Visto, lido e ouvido

Desde 1960 Circe Cunha (interina) // circecunha.df@dabr.com.br

Correio Braziliense
postado em 17/12/2020 21:14

Há bons médicos em todos os lugares

Com a Revolução Industrial, veio a sociedade de consumo e, com ela, o marketing, que nada produz e, mesmo assim, converteu-se na alma a dar vida a todo e qualquer negócio. De tanto ser valorizado, nesse mundo consumista em que estamos metidos, o marketing ou a propaganda tornou-se maior e mais importante até do que o produto que anuncia.

Como um papel de embrulho luxuoso, esse apelo imediato e insistente ao consumo esconde, em seu conteúdo, exatamente o que não anuncia, uma armadilha pronta a capturar consumidores incautos e famintos. No livro Sagrado, poderia muito bem ser representado pela alegoria do sepulcro caiado, a camuflar o engano. Em tudo, o marketing lança sua fumaça ilusória.

De perfume, passando por carros, roupas, comidas e até hospitais particulares, tudo ao alcance de todos. No caso de hospitais particulares, abundantes na capital, onde a renda média da população que vive nas áreas do Plano Piloto é uma das mais altas do país, é fácil encontrá-los em cada canto, cada um oferecendo de remodelação estética completa até a vida plena eterna repleta de saúde. O problema com esse tipo de oferta mágica, à disposição de bolsos dispostos a pagarem os altos custos de atendimento, é que, uma vez retirado o papel de embrulho e examinado bem de perto o que esses estabelecimentos têm a oferecer de fato, fica a impressão de que estamos sendo enganados da mesma forma que acontece em muitas igrejas neopentecostais, onde uma vaga no céu é vendida aos crentes, sem recibo e livre de impostos.

Quem adentra nesses moderníssimos templos da saúde, erguidos com os requintes de uma arquitetura que é somente uma fachada oca, equipados com os móveis da última feira de design de Milão, quadros chamativos e caros pendurados em cada recanto, jardins internos, salas de descanso, serviço de cafeteria, televisores e tudo o que o mundo do entretenimento poder oferecer, fica a sensação de que se está adentrando em um hotel de luxo, e não em um estabelecimento que vende serviços de saúde.

Nesses ambientes, a união entre técnicos em instalações hospitalares e decoradores faz o impossível para que o paciente, agora transformado em cliente, não perceba a diferença entre estar em um ambiente de hospedagem e em uma casa de saúde. A intenção talvez seja essa mesma. A ilusão propiciada pelo marketing da saúde começa a se esvair logo na primeira consulta, quando o paciente/cliente se depara com médicos que mais se assemelham a crianças, recém-saídos das muitas faculdades, também particulares, que se espalharam por todo o país nesses últimos anos.

Justiça seja feita. Com raríssimas exceções, esses encantadores hospitais não apresentam um corpo clínico de primeira linha, com doutores e currículos à altura da arquitetura desses portentos edifícios. O mundo vem abaixo com a bateria de exames pedidos, a encarecer os serviços de diagnóstico. A pouca empatia entre médicos noviços e pacientes é logo notada. Aqueles médicos de cabelos brancos e ar cansado, que perambularam por hospitais públicos por anos, e cuja experiência faz a diferença, simplesmente não existem. Tudo é novo e embrulhado em papel de seda a esconder o que importa.

Por conta dos nomes estrelados que se apresentam como proprietários dessas joias, a fiscalização dos órgãos de controle da saúde jamais são vistos. Talvez, por conta desse simples fato, os hospitais de fachada têm se proliferado na capital mais do que as viroses. A questão é que a maior parte é de apenas cenários, com fachadas modernas, como papel de embrulho em caixa vazia.

 

A frase que foi pronunciada

“O gênero humano assemelha-se a uma pirâmide, cujo vértice — um homem, o primeiro homem — se esconde nas alturas quase inacessíveis de 60 séculos sobrepostos uns aos outros, e cuja base, de miríades de indivíduos, poisa no abismo incomensurável de um futuro desconhecido.”
Alexandre Herculano, poeta português, historiador e jornalista

 

Presente
Veja, no Blog do Ari Cunha, a cartilha elaborada pela Fiocruz e Ministério da Saúde para ser distribuída pelo WhatsApp aos amigos, como presente virtual. Recebemos da leitora Ana Paula Cunha Machado.


Diplomada
Laice Miranda Machado comemora o bom desempenho obtido no curso A defesa nacional e o Poder Legislativo, promovido pela Escola Superior de Guerra.


Pauta
É hoje que o famoso chef Dudu Camargo vai à Ceilândia participar da campanha Nosso Natal 2020 para crianças e adolescentes da Instituição Batuíra, localizada em Ceilândia Norte. A primeira-dama, Mayara Noronha Rocha, foi a catalisadora da ação que é coordenada pela Subchefia de Políticas Social e Primeira Infância.


Ontem
Interpretando JK, o ator João Campos comemora o episódio pronto e disponível das Histórias de Brasília nas plataformas digitais. Vamos conhecer o passado da nossa cidade. Veja no Blog do Ari Cunha.

 

História de Brasília

Por mais um mês ficará, ainda, interrompida a pista do Eixo Monumental do lado da Câmara. É que estão construindo o túnel que ligará ao novo anexo do Congresso. (Publicado em 20/1/1962)

 

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