Desde 1960

Visto, lido e ouvido

Circe Cunha (interina)
postado em 26/12/2020 19:25

Estamos sós

Lições vindas de todo o tempo e lugar na história humana demonstram que, em tempos de guerra contra um inimigo comum, como é o caso da atual pandemia, foi contando com a união comandada de esforços que nações, das mais diversas culturas, lograram sair-se vencedoras. É em períodos assim que despontam aqueles que possuem liderança capaz de reunir, em torno de si, populações ordeiramente encorajadas para enfrentar momentos de grande agonia.

Não há outro caminho possível, exceto, a rendição. No caso específico do Brasil, esses exemplos e ensinamentos de nada serviram, uma vez que nossas lideranças, momentâneas, todas elas, mostraram na prática o quão incapazes são para, ao menos, coordenar um esforço conjunto em defesa da nação. Falharam as lideranças e falhou também boa parte da população, ao se mostrar arredia às mínimas recomendações de saúde pública.

Temos um longo caminho pela frente para preparar os indivíduos, transformando-os em cidadãos cônscios de seus direito e deveres, e dessa massa formada retirar verdadeiras lideranças, capazes de se mostrarem eficazes e éticas, na paz e na guerra. O que temos vistos até aqui, em torno dessa virose até então desconhecida e traiçoeira, que oscila em ondas cada vez mais mortais, é um suceder de disputas e rinhas políticas, mesquinhas e pessoais, que nada trazem de benefício à população.

Mesmo aqueles que se mostram insistentes para que a população seja o mais rapidamente possível vacinada, o fazem para forçar o retorno à uma normalidade utópica, de modo a facilitar a retomada de seus intentos pessoais. Uma leitura atenta ao que ocorre neste momento em todos os noticiários do país, e mesmo do exterior, mostram que o Brasil está sem lideranças à altura dos acontecimentos atuais.

A população, que a tudo assiste entre espantada e perplexa, não sabe como proceder, encontrando-se entre a clausura extrema e o relaxamento total das medidas de segurança. Ruas de comércio, shoppings aeroportos e feiras lotadas dão uma mostra de quanto estamos perdidos em meio ao tiroteio geral.

Incrivelmente, temos, à frente do Ministério da Saúde, um general intendente , mas que, por ordens superiores, não pode exercer e pôr em prática seus conhecimentos de logística. A essa altura da batalha, todos os hospitais do país, inclusive os particulares e especializados, que, em tese, não cuidam desse tipo de enfermidade, estão todos reunidos no combate à pandemia.

Não vale aqui citar esses centros de excelência médica que, nessas horas, se fingem de mortos, para não participar do esforço coletivo. Na ausência de lideranças com voz e razão, seguimos na base do improviso, entregando todo o grosso do problema nas mãos de médicos e enfermeiros já sobrecarregados , exaustos e sem recursos.

Os planos de saúde, que neste momento extraordinário,deveriam relevar questões de lucros, só estão agindo por força de medidas judiciais, através de processos de Ação Civil Pública (ACP) que obrigam os planos a prestarem atendimento de emergência e urgência a todos os filiados, mesmo fora do período de carência contratual.

A logística de guerra que outros países puseram em prática para fazer a máquina do Estado dar uma resposta forte à pandemia, por aqui não foi sequer ensaiada. A coordenação desse gigantesco esforço de guerra, que deveria vir de cima, das altas esferas, não veio.

Em lugar algum se viu, até aqui, qualquer desses políticos e outras falsas lideranças em visita aos hospitais, à frente dos pelotões, comandando o esforço de guerra pessoalmente. Estamos sós, entregues ao acaso, ao sabor das correntes e à deriva, em meio à tempestade em alto mar.

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