Visão do Correio

Confronto de morte

Correio Braziliense
postado em 15/01/2021 21:58

Pelo menos 28 pessoas com covid-19 morreram por asfixia no Hospital Universitário de Manaus, segundo cálculos da imprensa amazonense. Faltou, para elas, oxigênio, um dos principais insumos para manter vivas aquelas que estão sob o ataque do novo coronavírus e teriam chance de vencer a batalha. Mas, não havia nenhuma bolsa de ar que lhes desse chance de derrotar o inimigo. O colapso ultrapassou as limitações impostas pela indisponibilidade de leitos tanto em enfermarias quanto nas unidades de terapia intensiva (UTIs). Faltou o ar indispensável à vida. Mais de 230 pacientes começaram a ser remanejados para outros estados.

O governo alega, em sua defesa, que tem feito o possível e o impossível para mitigar os danos da pandemia. Um argumento envolvido em controvérsias. Entre fevereiro e março do ano passado, quando a pandemia estava instalada no país, as recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS) e dos especialistas nacionais e estrangeiros foram negligenciadas. Medidas, como distanciamento social, uso de máscaras, higienização constante das mãos, foram desestimuladas. Os interesses econômicos falaram mais alto, em detrimento da preservação da vida.

Apostou-se, de forma equivocada, que a crise seria passageira e, rapidamente, superada. Ledo e letal engano. Investiu-se em medicamentos que foram rechaçados pela medicina e cientistas ante a ineficácia para conter os danos causados pelo vírus. Enquanto isso, faltou fôlego às unidades públicas e privadas de saúde. Muitos não sobreviveram na fila de espera por uma vaga em UTI. Mas, no menor declínio da crise, veio o relaxamento social e, com ele, o aumento do estímulo à retomada da falsa normalidade.

Em 11 meses, no Brasil, o vírus matou mais de 200 mil pessoas — o segundo maior número de vítimas do planeta, atrás só dos Estados Unidos — e infectou mais 8 milhões. Hoje, o coronavírus se dissemina em velocidade espantosa, por meio de novas variantes. Ganhou fôlego e se tornou uma ameaça não só para adultos e idosos em situação de risco. Indivíduos entre 10 anos e 29 anos são os alvos mais recentes.

A campanha nacional de vacinação, em caráter emergencial, marcada para começar na próxima quarta-feira (20/1), dependente de sinal verde Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), o que poderá ocorrer amanhã. O órgão ainda avalia os imunizantes da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e do Instituto Butantan, devedoras de informações exigidas pela agência. Mais incertezas à vista. Nesta primeira etapa, a previsão é de que, no máximo, 5 milhões de brasileiros recebam a primeira dose.

O episódio de Manaus foi mais um entre os muitos equívocos ocorridos em meio à pandemia, uma tragédia mundial, na qual não cabe amadorismo, imprevidência, falta de planejamento nem atitudes que subestimem seus danos. Por mais que todos estejam ansiosos pela vacinação, o seu início não mudará o novo normal, exceto quando a circulação do vírus for contida e atestada pelos especialistas. O empirismo e a negligência, até agora, têm sido aliados do vírus. Quando confrontado, ele mata.

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Quando a vida imita a ficção

Vez ou outra, é possível ver uma situação da vida real e perceber que algo semelhante ou até igual aconteceu num filme, numa série ou na narrativa de um livro, que deveria ser apenas ficção. O ano de 2020 foi um exemplo disso. A todo momento, parecia que estávamos imersos numa obra apocalíptica. A covid-19 tomou proporções inimagináveis, dignas de um roteiro irreal.

Um dos primeiros filmes a chamar a atenção pela similaridade foi Contágio, longa-metragem de 2011 do diretor Steven Soderbergh com grande elenco, incluindo Matt Damon, Kate Winslet, Gwyneth Paltrow e Laurence Fishburne. Logo no início da quarentena no Brasil, a produção tornou-se um hit no streaming. O motivo foi a atmosfera de premonição da obra, que retrata o rápido progresso de um vírus letal transmitido pelo ar e que teve início na China, mas acabou sendo levado para o restante do mundo de avião.

Ao longo do ano, outras produções, essas inéditas, surpreenderam por terem sido feitas antes da pandemia do novo coronavírus e terem estreado em meio ao caos pandêmico. Foram os casos de Boca a boca, série brasileira da Netflix sobre uma epidemia transmitida pelo beijo; e Utopia, remake da Amazon Prime Vídeo sobre uma história em quadrinhos que alerta ameaças à humanidade, entre elas, uma pandemia. Na época do lançamento, o produtor-executivo Rainn Wilson falou ao Correio sobre as similaridades: “É absolutamente algo maluco. Fizemos a série em setembro (de 2019). Hoje, vários temas, como a pandemia, o vírus, as conspirações, o obscurantismo, tudo é real. Mas, espero que as pessoas levem para o lado do entretenimento”.

Na semana passada, mais uma vez tivemos a impressão de que a ficção e a realidade se fundiram durante a invasão ao Capitólio, nos Estados Unidos. Extremistas apoiadores do ainda presidente norte-americano Donald Trump tomaram o espaço num ato antidemocrático para impedir a sessão de ratificação da contagem de votos do Colégio Eleitoral, um procedimento cerimonial do Congresso dos EUA para confirmar a vitória de Joe Biden, que tomará posse no próximo dia 20 ao lado de Kamala Harris.

