Na falta de uma política nacional de enfrentamento consistente à pandemia do novo coronavírus — inclusive um programa de vacinação confiável — e com o fim do auxílio emergencial aos trabalhadores mais afetados, o governo será pressionado a propor um novo plano de ajuda aos milhões de brasileiros atingidos pelas restrições econômicas provocadas pela covid-19. Ontem, foi feito o último pagamento do socorro financeiro criado para mitigar os danos econômicos e sociais causados aos desprotegidos, sobretudo os trabalhadores informais.
Com o recrudescimento da pandemia, as autoridades econômicas se verão forçadas a tomar novas medidas de socorro aos menos favorecidos, a exemplo do que fez o governo da maior economia do planeta, a dos Estados Unidos. O presidente Donald Trump, numa rara concordância com a oposição democrata, sancionou um pacote de ajuda no valor de US$ 900 bilhões, o que significa um cheque mensal de US$ 600 para cada norte-americano que tiver renda anual inferior a US$ 75 mil, o equivalente a cerca de R$ 400 mil. Mais: o ocupante da Casa Branca propôs elevar o auxílio para US$ 2 mil por mês, mas não tem o apoio dos colegas republicanos no Congresso. O Senado ainda vai decidir qual quantia será distribuída.
Especialistas concordam que a iniciativa do governo dos EUA representa uma injeção de otimismo no mercado global, diante da perspectiva de uma recuperação mais rápida e sustentável da economia americana. Isso, aliado aos efeitos benéficos da vacinação em massa contra a covid-19, com reflexos positivos em vários países, inclusive o Brasil. Economistas acreditam que, se a vacinação realmente funcionar, o socorro governamental será parte substancial da retomada econômica do gigante do norte.
Com a ampliação da liquidez na economia global, o Brasil poderá ser beneficiado num momento em que se empenha na atração de novos investimentos e tenta refinanciar sua dívida. É fundamental que o país mostre aos investidores capacidade para pagar o que deve. Economistas entendem que o governo acerta ao buscar o equilíbrio fiscal em um ano em que o deficit nas contas públicas, de janeiro a novembro, já bateu em R$ 699,1 bilhões, muito em função das despesas com o auxílio emergencial e do socorro a empresas, estados e municípios.
O certo é que o pacote sancionado pelo presidente dos EUA aumenta a pressão para que o governo brasileiro tome medidas para reduzir os efeitos negativos do avanço da pandemia, caso a economia tenha de ser fechada novamente. Mesmo que venham acompanhadas da elevação dos gastos públicos. O que não significa abrir mão do teto de gastos, maior trunfo do país para a atração de investimentos e a recuperação econômica.
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Uma tragédia de todos
Em pouco menos de 48 horas, 2020 passará a ser história. Engano imaginar que a transição para 2021 represente o fim de um pesadelo que nos atormenta há nove meses, tempo de uma gestação de sentimentos contraditórios. Desde o início da pandemia da covid-19, temos convivido com a solidão, com o medo, com a percepção de finitude e fragilidade da vida. Temos acompanhado o drama de brasileiros, como nós, arrancados para sempre de suas famílias, sem que houvesse a chance de uma despedida minimamente digna. São, pelo menos, 190 mil. É como se pouco mais do que a população inteira de Planaltina (DF) ou de Águas Lindas (GO) tivesse desaparecido. O que torna a tragédia ainda mais cruel é o fato de que os familiares das vítimas são impedidos de viver o luto em toda a sua plenitude. De repente, é como se aquela pessoa amada morresse à míngua, em uma UTI de hospital, sem que fosse possível lhe apertar a mão, acariciar-lhe os cabelos ou dizer “amo você”.
Outra faceta terrível de uma pandemia está na sensação de remorso. Amanhã à noite, milhões de brasileiros participarão de confraternizações. Por algumas horas, viverão o réveillon como se não houvesse risco. E é exatamente aí que mora o perigo. Muitos deles serão infectados pelo coronavírus e transmitirão o Sars-CoV-2 a pais, avós, irmãos ou filhos. Não, amigo leitor, não se trata de um flerte com o catastrofismo. Trata-se de uma lógica inerente a um inimigo invisível que circula pelo mundo e que mata. Imagine perder alguém que você ama e, ainda por cima, sentir o peso da culpa por toda a vida. Uma pandemia exige de nós responsabilidade, cautela e respeito pelo próximo.
Anthony Fauci, coordenador-chefe da luta contra a covid-19 na Casa Branca, advertiu que o pior da pandemia “ainda está por vir”. O infectologista admitiu a possibilidade de “um forte aumento de infectados por causa das viagens de fim de ano e da provável reunião de pessoas”. Como eu afirmei no início deste artigo, 2021 não trará segurança biológica nem declinará as estatísticas de infecções e mortes pelo coronavírus. A fatura da irresponsabilidade de fim de ano, infelizmente, será cobrada em janeiro. E algum grau de “tranquilidade” somente virá quando pelo menos 70% da população brasileira tiver sido vacinada. Para que isso ocorra, é preciso que haja seriedade, visão e comprometimento de um governo que corteja o negacionismo. Amanhã, em vez de queimar fogos de artifício e fazer aglomerações, que tal rezar em memória de nossos mortos? O bom senso agradece.
