A despedida de D’Alessandro depois de 12 anos no Internacional foi uma das lindas e tristes imagens da 26ª rodada do Campeonato Brasileiro no fim de semana. O país do futebol nunca esteve tão carente de camisas 10. Prova disso é a longevidade do argentino em um clube de ponta da Série A. O meia encerra a passagem pelo time colorado aos 39 anos. Deixou na sala de troféus Sul-Americana (2008), Copa Suruga (2009), Libertadores (2010), Recopa (2011), sete edições do Campeonato Gaúcho e arrematou duas finais da Recopa estadual. No total, 480 jogos, 94 gols, 112 assistências e 13 títulos na relação com uma torcida apaixonada por ele.
D’Alessandro alimenta uma velha discussão: por que o Brasil parou de fabricar camisas 10? A demanda por eles é imensa. Uns têm até demais. Outros, de menos. Há quem reinvente um jogador minimamente capaz de cumprir a função. E os que, simplesmente, viram-se sem um maestro. Nem mesmo a Seleção Brasileira ostenta um regente no meio de campo. Um dos votos de Tite no Fifa The Best foi no belga De Bruyne, do Manchester City. “Não gosto pouco do De Bruyne. Gosto muito”, justificou o técnico em entrevista ao SporTV.
Basta olhar para os times da elite do Brasileirão para atestar a situação dramática. O camisa 10 do líder São Paulo é Daniel Alves. O ex-lateral-direito de 37 anos notou a escassez de talento na posição e é dono do pedaço na campanha tricolor. O 10 do Atlético-MG é o chileno Eduardo Vargas. De meia, não tem nada. Diego Ribas usa o número mítico consagrado por Zico no Flamengo, mas amarga o banco de reservas. A dezena poderia facilmente estar nas costas do uruguaio Arrascaeta ou de Éverton Ribeiro, mas pertence a Diego desde 2016.
O Fluminense até tem um camisa 10, mas Ganso é um dos grandes fiascos recentes do futebol brasileiro. O Vasco faz o que pode (e não pode) para manter o argentino Benítez. O 10 do Botafogo é Bruno Nazário. Entre os paulistas, mais camisas 10 gringos. Corinthians e Santos apostam nos venezuelanos Cazares e Soteldo, respectivamente. O Palmeiras conta com dois meias com perfil de 10. Entretanto, assim como Ganso, nenhum deles emplaca: Gustavo Scarpa e Lucas Lima. A 10 alviverde pertence ao atacante Luiz Adriano.
Talvez, uma solução em curto prazo seja Jean Pyerre. O meia de 22 anos do Grêmio evolui. Apostas da Seleção nas últimas duas Copas, Oscar (2014) e Philippe Coutinho (2018) não vingaram. Acho até que o Brasil paga caro pelo desperdício no Mundial de 2006. O elenco levado à Alemanha tinha quatro camisas 10: Ronaldinho Gaúcho, Kaká, Juninho Pernambucano e Ricardinho. Dez da França, Zidane colocou todos eles no bolso e eliminou o time de Parreira.
A ressaca do Inter após a saída de D’Alessandro, as camisas 10 de Santos e Corinthians entregues a talentos venezuelanos, decepções brasileiras e o voto do técnico da Seleção em De Bruyne nas três indicações dele a melhor do mundo dão a dimensão exata da gravíssima crise no meio de campo do futebol nacional.
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