Nas redes sociais, a situação logo foi comparada com O Conto da Aia, livro de Margaret Atwood, que deu origem à série The Handmaid’s Tale, do Hulu e disponível no Brasil pelo canal Paramount e pelo Globo play. No primeiro episódio da segunda temporada do seriado, um flashback mostra um atentado dentro do Capitólio, um dos atos que marcam o golpe nos Estados Unidos, que depois passariam a ser a República de Gilead, um regime totalitário e teocrático em que é ambientada a história da aia Offred/June (Elisabeth Moss).

Na série, o ato foi mais catastrófico, matando o presidente e os congressistas, colocando o exército no comando. Pouco tempo depois, a Constituição foi suspensa e os jornais, fechados, até que o regime mudou completamente. Que, assim como aconteceu em Contágio, que tem desdobramentos diferentes e até menores em relação à pandemia, a invasão do Capitólio tenha um impacto diferente do que foi escrito por Margaret Atwood.

 

 

Sr. Redator

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Museu da Bíblia
Não passa de mais um sofisma a alegação do GDF de que o a construção do Museu da Bíblia não será feito com dinheiro do governo. Os recursos das emendas dos deputados distritais sairá de onde? Trata-se de recurso público para monumento sem amplo debate público e privilegia um único segmento da sociedade, de cunho religioso, em um Estado laico. O pano de fundo desse imbróglio é o interesse eleitoral para captação dos votos dos fundamentalistas em 2022. A quem o governo quer enganar? Será que ainda percebeu que a sociedade está cansada das decisões excludentes? Brasília está lotada de espaços públicos, com valores coletivos, sem nenhuma manutenção, como o Teatro Nacional, e, na periferia, escolas públicas e creches que precisam de reformas, para citar o mínimo. Então, de uma hora para outra, vem mais uma obra absolutamente desnecessária, mas de grande potencial político-eleitoral. Quantos monumentos teremos para cada uma das religiões praticadas no Brasil? Sim, pois o país é ricamente eclético. O que, hoje, está orçado entre R$ 26 milhões e R$ 80 milhões será mais do que quadruplicados. Sabemos que o valor das obras, no DF, cresce exponencialmente — após o início, vêm os aditivos, assim como ocorreu como Estádio Mané Garrincha, para encher as algibeiras de quem tem a caneta. O Museu da Bíblia — nada contra as escrituras sagradas dos cristãos, ausentes da decisão governamental — não faz o menor sentido diante de tantas necessidades coletivas existentes no DF.
Emiliano Gonzaga Lopez, Águas Claras


Crise financeira
“O governo federal tem mostrado dificuldades em financiar a continuidade dos pagamentos emergenciais decorrentes dos efeitos da pandemia. O presidente até desabafou, dizendo que “o país está quebrado”. Pois a crise nas finanças públicas poderia ser uma oportunidade para esse mesmo governo decretar um estado de calamidade (ou outro nome que a Constituição prever) que lhe dê poderes para realizar uma reforma administrativa séria. Poderiam ser executadas algumas medidas que a sociedade reclama há tempos, como a extinção de metade dos municípios e suas respectivas câmaras de vereadores, a diminuição do número de deputados federais e senadores e a demissão da maior parte de seus assessores, a redução dos altos vencimentos do serviço público, como as dos integrantes das carreiras de Estado, a eliminação do transporte oficial de autoridades e políticos. No nosso DF, também o fechamento da Câmara Legislativa. É uma quimera, um sonho, mas o país, se fosse sério, determinaria urgentemente essas medidas.
Hélio Socolik, Lago Sul


O político e o avião
A coluna Visto, lido e ouvido, de ontem, publica uma frase atribuída a um ex-senador potiguar, segundo a qual “político é como piloto de avião: se souber decolar e aterrissar, o resto vai bem.” Pois, ironicamente, eu tive um colega, próspero madeireiro, num curso de piloto privado que fizemos, em Brasília, que também pensava assim, mas, um dia, caiu tragicamente com o seu avião e morreu ao topar com uma condição meteorológica adversa para o qual não se havia preparado para enfrentar.
Lauro A. C. Pinheiro, Asa Sul


Pandemia
Neste tempo de pandemia, quanta tristeza sente a vovó, longe dos netinhos que são os seus xodós. Ela não vacila, evita aproximação, prefere obedecer às normas com medo do caixão. Ela sempre adverte, a minha tia Amparo, que ignora a covid e copia os maus exemplos. Ela sabe que não é uma gripezinha. Do número de mortos ela não duvida. Está ansiosa pela vacina, ela quer mais anos de vida. Ela usa sempre a máscara. Lava as mãos a todo instante. O que ela usa de álcool em gel é coisa impressionante. Ela viu, pela TV alguém comendo um cachorro-quente, quando ele lambeu os dedos e o achou inconveniente. Pra que a vovó abrace os netos, que venha logo a vacina, a matriarca está recolhida desde o dia em que o coronavírus surgiu na China.
Jeovah Ferreira, Taquari

 

 

Desabafo

Pode até não mudar a situação, mas altera sua disposição

Macron quer que os europeus plantem mais soja e menos uva. Obsecado pela Amazônia, estará pensando em ampliar a Guiana Francesa?
Ray Cunha — Brasília


Não seria bem mais sensato a PMDF contratar mais policiais para patrulharem as ruas do que criar a pretensa patente de general?
Ivan T. de Pinho e Silva — Águas Claras


Ô, dó! O conceituado jornalista Bartô expondo a face para ser esbofeteada pelas críticas à espafúrdia ideia de construção do Museu da Bíblia.
Jorge Oliveira — Taquari


Governo do Rio define em lei que o carnaval será em julho. Vírus aquecendo o tamborim para sambar na avenida.
José Matias-Pereira — Park Way

 

Charge

 (crédito: Kleber)
crédito: Kleber

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