Sr. Redator
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Polarização
Muitos, no Brasil de hoje, se preocupam, corretamente, com as narrativas belicosas e a polarização política e ideológica diante da politização da crise sanitária que o país atravessa com mais de 190 mil mortos. Devem também se preocupar com os ataques à imprensa e o tom raivoso que predomina nas redes sociais. São tempos exacerbados que, sem dúvida, merecem a atenção de toda a sociedade. E, diferentemente do que se viu em outras épocas, o extremismo político se instalou, por meio do negacionismo, carregado de teorias de conspiração, imprecisões e omissões. A população ainda paga a conta pelo desgoverno da ex-presidente Dilma, em especial no que tange aos aspectos fiscais e regulatórios. O paradoxal de todo esse momento de pandemia que o país agoniza, por mais que nos deparamos com a polarização constante da política, é que devemos avançar em reformas como a tributária e a política, assim como, combater o desemprego e aprimorar a área da saúde. Esse clima de polarização lembra os anos 1950 e o início dos anos 1960, que culminou no movimento que derrubou o governo João Goulart. As narrativas radicalizadas autorizam alguns a temer por um retrocesso democrático. Apesar da temperatura do meio político estar elevada, subindo gradativamente com a pandemia, temos instituições fortes, atuantes e responsáveis, além de múltiplos atores e agremiações políticas comprometidas com a democracia. Inclusive os militares. Reformas com democracia e transparência são do que o país precisa.
Renato Mendes Prestes, Águas Claras
Vacina
Nesse tempo de pandemia, o meu sono sofreu mudança. Durmo pouco. Passo horas meditando sobre a possibilidade de ser infectado pelo novo coronaviírus. Ah! Quando me vem à cabeça a precariedade na saúde pública em nosso país, eu me arrepio. Eu acredito que essa seja, também, a preocupação de milhões de brasileiros. A gente sabe que, por mais que os profissionais da saúde se esforcem para cuidar bem dos pacientes, eles não conseguem, falta tudo. Além dormir mal, comecei a ter sonhos horríveis. O mais recente foi que, pela demora do nosso governo em decidir sobre a aquisição de vacina contra a covid-19, outros países compraram tudo e nós ficamos a ver navios. Ah! Como sofri. Acordei atordoado e gritando para a minha esposa: arrume as nossas malas, viajaremos, para a Argentina na tentativa de lá tomarmos a vacina. Assustada, ela deu-me uns sacolejos e disse-me: “esperemos mais um pouco. Parece-me que o presidente Bolsonaro vai parar com esse lenga-lenga, que só serve para estressar a população brasileira e, em breve, seremos vacinados. “E aí me acalmei. Será que agora vai? Não está dando para esperar. Quanta gente está morrendo! Não é hora de brincar.
Jeovah Ferreira, Taquari
Educação
Tenho lido diversos artigos do professor Cristovam Buarque sobre prioridade da educação. Contudo, considero que o problema maior é a distribuição de renda e a inclusão social. Assim, considero a educação apenas como um dos componentes, devendo ser complementada por outras medidas de desenvolvimento econômico e social. Senão, transformaremos analfabetos desempregados em doutores desempregados, como existem muitos. P.S. Meu filho, engenheiro graduado na UnB, com doutorado nos Estados Unidos, foi trabalhar na Alemanha, por falta de oportunidades por aqui para pessoas qualificadas como ele.
Itiro Iida, Lago Norte
Terras públicas
Em apenas 44 minutos, o Senado, na noite do dia 15 último, aprovou um projeto absurdo que agora segue para votação na Câmara Federal: o que facilita a compra de terras no Brasil por parte de estrangeiros. E chega ao cúmulo de aceitar que sejam vendidos até 25% dos territórios municipais, isto é, 1/4 do nosso território poderá ser vendido, tornando-se terra alienígena onde os brasileiros não poderão entrar, pois será território estrangeiro. O projeto é do senador Irajá Abreu, filho da senadora Kátia Abreu, ex-ministra da Agricultura da presidente cassada Dilma Rousseff. Pergunta-se: a quem interessa um projeto entreguista desses? Senhores ministros do Supremo Tribunal Federal, isto é permitido pela nossa Constituição? Se uma excrescência dessas for aprovada, a China ou outro país qualquer se tornará proprietária de 25% de nosso território. Rogo que nossas Forças Armadas estejam vigilantes e não deixem isso acontecer.
Paulo Molina Prates, Asa Norte
Pode chegar 2021!
Mais uma vez, um ano se aproxima, e com isso muitos sentimentos nos envolvem, com a expectativa de um novo ano com novas possibilidades, pedidos, desejos, renovação, planos, metas... Diante disso um momento de reflexão para acalmar o coração e harmonizar os pensamentos é uma boa opção. Nenhum ano será realmente novo, se continuarmos a cometer os mesmos erros dos anos velhos. Desejo a todos muita paz, alegria e um país mais tolerante. 2021 será um ano de muitas conquistas e vitórias para todos nós! Que 2021 venha logo e traga boas notícias!
Por dias melhores. Deus abençoe o Brasil.
José Ribamar Pinheiro Filho, Asa Norte
Desabafo
Pode até não mudar a situação, mas altera sua disposição
Pelo retrovisor, vejo o futuro do Brasil.
Eduardo Pereira — Jardim Botânico
Não se fala mais no mosquito da dengue. Será que ele sumiu com receio do coronavírus?
Benedito Pereira da Costa — Asa Norte
— O presidente está aí?, alguém pergunta. — Foi jogar bola!, alguém responde. — Quando ele volta?
Só após os fabricantes venderem vacinas para o Brasil! Cerra a cortina: o jogo foi prorrogado por vários meses!
Luis Baldez — Brasília