Visão do Correio

As mazelas continuam

''Não há como dissociar medidas econômicas e sociais para reconstruir o Brasil após a avassaladora crise epidemiológica''

Correio Braziliense
postado em 22/12/2020 06:00 / atualizado em 22/12/2020 08:32

Ano Novo, crônicos problemas sociais e econômicos. Assim, os brasileiros chegarão em 2021. Com o fim do auxílio emergencial, cerca de 68 milhões de pessoas perderão poder de compra, principalmente de alimentos. Especialistas anteveem aumento do desemprego e da pobreza e ritmo mais lento da economia. A inflação, por sua vez, não dá trégua. Ontem, o Relatório de Mercado Focus, divulgado pelo Banco Central, mostrou que o Índice Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) deste ano deverá chegar a 4,39% — 0,39 ponto percentual acima da meta perseguida pela autoridade monetária.

Na saúde pública, a situação é crítica. Mais de 7 milhões de brasileiros já foram infectados pelo coronavírus que, provoca, hoje, cerca de 800 mortes por dia. A imunização em massa da população ainda não tem data definida. Mas o contra-ataque ao vírus por si só não será suficiente para reverter o quadro econômico e nem atender às velhas demandas sociais do país.
No Congresso Nacional, as dificuldades da população ficaram à margem das decisões. Hoje, parlamentares têm foco só na disputa pelos comandos da Câmara e do Senado. Com o recesso do Legislativo, o Orçamento da União será aprovado somente no ano que vem. As reformas administrativa e tributária, que poderiam mitigar o rombo fiscal, estimado em mais de R$ 800 bilhões neste ano pela equipe econômica, não estão, por ora, na pauta do Legislativo.

Por maiores que sejam a esperança e o otimismo dos brasileiros, a realidade nacional é uma ducha gelada sobre a maioria da população, principalmente à parcela mais pobre, que não tem a quem recorrer para continuar sobrevivendo. Hoje, são mais de 14 milhões de desempregados e 5,9 milhões de desalentados — pessoas que desistiram de procurar uma oportunidade de trabalho, seja por causa da pandemia, seja por descrença. Desemprego e desamparo pelo Poder público terão impacto direto no consumo e, na sequência, em várias cadeias produtivas.

A extrema pobreza — pessoas que vivem com menos de US$ 1,90 por dia — caiu de 6,9% da população para 3,3% durante a pandemia, devido ao auxílio emergencial. “Porém, pode alcançar algo em torno de 10% a 15% dos brasileiros no próximo ano, atingindo mais de 20 milhões de pessoas. Já a pobreza, que considera as pessoas que vivem com menos de US$ 5,50 por dia e atingia 24,7% da população brasileira no ano passado, deve variar entre 25% e 30% da população em 2021”, estima Daniel Duque, economista e pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV/ Ibre).

O Executivo descartou levar adiante o projeto Renda Cidadã, que não cabe no Orçamento federal. Os investimentos estrangeiros e nacionais no setor produtivo estão retraídos por fatores diversos, entre eles as políticas ambientais, que contrariam a tendência planetária. Além disso, há as contradições do governo e falta de liderança sobre a base de apoio no parlamento, que minam a credibilidade do país.

Não há como dissociar medidas econômicas e sociais para reconstruir o Brasil após a avassaladora crise epidemiológica. A construção de políticas públicas e sociais, e o seu desenvolvimento desde o primeiro dia de 2021 é providência que se impõe, ante as sequelas da pandemia, que tornou 2020 um ano perdido. A tragédia tem de ser estancada.

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