EUA

À luz da democracia

''Que Trump e seus asseclas saibam: todo o poder emana do povo. É o povo quem coloca no topo, também é ele quem lança na sarjeta''

Rodrigo Craveiro
postado em 20/01/2021 06:00 / atualizado em 20/01/2021 08:38
 (crédito: AFP / MANDEL NGAN)
(crédito: AFP / MANDEL NGAN)

O semblante egocêntrico, o sorriso artificial e encenado, as declarações divisivas, as políticas xenofóbicas, o flerte tosco com o negacionismo, a empáfia, o ódio. Na manhã de hoje, ao menos nos Estados Unidos, tudo isso começará a se tornar passado. Do alto de sua arrogância e de sua petulância, Donald Trump não participará da cerimônia de posse do sucessor, o democrata Joe Biden. Pouco antes da solenidade, o republicano sairá da Casa Branca para entrar na história da vergonha. O pior presidente dos Estados Unidos e o único a sofrer dois impeachments, o homem que aviltou a democracia e golpeou o Estado de direito deixa o poder com a pior popularidade entre todos os seus antecessores. Leva, consigo, uma era sombria, de obscurantismo e de inação ante mais de 400 mil mortos pelo novo coronavírus.

Que Trump e seus asseclas saibam: todo o poder emana do povo. É o povo quem coloca no topo, também é ele quem lança na sarjeta. Quem mancha a Constituição, encena golpes e trai a própria nação não tem lugar na democracia. Por isso, hoje é dia de celebração para aqueles que prezam o Estado de direito, à luz da soberania popular. Joe Biden ascende ao cargo mais importante do mundo com a promessa de unificar uma nação quebrantada pela polarização política e pela imposição de uma ideologia ultraconservadora que atrasou a vacina contra a covid-19 e cobrou vidas inocentes.

O democrata prometeu que os Estados Unidos vão retomar o papel de farol da democracia e das liberdades. Biden deve começar a passar a boiada (no bom sentido) sobre o legado de Trump. Com decretos executivos, pretende reverter as principais medidas controversas tomadas pelo magnata: a saída do Acordo de Paris, o abandono do pacto nuclear com o Irã, a renúncia destemperada à Organização Mundial da Saúde (OMS). Os Estados Unidos, enfim, recobram alguma lucidez depois de quatro anos de desastre. Biden também vai anunciar nova reforma migratória, transformada em política racista e xenofóbica, e focada na construção de um muro fruto de delírios.

Que o fim da era Trump sirva de lição para aqueles que sonegam o bem-estar da população, que cortejam a morte, menosprezam a ciência e, vez ou outra, têm arroubos de autoritarismo. Que têm o mínimo de simpatia pela democracia e alimentam suas massas famintas com sugestões de retorno à ditadura e ao totalitarismo. Apesar de tudo, o bem sempre vence. Todo o poder reside no povo. E é o povo quem apenas o empresta a seus governantes. Déspotas, tiranos e insensíveis não merecem mais do que desprezo e compaixão.

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