CRIATIVIDADE

Pensamento criativo e educação no século 21

''Vários países estão se esforçando para combinar criatividade e conhecimento desde a educação infantil até o ensino superior''

CLAUDIA COSTIN - Diretora do CEIPE/FGV
RAFAEL PARENTE - CEO da BEI Educação 

“A criatividade é, agora, tão importante quanto a alfabetização”. A frase é de Ken Robinson, escritor que morreu em agosto deste ano, após lutar contra um câncer. Seu vídeo do TED (Escolas matam a criatividade?) é o mais visto da série, com mais de 66 milhões de exibições. Nele, Robinson lança uma reflexão importante: como o ensino pode promover a criatividade e dar atenção aos interesses individuais de cada aluno ao mesmo tempo?

O que se entende por criatividade vem mudando ao longo dos anos. Durante muito tempo, acreditava-se que a criatividade era uma característica inata de indivíduos geniais. Mais recentemente, no entanto, as pesquisas mostram que todos os indivíduos têm potencial criativo e que ele pode ser exercido em diversas áreas, não estando confinado a áreas artísticas ou científicas.

Diversas razões explicam porque um número cada vez maior de países está incluindo a criatividade no currículo escolar: ela impulsiona o desenvolvimento cultural; a globalização, os avanços de novas tecnologias, pandemias e outras crises fazem da capacidade de criar soluções inovadoras para problemas complexos uma das principais competências para o futuro da vida e do trabalho; é fundamental para que os jovens possam ser felizes em um mundo em rápida transformação, enfrentando incertezas. Sob a perspectiva econômica, a criatividade é um ativo essencial para que os países se tornem mais competitivos, gerem mais empregos e acelerem seu desenvolvimento econômico.

Vários países estão se esforçando para combinar criatividade e conhecimento desde a educação infantil até o ensino superior. Cingapura e Coreia do Sul são bons exemplos de países que enfatizam a criatividade, o pensamento crítico e a formação do caráter em seus currículos. Na Coreia do Sul, as escolas dedicam 10% do tempo total da escola a projetos e outras atividades transversais que estimulem a criatividade.

Nas escolas da Cingapura, criatividade e inovação estão no centro do projeto pedagógico. Os professores desenvolvem critérios comuns para monitorar o progresso dos alunos em pensamento crítico, criativo e inventivo. Os alunos avaliam a si mesmos e a seus colegas, respondendo a perguntas como “Sou capaz de criar várias respostas para chegar à solução de um problema?” (pensamento crítico) ou “Sou capaz de conectar ideias de uma maneira interessante e criativa para criar uma ideia única?” (pensamento criativo).

No Brasil, uma das competências gerais da BNCC é “Pensamento científico, crítico e criativo”, que é descrita como “Exercitar a curiosidade intelectual e recorrer à abordagem própria das ciências, incluindo a investigação, a reflexão, a análise crítica, a imaginação e a criatividade, para investigar causas, elaborar e testar hipóteses, formular e resolver problemas e criar soluções (inclusive tecnológicas) com base nos conhecimentos das diferentes áreas”.

Este é, certamente, um ponto de partida importante, mas insuficiente para garantir o desenvolvimento do potencial criativo de crianças e jovens. Pesquisas nacionais revelam que o professor brasileiro precisa de mais formação e quer ter materiais e metodologias que levem a este fim à sua disposição. Ele tem dificuldade em lidar com a diversidade dos alunos, desconhece estratégias de estímulo ao pensamento criativo e se sente desmotivado frente às condições institucionais de seu ambiente de trabalho.

Para avançar mais rapidamente no desenvolvimento da criatividade dos alunos nas escolas brasileiras, há diversas políticas a serem implementadas, como investir na formação dos professores e na criação de novas formas de avaliação dos estudantes, estimular culturas de criatividade e inovação nas escolas, adotar metodologias e práticas alternativas que promovam a colaboração e a autonomia dos alunos, utilizar o potencial das novas tecnologias digitais, ensinar artes e mesmo redesenhar espaços e ambientes físicos da escola, para que favoreçam criação autoral dos alunos e prototipação de soluções para problemas abordados em aula.

O desenvolvimento do potencial criativo é algo essencial para a vida e o trabalho no século 21. Incluir criatividade na Base Nacional Comum Curricular é um ponto de partida para que o assunto seja levado a sério na escola, mas, para que ele se efetive, deverá ser acompanhado por formação adequada dos professores, materiais e metodologias e por avaliação destas habilidades. Aliás, há alguns anos a OCDE introduziu no Pisa uma prova voltada à criatividade. Por sinal, o Brasil não tem se saído bem na avaliação.

O FGV/CEIPE lançará o documento para orientações de políticas públicas educacionais Criatividade na educação em um evento no dia 4 de dezembro, que contará com a participação de Claudia Costin, Rafael Parente, Débora Garófalo e Luciano Meira. As inscrições podem ser feitas a partir da página de internet do CEIPE: https://ceipe.fgv.br/