É novo e é normal

MARIA ANTONIETTA RUSSO
postado em 21/12/2020 08:06 / atualizado em 21/12/2020 08:10

A pandemia coloca à prova nossa capacidade de adaptação e superação

São a flexibilidade e as transformações do contexto que levaram pessoas e empresas a, tão logo tornou-se necessário, mudar instantaneamente sua forma de trabalhar. O home office tem se mostrado não somente um antídoto eficiente nas relações de trabalho, mas continuará a ser adotado amplamente quando a pandemia passar, marcando, de forma permanente, as relações profissionais. Nesse sentido, hoje, somos os protagonistas da substituição talvez reativa, mas inexorável, do modelo de gestão tradicional baseado em controle, rigidez e hierarquia por outro em que mais valem maleabilidade, responsabilidade e confiança.

Para as empresas, esse processo, ainda tão recente, teve três momentos distintos. No primeiro deles, a decisão imediata de inúmeras companhias diante da eclosão da pandemia foi colocar, sem muito cálculo, o máximo de funcionários em casa com o objetivo de preservar a saúde das pessoas. No segundo, logo depois, houve a preocupação de aprimorar as condições para que, em tais circunstâncias, se garantisse a continuidade dos negócios, preservando a qualidade do trabalho. No terceiro, por fim, seguradas as duas fases primárias, veio a constatação de que — sim! — as coisas estavam indo bem, com certos ganhos de produtividade e satisfação. Deu-se, então, a compreensão de que boa parte dessas mudanças era incontornável e tinha vindo para ficar e, inclusive, acompanhada pelafrequente pergunta de “como foi que não pensamos nisso antes”.

É importante notar que os três estágios representaram um enorme esforço de adaptação individual e coletivo.As empresas tiveram de reorganizar por completo suas rotinas, sem interromper o fluxo de produção e sem comprometer a saúde financeira. Em isolamento forçado, os colaboradores precisaram buscar o equilíbrio entre vida profissional e pessoal, muitas vezes, sem o apoio habitualmente garantido por escolas e parentes.

E, com as mudanças, vieram as descobertas. Por exemplo: ficou evidente, para muitos profissionais, que é possível aproveitar de maneira mais útil ou prazerosa o tempo antes gasto todos os dias no deslocamento de casa para o trabalho e do trabalho para casa. Ao mesmo tempo, a transformação de nossas casas em escritórios criou o desafio de gerir o tempo com sabedoria e de se comunicar com clareza num ambiente mais fluido, sem as balizas a que nos habituamos no clássico habitat corporativo.

Para tudo isso funcionar, é necessário, mais do que nunca, que as relações profissionais sejam baseadas no respeito e na parceria. A distância forçada exige que as dinâmicas de interação sejam ainda mais integradas. Jamais equipes de trabalho necessitaram estar tão afinadas e coordenadas como agora. Nesse universo de contatos preferencialmente virtuais, a ideia da sala do diretor aberta a todos foi ampliada de forma inimaginável. O funcionamento de qualquer empresa está amparado, hoje, mais do que antes, na responsabilidade coletiva. Em certa medida, todos se tornaram gestores de si próprios e, ao mesmo tempo, mais dependentes do movimento bem encadeado da engrenagem profissional.

Os espaços de trabalho nunca mais serão os mesmos e, para as empresas, isso significa que a flexibilidade se tornou definitivamente uma característica organizacional indispensável. Na companhia em que atuo, adotávamos um modelo maleável, com a possibilidade de trabalho remoto até duas vezes por semana para funcionários da sede. Era algo que pensávamos em estender gradualmente para os escritórios regionais, mas, em poucos dias, tivemos que ampliar essa medida para todos, tomando-a como a única forma possível de manter o negócio funcionando. Até o call center opera, hoje, de forma eficiente com 1.900 consultores atendendo de suas casas, num formato nunca testado, algo antes impensável.

A necessidade acelerou nossa educação digital. A mudança abrupta para o ambiente virtual evidenciou que as dificuldades para avançar eram mais relacionadas a nossas barreiras emocionais e culturais do que a limitações tecnológicas ou operacionais. Há quem considere a expressão novo normal apenas um modismo, mas o fato é que ele é uma realidade e, como todas as evoluções, em breve se tornará simplesmente “normal”.

 

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