O encerramento das atividades fabris da Ford no país é um forte sinal de alerta para as autoridades apressarem a aprovação das reformas estruturantes, sobretudo a tributária, a tanto tempo reclamada pela sociedade, classe empresarial à frente. Isso porque o Custo Brasil dificulta, sobremaneira, a manutenção de uma empresa em funcionamento, com os riscos para os empreendedores sendo maiores do que em outras partes do mundo. Além de terem de conviver com o intrincado cipoal de leis e regulamentações do sistema tributário, que faz com que as companhias gastem cerca de um terço de sua energia para não cometerem deslizes fiscais e serem autuadas, até criminalmente.
O fechamento de milhares de postos de trabalho — mais de 5 mil no país e na Argentina — com a desativação das fábricas da montadora em Taubaté (São Paulo), Camaçari (Bahia) e Horizonte (Ceará) foi anunciado em péssima hora, quando o número de desempregados formais é de mais de 14 milhões de brasileiros. O grupo manterá fábricas em funcionamento no país vizinho e, no Brasil, permanecem a sede da empresa na América do Sul, o centro de desenvolvimento na Bahia e o campo de provas em Tatuí (S).
A questão é que a indústria automotiva responde por uma grande cadeia de fornecedores e a saída da Ford deve representar duro golpe na produção industrial brasileira. O setor de veículos automotores, reboques e carrocerias, por exemplo, teve crescimento, em novembro passado, de 11,1% em relação ao mês anterior. De se ressaltar que a atividade industrial registrou alta de apenas 1,2% no mesmo período, com as montadoras puxando o desempenho da indústria, de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IGE). A Associação Nacional de Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), por seu lado, projetava crescimento de 15% nas vendas de automóveis, este ano, com saldo positivo de 25%, dados que devem ser revistos.
As reações foram várias depois da decisão da montadora, a começar pelo presidente Jair Bolsonaro. Ele disse que, na verdade, a companhia americana queria subsídios do governo brasileiro, talvez se esquecendo de que o setor automotivo recebe benefícios do BNDES há muitos anos. Só a Ford contratou, junto à instituição financeira de fomento, empréstimos, a juros camaradas, desde 2002, no valor aproximado de R$ 3,5 bilhões. E ainda deve cerca de R$ 335 milhões. O Ministério da Economia se manifestou, por nota, dizendo que “a decisão da montadora destoa da forte recuperação observada na maioria dos setores da indústria do país”.
Dirigentes da Confederação Nacional da Indústria (CNI) destacam que a iniciativa da Ford representa um alerta ao Congresso e aos governantes para que apressem as medidas para redução do Custo Brasil. As lideranças políticas precisam se entender, rapidamente, para a promoção da melhoria do ambiente de negócios, aumento da competitividade dos produtos nacionais no mercado externo e garantia da segurança jurídica. Começando com a urgente aprovação da reforma tributária. O país não pode mais esperar.
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