O deputado estadual Fernando Cury pode ser muito macho, mas precisa virar homem. O parlamentar da Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) estarreceu o país, flagrado em vídeo com um indecoroso “abraço” por trás na deputada Isa Penna (Psol), que teve o seio tocado pelo “colega” no plenário, bem diante da mesa diretora da Casa. O simbolismo da imagem é chocante e escancara a masculinidade tóxica que adoece o país. Uma pandemia que atravessa séculos, supostamente, sem vacina. O repugnante episódio ocorreu no último 16 de dezembro. O Conselho de Ética, no entanto, analisará o caso apenas em fevereiro. Uma morosidade que pode favorecer o importunador sexual. Se uma punição exemplar não for aplicada, estará comprovada a falência moral daquela instituição.
De forma ampliada, o flagrante na Alesp serve como representação de um dos aspectos negativos mais arraigados na cultura brasileira. No país do futebol, o negócio, desde de pequeno, é tirar onda de machão pegador, mesmo sem consentimento da outra parte. Pobres moços que desconhecem o respeito, a ternura, a nobreza da fidelidade e caçoam dos vanguardistas versos de Pepeu Gomes: “Ser um homem feminino não fere o meu lado masculino”. Quando menino, era comum ver os colegas de rua ou da escola parodiarem a bela canção para zombar de quem não rezasse a cartilha machista. Quanta ignorância.
Felizmente, ainda que de maneira lenta e tímida, a sociedade avança e dá sinais de transformações. Importantes lutas dos movimentos organizados de mulheres foram reconhecidas em leis, forçando uma necessária evolução nas relações humanas no Brasil. E, pelo que se tem notícia, as novas gerações estão longe de se conformar e prometem muito mais barulho. Benditas e louvadas sejam!
Parece-me, no entanto, que esta não é uma luta restrita às mulheres. Seria sensato reconhecer que o sexo masculino está em dívida com a própria essência. Afinal, o que significa ser homem? Onde residirá a galhardia em tempos tão truculentos? Se o ventre de uma mulher foi o primeiro lar de toda a humanidade, respeito é o mínimo que lhes podemos dedicar. Os mais inteligentes, porém, aprendem a viver com elas de forma devotada, prazerosa e feliz, cientes de que jamais existe posse sobre qualquer pessoa. Amor é liberdade e consciência.
E, para aprender, é preciso ensinar. Cabe às famílias e ao Estado, portanto, a tarefa de educar os moços, afastando todo e qualquer resquício de machismo. Os recentes casos de feminicídio, em meio ao período natalino, comprovam a urgência da missão. Para que a mensagem chegue em alto e bom som, a diva Aretha Franklin deve sempre ser lembrada, como cantava no clássico Do Right Woman, Do Right Man: “Uma mulher é apenas um ser humano. Você deveria entender. Ela não é um brinquedo. É de carne e osso, assim como o homem.” Portanto, respeite!
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