Saúde e economia não podem ser dissociadas. Repetidas vezes, o presidente Jair Bolsonaro fez essa afirmação durante a pandemia, ainda hoje longe de ser vencida. Mas tanto a saúde quanto a economia ficaram combalidas com a crise epidemiológica. Ambas se colocam como desafios a serem superados em 2021. As despesas inesperadas, como auxílio emergencial para 68 milhões de desvalidos, ajuda aos estados e municípios, aquisição de equipamentos e insumos médico-hospitalares, entre outros gastos, aprofundaram o rombo das contas públicas, que encerrará o ano com deficit próximo de R$ 871 bilhões.
O cenário não é nada auspicioso. A meta de 4% para a inflação, fixada para 2020, foi superada. A prévia, divulgada no dia 22 último, sinaliza que o índice acumulado deste ano será de 4,23%, o maior desde 2016 (6,58%). Mais da metade dos beneficiados pelo auxílio emergencial chegará a 2021 sem condições de colocar alimentos à mesa e com poucas chances de conquistar uma vaga no mercado de trabalho. O desemprego afeta 14 milhões de trabalhadores. Nesse contingente, os jovens entre os grupos etários são maioria — entre 14 e 17 anos, eles somam 44,2%, e de 18 a 24 anos, 31,4%, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Construção civil e agricultura foram os setores que criaram vagas. A manutenção da taxa Selic em 2% foi um estímulo aos empreendedores, com o aumento da demanda por imóveis. Na agricultura, a sazonalidade de lavouras também propiciou a contratação de trabalhadores. Os reflexos da pandemia pouco afetaram o meio rural, o que colaborou para a oferta de empregos.
Voltar à via do crescimento e diminuir as desigualdades socioeconômicas são obstáculos a serem vencidos pelo governo no próximo ano. Uma equação nada fácil de ser resolvida, quando faltam meios para induzir o desenvolvimento. Nos dez primeiros meses do ano, os investimentos estrangeiros caíram 44%, devido, principalmente, às incertezas decorrentes da pandemia. Mas não só isso. Ainda estão pendentes as reformas administrativa e tributária, além da revisão de políticas, como a ambiental, que afugenta o capital externo do país. A equipe econômica também não conseguiu entregar as promessas feitas, bloqueadas, em boa medida, pela crise na saúde, como a privatização de estatais, sobretudo das empresas deficitárias.
As mudanças que podem levar ao desenvolvimento começam com a imunização em massa da população. Trata-se de prioridade máxima, que não deve ser postergada por interesses ou divergências políticas. O Legislativo, por sua vez, deve se ocupar de avaliar e aprovar medidas que conduzam o país à normalidade em 2021, como a aprovação de projetos essenciais à recuperação da economia, da credibilidade do Brasil, tornando-o atraente aos investidores, e que propiciem a criação de oportunidades aos desempregados e reduzam as desigualdades socioeconômicas. A expansão da pobreza e da fome não coaduna com a necessidade de crescimento e desenvolvimento sustentável de uma nação.
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