Quando isso tudo vai acabar? Onde isso vai parar?
Pensa-se em uma estrutura que tenta suprir o aprendizado, mas se esquece que existem extremos inconciliáveis. As instituições públicas e as privadas. Ambas, plenamente afetadas de formas diferentes. De um lado, estão os alunos de baixa renda, que dependem das escolas até para comer. De outro, os alunos inseridos no ensino on-line quase que 12 horas por dia, correndo para não perder o ano.
Pesquisadores alertam que a exposição às telas de computadores, celulares e tablets por crianças e adolescentes afeta o sono, a atenção, o aprendizado, o sistema hormonal (risco de obesidade), a regulação do humor (risco de depressão e ansiedade), o sistema osteoarticular, a audição e a visão.
O que, antes, era “proibido’’, virou aceitável. Agora, tornou-se até saudável. Estudantes expostos ao uso de telas, em média 50% do seu dia, correm perigo. Afinal, todo excesso e consumo desordenado de telas e ambiente virtual causam distanciamento e males físicos, além de desordem familiar, resultar em falta de rotina e perda de hábitos saudáveis básicos.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) põem limites: crianças de até 5 anos podem ser expostas às telas por, no máximo, 1 hora/dia. E crianças maiores que 5 anos, no máximo, 2 horas/dia. Então, o que era recomendado como saudável passa a ser substituído por esse vilão do ensino remoto que se instala na vida das crianças e adolescentes, roubando-lhes o futuro.
O que será dessa geração daqui a alguns anos? Para onde foram as referências básicas de estudo, participação de grupo, capacidade de se relacionarem, sempre na busca de encontrar equilíbrio entre escolhas, ações e consequências? O impacto um dia chega.
A questão inicial volta:
— Onde isso vai parar? Já são mais de 253 dias corridos sem a presença da maioria dos alunos em suas escolas.
— Mais de 3 mil horas na frente das telas.
— Mais de 900 milhões de estudantes ainda longe das salas de aula.
— Quase meio bilhão de crianças não tiveram nenhuma forma de ensino a distância.
Sem luz do fim do túnel, algumas certezas já se concretizaram:
— As escolas não podem mais fechar!
— Os alunos precisam retornar o quanto antes!
— Escola não é um foco de risco para alunos e colaboradores, desde que tomadas as precauções e observados os protocolos oficiais.
Observa-se que países europeus e estados americanos, que já enfrentam um novo aumento no número de casos, não cogitam no fechamento das escolas. Além do fator gerencial ou empresarial das escolas (muitas já fecharam as portas em definitivo), os fatos demonstram que fechar escolas não é opção relevante para o combate ao novo coronavírus. Estudantes, nas escolas, estão mais seguros e mais saudáveis do que em casa.
Evidências cada vez mais fortes mostram que o ensino presencial não pode ser facilmente replicado ou suprido pelo aprendizado on-line. Crianças ausentes das escolas não significam crianças protegidas. O que se observa são famílias expondo seus filhos nas praias, em clubes, shoppings, praças públicas e até viagens.
Há um comportamento contraditório por partes de pais e governantes que, por tanto tempo, privaram alunos de retornarem às escolas, mas os mantêm expostos em áreas públicas. Até mesmo em contato com seus familiares, que continuam circulando para cumprir cronogramas de tarefas e deveres.
Até quando as crianças poderão esperar? O tempo urge. Há que se colocar um limite no eixo desse show. Com a vacina, que parece estar bem próxima, o essencial não pode virar secundário. O palco dos estudos há que voltar incorporando o legado das ações de quarentena, acrescidas das lições de amor, cuidado e solidariedade. Dois fatos afloram: ninguém está a salvo em uma sociedade desigual. E, importante, gente motivada, mais bem informada e confiante é muito mais eficaz do que gente policiada.
Visto, lido e ouvido
Desde 1960
Internet e integridade das eleições
Vai ficando mais e mais evidente e confirmada pelos pleitos eleitorais, não só no Brasil, mas em muitos países, a interação direta entre plataformas digitais e a integridade dos processos eleitorais. A onipresença da internet, que muitos acreditavam ser a redenção na liberdade de opinião, tem sido usada de duas formas, tanto para afirmar princípios democráticos, quanto para dar apoio a ditaduras. Em outras palavras, essa é a ferramenta que tem sido largamente usada para erguer e desestabilizar democracias. Ações de hackers e propagação de fake news injuriam e difamam uns e glorificando outros.
