Este ano foi tão devastador, tão angustiante que, com os desejos de paz, amor e alegria para 2021, estamos externando, também, sinceros votos de vacina contra a covid para todo mundo. Parece surreal, mas doses de imunizantes entraram na nossa lista de anseios para o ano prestes a começar.
Faço parte desse grupo que incluiu a vacina entre os votos de esperança, após meses de calamidade no país — e no restante do planeta — e em meio ao aumento de infecções e mortes — o Brasil caminha para 200 mil óbitos causados pela doença.
Mas, além do freio na mortandade, vejo a vacina com potencial para fazer a diferença na vida de crianças e adolescentes. Se não são tão vulneráveis ao vírus como o restante da população, eles sofrem duramente as consequências da pandemia, principalmente, os mais carentes. Uma pesquisa do Unicef mostrou que a redução da renda das famílias, a insegurança alimentar e as escolas fechadas — reflexos da crise sanitária — abalam, cada vez mais, o dia a dia deles.
O levantamento apontou, por exemplo, que 8% dos entrevistados que moram com pessoas menores de 18 anos declararam que meninos e meninas da casa deixaram de comer, em algum momento, por falta de dinheiro para comprar alimentos. Crianças passando fome!
O afastamento das aulas também contribui para a insegurança alimentar. Entre os entrevistados que recebem até um salário mínimo, 42% deixaram de ter acesso à merenda. Para os alunos em situação de vulnerabilidade, é na escola que conseguem a única refeição substancial do dia.
Há outros impactos preocupantes aí. A escola tornou-se um importante canal de denúncias de abusos físicos e psicológicos. Com o fechamento das unidades e o isolamento social, as vítimas ficaram confinadas com seus agressores, sem meios de pedir ajuda.
Além disso, há o prejuízo que um ano sem escola provocará nos mais vulneráveis, porque a educação é o meio que dispõem de tentar romper o ciclo de miséria em que estão mergulhados. Sem acesso, mesmo remoto, às aulas, eles tiveram um ano perdido. Mais um drama na vida de quem já amarga os mais diversos tipos de exclusão.
Então, se 2020 foi difícil para todos nós, imagine a situação dos mais carentes. Peço a Deus que, neste ano que bate à porta, as vacinas tenham a capacidade de varrer esta pandemia; que o isolamento social chegue ao fim; que as escolas reabram em segurança; que o mercado de trabalho reaja fortemente, neste país de 14,1 milhões de desempregados; que a economia se recupere. Para o alívio de todos nós, mas, especialmente, para o bem de crianças e adolescentes.
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