Visto, lido e ouvido

Desde 1960 Circe Cunha (interina) // circecunha.df@dabr.com.br

Correio Braziliense
postado em 15/01/2021 21:53

Capitulamos

Buscar uma palavra para tentar entender o que vem ocorrendo em Manaus pode não ser um exercício de grande valia nesse momento de aflição, mas forneceria, ao menos, um ponto de referência mais preciso para nos situar perante o país e o mundo com relação à disseminação do vírus e de nossa capacidade real de ação contra essa pandemia.

Mais do que uma calamidade, a situação em Manaus, provocada pela falta de cilindros de oxigênio nos hospitais superlotados com pacientes atingidos pela covid-19 e pelo novo variante do coronavírus, revela, de forma crua, nossa total incapacidade para lidarmos com flagelos dessa natureza, o que nos remete e suscita à expressão pura e simples de uma capitulação.

De fato, fomos rendidos aos primeiros disparos dessa guerra que o mundo trava contra um inimigo biológico e imperceptível aos olhos humanos. Manaus, uma capital com cerca de 2,2 milhões de habitantes, experimenta hoje na pele o que pode vir a ser a realidade de muitas outras capitais espalhadas por esse país continental, bastando apenas que a doença prossiga avançando.

As dezenas de mortes registradas em apenas um dia, por asfixia, expoem, sem retoques, a inépcia de um governo, que no meio do mandato, ainda não encontrou um rumo sequer que possa ser chamado de programa. E, pior, põe em alerta milhões de cidadãos por todo o país diante da possibilidade real desse colapso vir a se repetir, por essa ou por outras falhas e omissões. De qualquer forma, os episódios de mortandade ocorridos em Manaus, por certo, vão figurar nas páginas da história do país, castigado por uma longa sequência de governos incapazes de administrar, de forma minimamente decente, uma nação desse tamanho e importância.

O mais irônico, se é que se pode encontrar ironia nesses casos escabrosos, é que, à frente no combate ao vírus, o chefe do Executivo escalou nada menos do que um general intendente para comandar o Ministério da Saúde, ou seja, a principal pasta envolvida nessa pandemia. O que se pode aferir, pelo visto até aqui, é que a logística para enfrentar essa pandemia falhou de modo flagrante nesse e em outros episódios do passado recentes, o que explica, em parte, o reconhecimento de que nessas primeiras batalhas saímos derrotados.

A questão aqui, nesses descaminhos que nos levaram à insuficiência de resultados para contornar essa crise sanitária, é quanto aos seus resultados políticos, a exemplo dos que ocorreram nos Estados Unidos e que fizeram de uma reeleição certa, uma derrota tumultuada e fora dos padrões.

A virulência da covid-19 ceifou as chances de Donald Trump e colocou, por similitude, a possibilidade de reeleição também aqui no Brasil do atual ocupante do Palácio do Planalto. A negação sistemática de um fator de contaminação real e fatídico trouxe consigo não apenas o descrédito e a desilusão de boa parte da população para dentro do governo, pondo em dúvida à eficácia do atual mandatário em tempos de crise aguda, e, por certo, trarão consequências políticas pouco auspiciosas para seu futuro e continuidade.


A frase que foi pronunciada

“Gosto de brincar de solidão. Poeta é assim: carrega o amor na palma da mão.”
José Carlos Vieira, nosso Fala Zé


Sorrelfa
De repente, justamente as ofertas de material de obra ou sapatos aparecem entre os anúncios que você é obrigado a ver quando navega pela internet. Sabia que seu telefone ou smart speaker captam sua voz e transformam em anúncio? Já não há privacidade há muito tempo.


Necessidade
Entre o Deck Sul e o Parque Asa Delta, é preciso uma faixa de pedestre. A travessia é muito arriscada.


No passado
Parlamentares discutiam a lei que estende para todas as pessoas com deficiência a isenção do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) incidente sobre a aquisição de automóveis. Autoria do senador Romário e relatoria do senador Esperidião Amin. Enquanto isso, o senador Marcos Rogério indagou a razão de seu voto não ter sido contabilizado. O senador Omar Aziz apontou que era digital, o problema. Deve ter desgastado um pouco, disse o senador Marcos Rogério, olhando para o dedo.


Nacional
Leia no Blog do Ari Cunha o artigo do professor Nagib Nassar sobre o projeto de introduzir farinha da mandioca enriquecida para merenda escolar de Pernambuco e Paraná. O diretor da Emater, Sr. Humberto, não se mostrou muito interessado na proposta. Disse que a alimentação da criançada já está bem equilibrada com 1% de proteína. O fato é de tamanha relevância que a ministra Damares ficaria interessada se conhecesse a proposta.


História de Brasília

Desde 31 de janeiro de 1960 que não se move uma palha nos Ministérios, porque as figuras de proa são contra Brasília. Mudem-se os homens, permaneça-se a idéia, respeite-se a lei. E por falar em lei, onde anda, esta hora, o inquérito do “Aletes”.
(Publicado em 24/01/1962)

 

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