Não se trata, aqui, de uma conduta aética e isenta da internet nas campanhas eleitorais, mas de um comportamento, por demais observável, de imiscuição indevida, capaz de mudar os rumos políticos até de países com forte tradição eleitoral. O caso recente das eleições, nos Estados Unidos, comprova bem essa prática danosa, o que tem levado os resultados finais dos pleitos a serem repetidamente questionados na Justiça. Não é por acaso que a transparência nas eleições, um fator essencial para o pleno funcionamento do modelo democrático, tem encontrado, na internet, não um aliado, mas um complicador em potencial.
É bem conhecido também, aqui no Brasil, o funcionamento dos chamados Gabinetes do Ódio, centrais autônomas ou diretamente ligadas ao governo, inclusive, como foi verificado, funcionando dentro do Palácio do Planalto, com recursos públicos, usando as redes para denegrir adversários, elaborar listas de indesejáveis e outros produtos de mídia flagrantemente ilegais.
Nos governos petistas, também essa era uma prática corrente e bastante usada para fortalecer ideologicamente os partidos de esquerda e demonizar as oposições. Mais uma vez, é preciso destacar que a internet não está acima do bem e do mal, mas o uso que militantes, apoiados pelos diversos governos, fazem dela torna esse tipo de mídia uma arma contra a transparência e contra a integridade das eleições.
Mesmo medidas legais, como é o caso do Novo Marco da Internet, recentemente votado, não possui o condão de colocar a rede dentro de uma linha de atuação ética. Nos países flagrantemente ditatoriais, como são os casos de Coreia do Norte, Venezuela, Cuba, China, El Salvador e outros, essa questão é resolvida, simplesmente, com desligamento e censura das redes de internet ou seu banimento parcial ou total. O fato é que a internet tornou-se, ao longo de sua curta existência, um fator indutor tanto de tiranias quanto de liberdades.
Controlar, pois, esse tipo de mídia é fator hoje de concentração de poder. A desinformação da população, principalmente naqueles países onde o analfabetismo já é, em si, uma arma de dominação, constitui-se numa facilidade a mais para o direcionamento criminoso da vontade eleitoral por meio de redes, muitas vezes operadas por robôs e situadas fora do país, para dificultar seus rastreios.
O pior é que esse tipo nefasto de prática não tem sido devidamente enquadrado pela Justiça, mesmo em países onde as instituições têm espaço para agir. Aos governos, sejam eles de que tom ideológico adotem, uma vez instalados no poder, dificilmente abrem mão dessa ferramenta para diminuir seus opositores.
No Brasil, a questão, sempre sob suspeita das urnas eletrônicas e a não introdução do voto impresso, tem sido um complicador a mais em todo o processo eleitoral e fator de desconfiança, principalmente, por parte dos candidatos que se saíram derrotados. Há, ainda, um oceano virtual a ser desvendado e ainda nos encontramos na borda d’água.
A frase que foi pronunciada
“A internet é a cena do crime do século XXI”
Cyrus Vance, Jr., advogado em NYC
Ainda
Seu Paulo fazia uma trabalho em uma casa do Lago Sul. Abriu uma torneira para lavar as mãos. Não parava de elogiar. Mas que beleza de água. É uma água leve, sem cheiro, sem cor. Bebeu a água da torneira. E sem gosto, exclamou. Seu Paulo mora no Paranoá. A água que recebe em casa é do lago. Dizem que é tratada. Tem cheiro de sabonete, cor de mel e gosto estranho.
Futuro
Com a exposição no Parque da Cidade, o objetivo do ministro da Ciência, Tecnologia e Inovações, Marcos Pontes, é promover a troca de ideias entre jovens e pesquisadores, empresários e militares. A tecnologia é o entusiasmo que deve permanecer para um futuro promissor.
História de Brasília
Surgirão, agora, muitos “candidatos” às próximas eleições em defesa dos ocupantes dos mercadinhos da W-4. E é preciso, entretanto, que surja um esclarecimento. Aquilo é um antro de exploração, onde os produtores são sufocados e o povo escorchado.(Publicado em 20/01/1962)