As tensões no Golfo Pérsico, região vital para o abastecimento de petróleo ao Ocidente, aumentaram com a decisão do Irã de elevar para 20% o grau de enriquecimento de urânio em suas centrais nucleares. O beneficiamento do mineral a este nível não é suficiente para o desenvolvimento de uma bomba atômica (para ser usado em um artefato nuclear, o mineral precisa de 90% de enriquecimento), mas provocou reações imediatas dos Estados Unidos e de Israel. O premier israelense, Benjamin Netanyahu, chegou a dizer que o governo autocrático iraniano quer desenvolver armas nucleares e que Israel nunca deixará isso acontecer — o Estado judeu bombardeou instalações nucleares do Iraque na época do ditador Saddam Hussein.
A decisão do governo do Irã, comunicada à Agência Internacional de Energia Atômica, causou apreensão na comunidade internacional. Isso porque o país se afasta, cada vez mais, dos compromissos assumidos no acordo nuclear patrocinado pelo ex-presidente dos EUA Barack Obama, em 2015. Outra medida que elevou a tensão no golfo foi a tomada de um petroleiro sul-coreano por barcos da Guarda Revolucionária, ocorrida em meio à escalada militar na instável região. Os EUA reforçaram seu poderio bélico local com o envio de mais soldados e mais caças para a Arábia Saudita, além da permanência do porta-aviões US Nimitz nas proximidades do mar territorial do Irã.
O mundo, agora, deposita suas esperanças no presidente eleito dos EUA, o democrata Joe Biden, que deu sinais de que restabelecerá as tratativas relativas ao acordo sobre o programa nuclear iraniano, rejeitado, unilateralmente, pelo atual presidente, Donald Trump, que deixa a Casa Branca na próxima semana. O pacto foi firmado, depois de intrincadas negociações entre a nação dos aiatolás, os EUA, França, Alemanha, Reino Unido, Rússia e China. O tratado impedia que as atividades nucleares do Irã fossem usadas para fins militares. Em troca, as sanções econômicas impostas pelos países ocidentais foram suspensas.
A questão é bem mais complexa do que parece à primeira vista, não bastando a intenção de Biden de retomar as conversas com o regime autocrático iraniano. A começar pelo próprio presidente americano, que já adiantou que os termos do atual acordo seriam um marco inicial para as conversações. Analistas entendem que o democrata quer colocar na mesa de negociações o projeto de mísseis balísticos do Irã, que, hipoteticamente, podem carregar uma ogiva nuclear. Os aiatolás, por seu lado, não admitem mudanças nos termos estipulados pelo acordo. E, certamente, pedirão compensação financeira por causa das sanções.
O que o mundo espera é que prevaleça o bom senso e que as partes cheguem a um consenso o quanto antes, para que seja restabelecido o equilíbrio em região com potencial de desencadear uma nova e terrível guerra. Não se pode esquecer que Israel, apesar de não assumir publicamente, tem capacidade para a construção de bombas atômicas e teria em seus arsenais, de acordo com especialistas, cerca de 80 artefatos nucleares prontos para serem usados.
Notícias pelo celular
Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.
Dê a sua opinião
O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.