O ano que congelou

Ana Dubeux
postado em 27/12/2020 08:21 / atualizado em 27/12/2020 09:32
 (crédito: Lucas Pacífico/CB/D.A Press)
(crédito: Lucas Pacífico/CB/D.A Press)

Estava aqui lembrando dos planos que fazia na passagem do ano passado para este. Os pensamentos voam rápido em direção ao passado, à viagem que tanto planejei, por exemplo. Me pergunto se posso, talvez, repetir a lista de resoluções de 2020. Podemos, não é mesmo? Sonhar ainda é bom; fazer é melhor ainda. 2021 pede muito para chegar diferente.

A quatro dias do fim do ano, só consigo ter duas sensações distintas. Uma delas é aquele sentimento que alcançamos ao ver um filme de suspense, aquela iminência de um susto a qualquer momento. A vida é mesmo um salto no escuro, uma espera de acontecimentos, mas 2020 superou qualquer enredo de terror. E 2021 vem chegando sob os ecos de um recrudescimento da pandemia. Já o segundo sentimento... Este se resume a uma palavra: esperança.

2020 congelou no terceiro mês. Cada um terá de encontrar a sua forma particular de se despedir dele. É possível zerar, voltar o cronômetro? Não. De fato, vivemos tudo isso. Confinamento, distanciamento, restrições, solidões, medidas de isolamento – cumpridas ou não. O saldo disso tudo é tão desigual quanto o Brasil que vivemos. Olhamos o mundo de janelas muito diferentes, e a verdade é que, para alguns, a vista continuou linda. Para outros, a linha do horizonte é terra devastada por dores diversas.

São nove meses deste “novo normal”, que já nada tem de novidade. O estranho virou nosso cotidiano. Nunca a morte esteve tão perto; nunca contamos tantas histórias de renascimento. 2020 foi o ano dos sentimentos contraditórios, de aprendizado, de resiliência, de gratidão pela cura, de tristeza pelas despedidas, de mudança de vida para muitos. E, apesar de tanto, 2020 foi pequeno, pouco de vivências alegres e de experiências quentinhas. De fato, congelou.

2020 foi um ano de espera. Um caminho longo, gelado, como uma névoa espessa que temos de atravessar sem ver nitidamente as coisas à frente. Talvez por isso 2021 seja o ano da esperança, simbolizada por uma vacina que mundo afora se transforma em realidade mais rápido do que aqui. É preciso entender que, entre o esperar e o esperançar, há grande diferença.

Não devemos mais apenas aguardar os acontecimentos, devemos agir. Seremos o próprio verbo. Exigir, cobrar, combater, transformar, buscar direitos, denunciar desmandos, proteger pessoas... O vírus provou que não aceita desaforo; nós precisamos provar o mesmo. Governantes eleitos e todos os atores políticos do Brasil devem prestar contas dos feitos e desfeitos. Gerir o caos, unir esforços, superar dificuldades é papel das autoridades.

Sim, ainda haverá sonho, plano, tempo, esperança. Haverá o degelo, lento e gradual. Mas até virar rio, de água límpida e corrente, há um bom trabalho a ser feito. Sigamos com responsabilidade, por nós mesmos e pelos outros.

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